sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

Acabei de deixar Mario, um amigo argentino, no Aeroporto. Ele tinha chegado dos EUA (onde estuda) na terça-feira e só passou por aqui para dar um alô. Ontem foi um dia muito casca grossa prá ele... Como todo argentino ele ama muito o seu país e hoje a única coisa que ele queria era voar para Buenos Aires para estar com sua família. Ontem estávamos todos aqui em casa, preparando o churrasco para acompanhar o jogo do Flamengo, quando a confusão toda começou. Eu estava temperando a carne na cozinha enquanto o Mário, Vini, Otavio (amigos brasileiros) e o Alex (amigo americano) estavam no segundo andar acendendo a churrasqueira e arrumando as coisas. O telefone tocou e era outro amigo nosso perguntando se ia mesmo ter o churrasco. Eu me espantei e falei "Claro, cara! Por que não teria? Afinal de contas, é final de campeonato!". E ele me perguntou aquela clássica "Cara, você não tá sabendo???!!!! A Argentina tá quase em guerra civíl. Eles acabaram de decratar estado de sítio na Grande Buenos Aires!!!".

A essa hora o jogo já era secundário. Liguei a TV e as imagens eram inacreditáveis. Gritei a galera mas eles não acreditaram... acharam que era brincadeira, principalmente o Mário. Ele achou que era alguma clássica sacanagem de brasileiro com argentino, que a gente sempre faz. De frente para a TV, ele demorou uns 30 segundos para entender que não era brincadeira. Depois, se sentou no chão com a mão na cabeça repetindo "No... no creo!". Realmente foi uma situação desagradável... Principalmente porque a auto estima do argentino já estava baixa e ele estava muito amarradão com nossos planos de passar uma semana com ele em Buenos Aires, em janeiro.

Em seguida ligou para seus pais e tudo estava bem... Espero que essa confusão toda se resolva, que sua família fique bem e que a Argentina encontre novamente o seu caminho. Numa hora como essa, devemos esquecer as richas e pensar no ser humano, pois é ele quem sofre com isso tudo, independente da raça ou da classe social. Nenhum ser humano, nem mesmo um argentino, merece a miséria.

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