sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Se você (ou eu) fosse palestino

Traduzido por mim do original escrito pelo ex-político e articulista Yossi Sarid, publicado no jornal israelese Haaretz.

Essa semana eu conversei com meus alunos sobre a guerra contra Gaza, durante uma aula onde o tema era segurança nacional. Um dos estudantes, que já havia demonstrado outras vezes ter uma ideologia mais conservadora e de direita, me surpreendeu. Sem nenhum tipo de estímulo ou provocação da minha parte, ele abriu o coração e confessou: “Se eu fosse um jovem palestino” disse ele “Eu lutaria contra os judeus com todas minhas forças, usando inclusive técnicas de terrorismo. Qualquer um que diga o contrário é um mentiroso.”

A declaração dele me soou familiar – não foi a primeira vez que a ouvi. Há mais ou menos 10 anos atrás, o nosso então ministro da defesa, Ehud Barak, disse o mesmo. Quando perguntado pelo jornalista do Haaretz Gideon Levy o que o então candidato a primeiro ministro seria se ele tivesse nascido palestino, Barak respondeu com toda a franqueza: “Eu teria entrado para alguma organização terrorista.”

Essa resposta não é a minha; terrorismo praticado por indivíduos ou por organizações ou estados sempre mira exatamente nos civis que nada tem a ver com o sangue derramado. O terrorismo não só é cego – sugando a alma do santo e do pecador – como também faz expandir a tensão e a cabeça quente, com o sangue subindo à cabeça de um número cada vez maior de pessoas: nosso sangue na cabeça deles, o sangue deles na nossa cabeça. E quando o sangue de gente inocente começa a ser derramado, quem é que vai vingá-lo por inteiro, e quando?

Eu odeio todos os terroristas do mundo, seja qual for o motivo da sua reividicação. No entanto, eu apoio qualquer tipo de manifestação civil contra qualquer ocupação, e Israel é um desses ocupantes desprezíveis. Minha revolta é enorme, mas não faz extinguir em mim nenhuma gota de humanismo. Vai ver eu sou um velho excentrico demais para ser um terrorista.

Mas, e preste atenção nesse mas, se um garoto israelense comum tem uma resposta espontânea que é diferente da minha, e se a mesma resposta também veio de um general veterano do exército israelense, então todos nós temos que parar para pensar como se o nosso próprio filho estivesse do outro lado. Se a situação fosse ao revés, seu tão querido filho hoje seria um maldito terrorista, porque sendo terceira e quarta gerações de refugiados e oprimidos, esse seria o caminho para a libertação. Ele não teria nada a perder senão as algemas.

Enquanto isso nós, seus pais, estaríamos em casa lamentando o adeus do filho porque ele nunca mais voltaria para ver a terra onde nasceu. E nós também só voltaríamos a vê-lo na foto pendurada na parede, como um martir da ocupação. Nós tentaríamos detê-lo de dar continuidade em seus planos? Mesmo se quiséssemos, seríamos capazes? Não entenderíamos tais sentimentos que o levaram a medidas tão extremas? O que Ehud Barak entendeu naquele dia - que para nós é tão difícil de entender?

Jovens que não tem futuro irão abrir mão facilmente do futuro que eles não conseguem enxergar no horizonte. O passado como criança de rua e o presente como um imprestável desempregado acabam com qualquer possibilidade de esperança: a sua morte é melhor do que a sua vida, e a sua morte é ainda melhor que as nossas vidas, como opressores – é assim que eles se sentem. Desde o dia em que eles nascem até o dia da sua morte, eles vêem uma terra onde nunca viverão em liberdade.

Não há pessoas boas ou más; há apenas lideranças que agem de forma responsável ou insana. E agora nós estamos lutando contra um grande números daqueles que poderiam muito bem sermos nós, estivéssemos na situação deles por 41 anos e meio.

2 comentários:

Caio Ferri disse...

Achei seu blog bem culturalmente interessante! vou estar sempre aqui agora :D
Segunda feira protesto em Reykjavík - aqui na Islándia.
Espero que as coisas melhores!

Anônimo disse...

A paz definitiva em Israel não será somente após o grande Armegedon? Se bem que todos devem se unir para obtê-la