quinta-feira, 28 de abril de 2005

VALEU, BAIXINHO!!!

Image hosted by Photobucket.com

"Romario nao é 9, como foi no Vasco durante o inicio de carreira...
Romario nao é 10, como foi no Barcelona...
Romario é 11!
No futebol, desde 70, so existiu um gênio dentro da area e certamente sera unico!
Parabéns Romario, o baixinho marrento, camisa 11, eterno nos coraçoes dos torcedores brasileiros por tudo o que você fez pelo nosso futebol!"


(Marcelo Fiorito, flamenguista-vascaino, meio campo dibrador e irmao de sangue italiano)

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Beirute antes e depois

Algumas fotos do centro de Beirute, imediatamente apos a guerra e anos depois, com a recontrucao.

Image hosted by Photobucket.com

Image hosted by Photobucket.com

Image hosted by Photobucket.com
Praca Riad El-Solah e o Edificio da ONU, onde eu trabalho.

sábado, 23 de abril de 2005

Crimes contra a humanidade e o futuro da democracia Libanesa

Pensei muito em introduzir este topico aqui, nao soh por ser mega polemico mas tbm porque eh super complexo e mexe com toda a estrutura politica libanesa estabelecida no pos guerra.

O que quero por em discussao eh o assunto do momento aqui no Libano, com a manifestacao que estah ocorrendo hoje nos arredores de Jounieh pelas Forcas Libanesas, movimento radical conservador cristao Libanes. A manisfestacao tem como principal objetivo reividicar a libertacao do lider das Forcas Libanesas, Samir Jeajea, preso sob acusacao de ter explodido uma igreja no bairro de Kaslik apos o fim da guerra.

Sem contar nos meios envolvidos emocionalmente com a questao, quando falamos de Samir Jeajea quase nao se fala se ele deveria estar em carcere ou nao. O que se discute eh por que soh ele? Por que nao estao presos tambem Michel Aoun, Walid Jumblat e cia?

Prisao politica ou nao, Jeajea estah em carcere nao por crimes de guerra e sim por algo que teria cometido apos o fim da mesma. Isso pq em 1991 o governo libanes aprovou a "Lei de Anistia" que exime os criminosos de guerra de responderem pelos seus crimes. Coincidencia ou nao, esta lei foi oficialmente aceita apenas pela Siria.

Um dia desses, por exemplo, conversando com uma autoridade canadense sobre a postura do seu pais contra criminosos de guerra e criminosos contra a humanidade, a ordem explicita eh ao pisarem em solo canadense, serem levados a carcere e deportados imediatamente para seus paises de origem para serem julgados, quando nao (em casos extremos) serem julgados no Canada mesmo.

Eu lhe perguntei entao: "Se Michel Aoun resolvesse ir um dia de viagem para o Canada...?" e ele nem me deixou continuar respondendo "Seria preso imediatamente". O que coloca mais uma vez em discussao a politica internacional francesa em questao, jah que nao eh novidade nenhuma a Franca agindo de forma diplomaticamente hipocrita e mentirosa (vide o ataque frances a embarcacao do Green Peace na Nova Zelandia que terminou na Franca prometendo as autoridades Neozelandesas levar os criminosos a prisao se fossem deportados e os libertando assim que chegaram em Paris).

Trago esses exemplos extremos do asilo Frances a Aoun e da prisao de Jeajea em questao porque com a saida do regime Sirio e o "sol da democracia" comecando a brilhar no Libano, este assunto estah mais do que em pauta. Porque para o Libano se transformar em uma verdadeira democracia, a Lei de Anistia tera que ser revogada e TODOS os criminosos de guerra obrigados a responder pelos seus crimes, como ocorreu na Africa do Sul e Servia, por exemplo.

Nao estou discutindo se Jeajea deveria estar preso ou nao e sim o porque de sua prisao. Eu particularmente acho que com toda essa pressao ele serah libertado em breve. A questao eh que se o Libano se transformar em uma verdadeira democracia, Jeajea deveria mesmo ser libertado e, junto com todos os outros criminosos de guerra, levado finalmente a justica de verdade.

Na Africa do Sul os criminosos contra a humanidade tiveram a opcao de pedir perdao pelos seus crimes e, uma vez assumindo os crimes e pedindo perdao publicamente, eram automaticamente perdoados. Caso se recusassem (como uma minoria o fez) eram levados a julgamento e depois a carcere, onde muitos ainda estao hoje em dia. Algum de voces acreditam que seria possivel ver no Libano os criminosos de guerra indo a TV e assumindo seus crimes e se desculpando?

Onde eu quero chegar eh "ateh onde vc acha que a democracia libanesa vai chegar?"

Teremos realmente um paihs de verdade, onde os criminosos tem que responder pelos seus crimes seja ele cristao, druzo ou muculmano, ou o paihs continuara com essa hipocrisia se fingindo de cegos, com a Franca e o ocidente continuando com essa politica canalha apoiando os mesmos "lideres" politico-religiosos que levaram o paihs a uma terrivel guerra civil continuando a comandar o cenario politico do paihs?

quinta-feira, 14 de abril de 2005

O renascimento de Beirute

Um dia apos o outro Beirute vai comecando a respirar os novos ares de um pais em mudancas. Mesmo com um pouco de receio de novos problemas e intabilidade pelas eleicoes ainda por vir, os libaneses estao finalmente voltando a sair de casa e por fim podendo saborear os frutos colhidos pela revolucao pacifica popular.

Ao que tudo indica, minha analise otimista dos ultimos atentados estava correta e parece que eles realmente chegaram ao fim devido a enorme pressao interna e internacional nos governos Sirio e Libanes. Omar Karami renunciou pela terceira vez e, dessa vez, promete que nao volta mais ao poder, dizendo que acredita que as eleicoes possam ser realizadas em maio, na data marcada.

No fim de semana, depois de muita insistencia e negociacoes, os donos dos restaurantes e bares do centro da cidade decidiram baixar os precos numa super promocao de 50%. Nao deu outra e desde sabado Downtown Beirute estah lotado, com as pessoas voltando a habitar aquelas ruas que desde a morte de Hariri estavam desertas. Era o estimulo que faltava para acabar de vez com o medo do Beirutano e faze-lo sair de casa. E pra quem estah acostumado a ver o centro sempre cheio de gente, eh muito legal ve-lo vivo novamente! Principalmente pq agora nao estah vivo de turistas e sim de Libaneses, que na sua grande maioria nao tem poder aquisitivo para encarar os carissimos precos de Downtown.

Domingo aconteceu uma maratona simbolica, sem premios ou inscricao, aberta para todos que quisessem correr pela liberdade ateh o centro de Beirute. Uma especie de comemoracao pela saida do exercito Sirio e pelo enfraquecimento desse governo Libanes manipulado. Lahoud estah com os dias contados, principalmente se as eleicoes nao forem adiadas.

E ontem, dia 13 de abril, foi criado um novo feriado nacional num dia que eh historicamente triste e tragico para a regiao e que por isso nao deve ser esquecido. No dia que eh tido simbolicamente como o dia do inicio da guerra civil, trinta anos depois se transformou no Dia da Unidade Nacional, numa celebracao da uniao de catolicos, druzos e muculmanos na oposicao, lutando juntos pela liberdade do Libano.

Parece que, junto com o frio inverno que castigou o Libano este ano, o medo e a opressao tambem vao ficando pra tras. O sol e o calor jah chegaram a Beirute e as praias vao enchendo novamente. A impressao que se tem eh que os motivos para sorrir sao cada vez maiores e que a tristeza vai ficando no passado. Os Libaneses estao comecando a perceber que soh depende deles para o paihs funcionar. De que o verao cheio de turistas que parecia perdido ainda pode ser salvo. O sol comeca a brilhar nessa cidade que viveu dois dos meses mais intensos de sua historia recente. Uma historia que comecou triste e tragica, mas que esta tendo um final feliz.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Um excelente texto que li esta semana no The Guardian e resolvi traduzir para colocar aqui. Que visao maravilhosa desse escritor judeu sobre a historia do seu povo!

Precisamos pular para uma mentalidade pos-sionista

John Rose - The Guardian – 02/04/2005

Os lacos historicos e religiosos que ligam tantos judeus a “terra de Israel” justificam o projeto Sionista? A ideia de uma terra natal judaica continua a causar dois problemas. O primeiro eh a negacao dos direitos dos Palestinos, principalmente aos direitos dos refugiados, que veem Israel ser contruida em sua terra natal. E o segundo eh o que “terra natal” significa para a grande maioria judeus que vivem for a de Israel.

Ha uma interessante e pouco explorada ligacao entre estes dois problemas. Resolver o segundo pode contribuir para resolver o primeiro. Mas isso significa que nos judeus ocidentais renunciemos nosso direito automatico de sermos cidadaos de Israel.

Essa posicao segue o ritmo da historia judaica, especialmente e de forma paradoxa, no Oriente Medio. Mais de dois mil anos atras, muito antes da queda do Segundo templo em Jerusalem em 70 DC, o filosofo judeu Philo de Alexandria fez exatamente esta pergunta. “Terra Natal”, patria, seria a terra de nacimento e educacao de uma pessoa. Existia a peregrinacao judaica ao templo de Jerusalem, mas isso significava abandonar sua patria para visitar o que Philo nao chamava de “terra natal” mas sim de “terra estranha”.

Falando disso, a existencia de importantes comunidades judaicas como a de Philo por todo o Mediterraneo e alem, muito antes da queda do Segundo templo, tiram todo o credito do mito sionista do “exilio” que diz que os judeus foram obrigados a deixarem sua terra pelos Romanos, na queda do segundo templo. O sionismo deveria superar a ideia do exilio dois mil anos depois, porque tal “exilio” parece ser mais uma forma “natural” de se adaptar a uma condicao historica.

Mais de mil anos depois, tambem no Egito, tivemos uma extremamente bem sucedida comunidade judaica na recem contruida cidade do Cairo. O professor ShelomoGoitein, um brilhante academico das relacoes Islamicas Arabes-Judaicas, na sua analise dos documentos de “Geniza”, descobertos em uma sinagoga medieval, deixou claro como os judeus da cidade viam sua “terra natal”. Isto eh um ponto alto nas relacoes Islamico-Judaicas simbolizada por Saladin, o maior lider Islamico do mundo, protegendo Cairo dos Cruzados e tambem os expulsando de Jerusalem.

E eh importante lembrarnos que foram os Cruzados Europeus que mataram os judeus em Jerusalem e que foi Saladin que nos chamou para voltar. Mas nos judeus nao tinhamos intensao nenhuma intensao de viver em Jerusalem. Jerusalem era um centro espiritual e religioso, nao nossa “terra natal”. As comunidades judaicas se sentiam “em casa” nas suas vilas e cidades, por todo o mundo Islamico.

Judeus migraram da Europa para o mundo Islamico para escapar dos Cruzados. Os judeus do Cairo prontamente ofereceram ajudas aos seus irmaos de fe. De acordo com Goitein, autoridades Islamicas nunca impediram tal migracao. Que contraste com nossas attitudes “civilizadas” de migracao contemporanea.

Os judeus do inicio do seculo XX no Iraque tem licoes semelhantes para nos. Ateh o dia de hoje, judeus iraquianos mantem e se orgulham da sua historia initerrupta de mais de 2500 anos desde a Babilonia a Baghdad. Aderindo aos movimento nacionalista Iraquiano que expulsou os Britanicos loco apos a primeira guerra mundial, eles certamente nao queriam os sionistas. Menahem Daniel, um notavel judeu de Baghdad, escreveu em 1922: “Voces sao uma ameaca a vida nacional Arabe. Por favor fiquem longe daqui!”

A cultura judaica floreceu como parte da cultura Iraquiana. Mais de um terco dos musicos iraquianos eram judeus. Em 1949, quando a crise entre Judeus Iraquianos aconteceu cinicamente orquestrada por Israel e Inglaterra, assim como pelo governo pro-Ingles, o Jewish Chronicle reportou a seguinte passagem para que os judeus iraquianos aguentasse as pontas: “A tolerancia islamica eh a grande responsavel pelo florecimento da comunidade judaica de Baghdad como centro educacional e de comercio. Eles em nosso lugar ficariam!”

Mas a experiencia judaica Iraquiana seria posta frente a experiencia europeia, que via a necessidade de uma “terra natal” segura como uma especie de compensacao pelo Holocauto. Ainda hoje aqui no ocidente temos a chamada “visao lacrimejante” da historia judaica: de um povo que sofreu durante toda sua historia pela maos dos nao-judeus. Assim como um escritor disse uma vez, estamos frente ao perigo de ter uma cicatriz fazer o papel de uma ferida ainda aberta.

Em verdade, a experiencia judaica europeia eh muito mais complexa do que simplesmente o Holocausto. A resposta aos projetos anti-semitas da Russia Tsarista mais de 100 anos atras merecem um estudo particular. A massiva migracao judaica para a Europa Ocidental e America comecam ai. E onde os sionistas desenvolveram sua base ai. Mesmo com a enorme participacao de judeus na resistencia contra o Tsar, usando sempre a tradicao judaica de solidariedade entre judeus e nao-judeus. O socilist judeu Bund foi um dos pioneiros nessa ideologia, que os sionistas simplesmente nao conseguiam entender.

O valor da solidariedade foi construido pelas promessas do Iluminismo e da Revolucao Francesa, que deram aos judeus o direito de serem cidadaos comuns em suas terras natais.

Nao seria isso a expressao dos judeus em tempos modernos? Nao seriam a comunidades judaicas na Europa occidental e na America modelos iluminados de assimilacao onde podemos expressar nossa identidade judaica, assim como nos sentimos em casa em nossas terras natais?

E a expulsao dos Palestinos apenas reforca esse argumento. Como podemos justificar nosso direito de cidadania israelense quando os palestinos nao tem uma pais?

Uma reconciliacao Arabe-Judaica precisa de um approach alternativo. Uma “fagulha de esperanca” vinda do passado historico das relacoes Arabe-Judaicas no Oriente Medio. Varios israelenses entendem isso. Intelectuais israelenses associados a uma imagem pos-sionista imaginam com confianca uma vida judaica numa regiao sem um Estado Sionista. Um pequeno numero de ex-lideres sionistas, como Mero Benvenisti, ex-prefeito de Jerusalem, concordam. Ele diz qe a revolucao sionista acabou. Ele sugere que acabemos com a lei do retorno, que permite aos judeus de qualquer nacionalidade se tornarem cidadaos israelenses.

Benvenisti diz que ele ama esta terra e que eh uma terra Arabe. Talvez os antigos pensadores Judeus Iluministas que acreditavam na assimilacao estavam muito mais corretos do que imaginavam. Imagine os tataranetos dos judeus Europeus hoje vivendo na Palestina assimilando a cultura arabe, absorvendo e contribuindo para o seu desenvolvimento, em algum lugar desse seculo.

Uma mudanca de mentalidade? Sim, mas nos judeus sempre fomos sempre bons nisso!

John Rose, politico Ingles, eh um dos lideres do Partido Socialista dos Trabalhadores e autor de “The Myths of Zionism” - Email johnrose88@yahoo.co.uk. Texto traduzido por Fernando Kallas.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Precaucao ou Paranoia? De volta a Beirute

Cheguei ontem a Beirute e encontrei uma cidade pouco diferente daquela que deixei duas semanas atras, quando parti de viagem para Espanha e Marrocos. Como era de se esperar, o clima de tensao e medo estah quatro vezes maior, quantificado pelas duas outras bombas que abalaram bairros cristaos da capital libanesa num intervalo de uma semana. Agora jah sao quatro os atentados nesse segundo mes apos a morte de Hariri. Bombas essas sem motivo, alvo ou autor aparente, tendo em comum apenas o fato de terem explodido durante a noite, em locais sem movimento de bairros cristaos.

O paihs estah em panico e os moradores de Beirute aterrorizados. Grupos de homens das comunidades se revesam todas as noites fazendo rondas nas ruas dos bairros, exigindo identificacao para qualquer carro estranho que queira estacionar e revistando pessoas nas portas de edificios, centros comerciais e shopping centers. Funcionarios da ONU e de embaixadas recebem instrucoes de seguranca severissimas, como sair de casa apos o anoitecer, mudar todos os dias o caminho e hora de ida e volta do trabalho, nao usar servicos de transporte publicos e ateh nao subir em qualquer elevador com estranhos. Ainda nao se sentindo segura em apenas fechar o transito do quarteirao em volta do nosso predio, a equipe de seguranca da ONU apaca de contruir uma barricada militar de sacos de terra de quase 10 metros de altura e 3 de largura em volta do edificio, protegido por soldados do exercito libanes. Restaurantes, bares e casas noturnas estao fechando as portas e centenas de pessoas sendo demitidas todas as semanas.

Analisando a situacao atual do paihs, ha duas perspectivas para se ver os ultimos ataques terroristas. A "otimista" eh de que sao ataques isolados em lugares e horarios que causam apenas danos materiais, com o intuito de desestabilizar ainda mais a politica e economia do paihs. Com essa visao, bairros residenciais, locais publicos e movimentados e ataques a luz do dia ficam praticamente descartados, visto que o unico objetivo eh levar o paihs para o colapso economico. Jah a visao pessimista eh bem mais preocupante e eh a que estah levando a todo esse panico e paranoia. Segundo essa perspectiva pessimista, os ataques noturnos e sem grande numero de feridos e vitimas estao servindo apenas para "acostumar" a midia e comunidade internacional com a violencia para que quando os verdadeiros alvos forem atacados, a repercussao nao seja tao grande como a de Hariri. Serah coincidencia o fato de que realmente a bomba de sexta-feira teve uma repercussao na midia muito menor do que a primeira, em Jdeide?

O medo hoje nao eh de guerra civil, pq nao ha um sentimento de odio ou um inimigo claro. O medo hoje eh o mesmo para catolicos, muculmanos, druzos e palestinos: o de terem uma bomba na na esquina da sua casa ou no estacionamento do shopping ou supermercado onde vc faz as suas compras. E o que estah levando a uma revolta nacional contra o governo e autoridades eh o fato de nao se falar nada em investigacao ou na autoria dos atentados. A sensacao que se tem eh que a seguranca do paihs estah entregue nas maos de Deus. E jah que mesmo com todas as diferencas que sempre separaram o povo libanes, pela primeira vez eles se veem unidos nas preces a uma das poucas coisas que tem em comum, a feh em um soh Deus. E ha muita gente dizendo que essa feh pode mais uma vez levar o povo a um levante, mas nao contra eles mesmos e sim contra um governo que nunca os representou.