quinta-feira, 5 de abril de 2018

Klopp e uma revolução que nunca quer acabar

 

No dia 22 de junho de 2014, depois da segunda rodada da Copa, eu escrevi no As o artigo abaixo. 

E é incrível como, voltando a ler esse texto, ele praticamente resume a vitória arrasadora por 3 a 0 do Liverpool ontem contra o Manchester City.

Eu explicava como Klopp encontrou a fórmula para vencer o tiqui-taca, o estilo de jogo inventado por Luis Aragonés na Seleção Espanhola e aperfeiçoado pelo Pep Guardiola naquele genial Barcelona bi-campeão europeu.

Quatro anos se passaram, ambos mudaram de time, mas a rivalidade entre o futebol de posse de bola e o vertical de alta velocidade continua. Leia e comente:

Como o tiqui-taca e o Borussia de Klopp trouxeram de volta a alegria ao futebol

Quando eu descobri, menos de um mês antes da Copa, que viria ao Brasil cobrir o torneio, nunca imaginei que meu primeiro Mundial seria um dos mais emocionantes de todos os tempos.

Pelo menos até agora, fim da segunda rodada. 

O tal "futebol das antigas" parece ter renascido de um estado de hibernação. A Copa do Brasil é pura alegria. Voltaram os gols, a imprevisibilidade, as viradas, o lá e cá... e tudo isso num ambiente de festa latino que trouxe de volta à uma Copa a pressão da arquibancada. 

Agora, de onde surgiu tudo isso? Como é que, “de repente”, voltamos a ver o jogo bonito numa Copa do Mundo?  Esse fenômeno que estamos vendo aqui no Brasil se deve basicamente à mistura de dois fatores. 

O primeiro é a Espanha, que através do tiqui-taca conseguiu vencer os ferrolhos armados na Copa da África com um futebol técnico e com classe. Revalorizou a categoria dos jogadores e trouxe de volta o valor de se jogar com a bola nos pés, coisa que só quem sabe jogar pode fazer. Dominou o futebol mundial durante seis anos, com a seleção e o Barcelona, e obrigou aos rivais encontrarem uma forma de vencê-los. 

Para nossa sorte, a receita não veio do futebol brucutu e do anti-jogo. Veio de uma forma ainda mais ofensiva e e agressiva de jogar bola. O arquiteto da resposta foi Jürgen Klopp, um alemão simpático, de sorriso largo e madeixas loiras ao vento, que parece mais um ator de Baywatch que treinador de futebol.  Com o Borussia Dortmund, ele mostrou ao mundo que jogar no contra-ataque não significa jogar na retranca. Pelo contrário. Sua ideia está na aposta cega pelo futebol coletivo levado ao extremo, onde todos os jogadores que estão em campo tem que participar tanto na marcação quanto na criação das jogadas. 

Klopp apostou na movimentação, a velocidade e a pressão constante com dois, três, quatro e até cinco jogadores onde está a bola, para roubá-la do rival antes dele conseguir impor seu ritmo e, em seguida, usar a triangulação e as bolas em profundidade, principalmente pelas laterais do campo, para romper as linhas defensivas, aproveitando o momento de fraqueza do rival. Sempre de maneira vertical e com um alvo claro: o gol. É uma proposta que exige comprometimento total do time com a filosofia tática. Todos tem que comprar a ideia e ter fôlego, por isso sempre apostou por jogadores jovens e de talento. 

Foi como o Borussia venceu o Real Madrid na semifinal da Champions de 2013 e como o próprio Real Madrid destruiu o Bayern esse ano.

Ou como o Brasil venceu a Espanha na fina da Copa das Confederações. 

Essa revolução trouxe de volta os pontas e obrigou os times europeus a estarem no seu apogeu físico.  E por isso vemos hoje, mesmo no calor daqui do Brasil, times correndo como loucos mesmo no final do segundo tempo. Por isso não surpreende ver o time trazido por Felipão, de incansáveis operários no meio de campo. 

Se estamos vendo uma Copa maravilhosa dentro de campo, é graças à aposta pelo futebol bem jogado na Europa. E a mescla de duas escolas que mudaram a forma de jogar nos últimos anos. O Brasil tem que agradecer aos baixinhos talentosos de Luis Aragonés e aos jovens velozes e famintos por de bola e por gol de Jüergen Klopp por poder ver de volta aos nossos gramados um futebol que quase tínhamos esquecido como era.