Atendendo aos pedidos, volto à escrever essa semana... Deixei de escrever pq é tanta desgraça acontecendo no mundo que nao tinha nenhum estímulo de bloguear.
Por isso mesmo vou fugir das coisas sérias e falar sobre algo totalmente sem importancia, a volta de Rocky Balboa!
Sim... Eu esperei ancioso pelo novo Rocky! E por mais ridículo e absurdo que possa parecer, sei que nao fui o único!
Praticamente todo que conheço e que cresceu na década de 80 guarda boas recordaçoes de Silvester Stallone. Seja por Rocky ou Rambo, todo mundo que era moleque nessa época vai se lembrar pra sempre do nosso amigo Balboa subindo as escadas com aquela trilha sonora maravilhosa, ou compatilhou com o colega John Rambo a dor pela morte do seu ex-companheiro de guerra e a raiva por aquele xerife babaca estrelado por Brian Dennehy.
Eu levo esses filmes tao a sério que tenho certeza absoluta que foi Rocky Balboa e nao Mikhail Gorbachev que deu um fim à Guerra Fria, ao nocautear Ivan Drago, conquistar a torcida soviética e dizer a clássica "Se eu posso mudar... se vocês podem mudar... então... TODO MUNDO PODE MUDAR!" no fim da luta!
Outra coisa importante sobre Rocky: Rocky V nunca existiu! NUNCA! A série acabou em Rocky IV. Nao adianta tentar me convencer... Rocky V nunca existiu!
Entao... já dá pra imaginar o que senti quando fui ver hoje o inexplicavelmente explicável sexto (ou melhor, quinto) filme da série?
Sinceramente, nunca vivi uma experiência cinematográfica tao dolorosa como a de hoje.
Os mais patéticos 102 minutos da minha vida numa sala de cinema.
Apesar de que as cenas de luta sao as melhores de todos os tempos, o Rocky sessentao é um amontoado de cenas, diálogos e dramas roubados dos outros 5 (ops, 4) filmes sem nenhum sentido. As coisas simplesmente vao acontecendo, a bola de neve vai crescendo e, quando vc acha que nao poderia ser pior, Stallone consegue surpreender e piorar mais ainda!!!
Me senti péssimo por Silvester Stallone... de verdade. Me senti mal ao vê-lo se submeter a tamanha humilhaçao, num filme que é clara e descaradamente uma tentativa desesperada de se sentir relevante.
Apesar de que Rocky Balboa é de longe o pior e mais lamentável e vergonhoso filme de esportes da história do cinema, todos os fãs de Rocky Balboa estao obrigados a vê-lo.E como eu fui, todos irao.Eu tenho amigos que idolatram tanto os primeiros 4 filmes que iriam ver o 6º mesmo que eu dissesse "Voces ficarao tao deprimidos que ao sair do cinema pensarao seriamente em meter o carro pela contramao durante todo o caminho de casa".
Eles, como eu, estao dispostos a correr esse risco. E aí encontramos a inexplicável explicaçao para que esse filme fosse feito. Sly apostou nessas duas geraçoes de machos enfraquecidos pela idolatria à série e que precisavam ver Rocky de volta aos ringues (mais uma vez!).
E, convenhamos, como poderia ser pior do que Rocky V?!
Até o próprio Sly tenta negar a existência de Rocky V, se recusando a usar o "VI" no título do novo filme e fingindo que tudo foi deixado naquela noite de 1985 na URSS.
Apesar do filme ser uma catástrofe, algumas dessas cenas "roubadas" dos filmes anteriores fazem de pelo menos uns 20 minutos do novo Rocky funcionar pela nostalgia. "Ah, isso era do Rocky II"; "Uau! Eu lembro disso do Rocky IV". Provocam um arrepio ou outro e um sorriso saudoso...
Mas mesmo assim nao dá pra recomendar Rocky Balboa. Por vários motivos.
Stallone está parecendo um boneco de cera. Ele injetou tanto Botox na cara que parece que está vestindo uma máscara de halloween dele mesmo na época de Cop Land. A experiência de ver as cenas de luta com Sly dessa forma é algo totalmente angustiante, já que a sensaçao que se tem é que, com o primeiro murro, a cara dele vai se desfazer! É horrível!
O cunhado do Rocky, Paulie, está no filme. Nao sei se por milagre ou por efeito de computaçao, mas a verdade é que, se ele está vivo, têm aí entre 95 e 135 anos. E por mais que suas cenas sejam muito engraçadas, é duro de acreditar que Rocky ainda pode subir ao rinque quando o seu melhor amigo está como se para internar no Retiro dos Artistas, de frauda e com uma enfermeira ao lado.
Eu odeio ter que dizer isso, mas Rocky Balboa nada mais é que um grande pedido de ajuda.
A impressao que se tem é que Sly usa o tempo todo a história de Rocky, um boxeador esquecido, envelhecido e marginalizado, como um paralelo perturbador da sua própria vida como ator e celebridade.
Em momentos do filme em que Rocky solta frases como "Num segundo eles te amam... no próximo segundo te esquecem", vc se sente como que vendo um documentário, em que é Sly e nao Rocky falando para a câmera da sua própria vida.
Na cena em que Rocky explica para Paulie porque ele precisa de uma luta mais - pq ele sente falta dos holofotes, pq ele quer mais uma chance de terminar as coisas de maneira correta - poderia ser muito bem o próprio Stallone sentado na sala com Burt Reynolds ou Christopher Lambert, explicando pq ele precisava fazer esse filme.
A cena final, com o último aplauso à Rocky/Sly, dá a entender inclusive que esse paralelo entre ficçao e vida real pode ter sido intencional, com a inconfundível trilha sonora e o público dando adeus à um personagem e uma série que deveria ter acabado há 20 anos atrás.
Ao sair do cinema deprimido, vagando perdido pelas ruas do centro de Madri, eu me vi lamentando o caminho tomado por Stallone, desejando que ele tivesse tomado outra direçao. Talvez que tivesse pegado um aviao para o Afeganistao para lutar contra o novo campeao mundial, um imbatível militante do Al Qaeda de 2m de altura e 200kg, que só aceitava lutar pelo título numa caverna remota na fronteira com o Paquistao.
Rocky venceria, conquistaria a torcida do Al Qaeda e daria o discurso "Se eu posso mudar... se vocês podem mudar... então... TODO MUNDO PODE MUDAR!" no fim da luta. Afinal de contas, se ele acabou sozinho com a Guerra Fria, pq nao poderia acabar agora tbm com o terrorismo?
Puts... nao... eu acabei de dar uma idéia para Stallone fazer o Rocky VII... alguém, por favor, me mate!