sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Entrevistando Dana White


Ao lado dos proprietários do UFC, Lorenzo Fertitta (esquerda) e Dana White.

Vai ao ar amanhã, no Sportv, uma entrevista que fiz em Birmingham, Inglaterra, com a personalidade mais importante do mundo das lutas na atualidade, o americano Dana White, presidente do maior evento de lutas do planeta, o Ultimate Fighting Championship.

Eu já havia ido à vários outros eventos de lutas, mas foi meu primeiro UFC... Quem é fã de lutas sabe como ir à um UFC é difícil. A maioria deles acontece nos EUA, em Las Vegas, com entradas caríssimas e que esgotam rapidamente. A oportunidade de ir profissionalmente nunca havia surgido, já que o MMA pra mim sempre foi uma atividade paralela à minha vida de jornalista.

Mas dessa vez a oportunidade surgiu quase que por acaso, numa mescla de atitude e sorte.

Como tive esse período livre após a cobertura das Olimpíadas pela Globonews, fui à Europa para ajudar a levar o resto da mudança da minha mulher da Espanha para o Brasil.

Já havia tentado antes cobrir outros eventos do UFC, mas sem sucesso. Sempre o meu trabalho principal ficava no meio do caminho, fosse ele a Globo, BBC ou ONU. Ficava complicado largar tudo pra fazer algo assim. Mas dessa vez era diferente, eu tinha tempo e, com a criação do Sensei Sportv, a oportunidade perfeita para fazer uma matéria bacana e que valesse a aventura.

Mas para valer a ida não bastaria cobrir o evento, tinha que pintar algo mais... Um furo ou uma exclusiva com alguém importante... Só valeria a pena se conseguisse uma entrevista com o Dana White, presidente do UFC.

Dana White é o maior responsável pela revolução que o mundo das lutas vem passando nos últimos 7 anos. Quando ele convenceu os milionários irmãos Fertitta, seus amigos de infância, a comprarem o UFC, o vale-tudo era marginalizado e ilegal em praticamente todos os estados americanos, comparado inclusive pelo então senador republicano John McCain como uma "rinha de galos humana".

O preço da aposta: 2 milhões de dólares.

No começo, prejuízo. Conversando com Lorenzo Fertitta, ele me disse que nos primeiros dois anos eles pensaram várias vezes em fechar as portas da organização. Mas a influência dos Fertitta entre as comissões atléticas e a insistência e as idéias de Dana White renderam frutos. Primeiro eles fizeram uma série de mudanças nas regras, transformando o antigo vale-tudo no moderno MMA (Mistura de Artes Marciais). Com isso, deram uma cara nova à organização, que foi definitivamente estabelecida com a popularidade do reality show The Ultimate Fighter. A idéia de Dana White de colocar 16 lutadores fechados numa casa estilo Big Brother e treiná-los para que lutassem entre si em cadeia nacional por um contrato final no UFC foi um sucesso absoluto nos EUA, transformando o MMA numa febre nacional.

Enquanto o UFC ganhava cara de esporte e conquistava espaço nos meios de comunicação esportivos como uma espécie de novo boxe, no Japão a principal organização do país, o Pride, pecava em transformar o vale-tudo num show de gosto duvidoso, promovendo lutas bizarras entre uma luta séria e outra. Unindo isso à falta de profissionalismo e às descobertas do evolvimento da máfia japonesa, a Yakuza, com os organizadores do evento, os melhores lutadores foram aos poucos deixando a terra do sol nascente para a nova meca do MMA mundial, os EUA.

Com o trabalho sério e profissional, com visão de mercado e planejamento estratégico digno das melhores ligas de esportes profissionais do mundo, o UFC conseguiu tranformar o MMA no esporte que mais cresce em popularidade no mundo hoje em dia.

A organização hoje vale cerca de US$1 bilhão de dólares e as vendas de pay per view já ultrapassam as 5 milhões de compras anuais. Os quase 300 atletas empregados pelo UFC ganham em média US$100 mil por ano e as grandes estrelas tem um rendimento anual na casa dos milhões. A organização já fez diversos eventos no Reino Unido e tem planejados eventos na Alemanha, Finlândia, Filipinas, Austrália e Itália para o ano que vem, sendo que o Brasil entra no calendário em 2010.

Com a popularidade do MMA e do UFC nos EUA, Dana e os irmãos Fertitta se transformaram em celebridades quase inacessíveis. Por isso a importância de se conseguir uma entrevista com eles, hoje em dia um privilégio de poucos.

Já na Espanha, com a ajuda da colega Clarisse Granadeiro e do empresário Marcelo Tetel, que iria ao evento com o Luiz Arthur Cané ("Banha"), consegui um contato com os organizadores do evento. Em contato com o UFC, descolei as credenciais, comprei a primeira passagem para Inglaterra e parti, sem saber se a entrevista sairia ou não.

Cheguei na quarta-feira à noite, três dias antes do evento. Geralmente a semana de um UFC é cheia de atividades dedicadas aos fãs e à imprensa especializada. Na quarta, rola um treino aberto onde os lutadores dão uma primeira impressão sobre como estão para os confrontos do sábado. Na quinta, uma coletiva de imprensa. A sexta-feira é um dia dedicado aos fãs, com as pesagens abertas ao público e com perguntas e respostas dos fãs com os atletas e com Dana White. E o mais engraçado é que a grande estrela é mesmo o presidente do UFC, que responde a TODAS as perguntas da platéia sem nenhum constrangimento, num bate papo super descontraído e que dura quase duas horas e conta com aproximadamente mil e quinhentos fãs.

Eu fui na cara e na coragem porque sabia do interesse do UFC em divulgar os eventos internacionais. Hoje a expansão internacional do UFC é o maior objetivo da organização e, se a possibilidade de fazer uma exclusiva com Dana White fosse possível, seria num evento como esse, no centro da Inglaterra, sem pay per view e com atletas pouco conhecidos.

Acordei na quinta de manhã, coloquei a câmera e o resto do equipamento nas costas e parti para a coletiva do lutadores. Chegando lá, fui recebido por uma das cabeças do evento na Inglaterra, que por coincidência é de família armênia e tem uma irmã nascida no Líbano. Como eu morei dois anos em Beirute foi fácil a conversa fluir e ela se mostrou super interessada em ajudar a conseguir a exclusiva.

No meio da conversa se aproxima um senhor barba grisalha ao qual sou apresentado: Marshall Zelaznik, chefe de operações do UFC na Inglaterra. Enquanto me apresentava chega do outro lado um outro sujeito impaciente, perguntando quando começaria a coletiva. Era Dana White. Neste momento, minha nova amiga armênia me apresenta: "Dana, esse é Fernando Kallás, que veio do Brasil para fazer uma entrevista com você." Dana deu uma gargalhada seguida de uma expressão que, traduzida para o português seria um "Você está de sacanagem?!". Eu disse que não, que estávamos batalhando para mudar a imagem do esporte no Brasil e dar a devida importância aos lutadores brasileiros no país de origem. "Claro que eu dou a entrevista", disse ele estendendo a mão. "Cadê o seu equipamento? Vamos fazer agora mesmo!"

Eu tomei um susto, porque não esperava que fosse rolar naquele dia. Eu tinha feito um esboço das perguntas, junto com algumas idéias do Mário Filho e da Ana Hissa, criadores do Sensei, mas que estavam no hotel, no meu laptop. Mas a oportunidade não bate duas vezes na porta e fiz assim mesmo, na cara e na coragem. No final, um bate papo de quase uma hora que você vai poder conferir, editado, no Sensei Sportv deste sábado, dia 6 de dezembro, à meia-noite.

Pessoalmente, Dana White não faz juz a fama de arrogante, pelo contrário. Foi extremamente simpático não só durante a entrevista mas também em todas as outras vezes que nos encontramos até o fim do evento, no sábado. É sincero, carismático e tem uma espontaneidade rara entre celebridades. Vai ver a fama de arrogante vem daí, de não ter papas na língua e falar o que pensa. Se você pisa no calo ou na bola com ele, vai ouvir o que não quer. Mas no meu caso, a personalidade e disposição de Dana White funcionou sempre de forma positiva. Durante quase uma hora de entrevista, ele não deixou de responder uma pergunta sequer, sempre de forma clara e direta. Na entrevista dá pra notar o interesse dele no mercado brasileiro que, na minha opinião, será atacado por eles de forma cada vez mais agressiva nos próximos dois anos.

Portanto, se você é fã de lutas ou de esportes em geral, vale a pena conferir o Sensei Sportv com a entrevista especial com Dana White. Isso porque pode ser a primeira de muitas vezes que você verá esse sujeito em terras brasileiras.

Abaixo, o programa na íntegra: