quarta-feira, 22 de agosto de 2001

‘Silêncio sobre seqüestros só beneficia seqüestradores’

O GLOBO decidiu não atender ao pedido do empresário Silvio Santos, no sentido de que não se noticiasse o seqüestro de sua filha, em obediência a decisão tomada em 1990, quando era intensa a onda de seqüestros no Rio. Verificou-se na época, e não foi desmentido até hoje, que o silêncio sobre seqüestros só beneficia os seqüestradores — e é exatamente por essa razão que eles pressionam as famílias de pessoas seqüestradas, exigindo um apelo que é apenas do seu interesse.

Quando a população ignora o seqüestro, torna-se extremamente difícil a denúncia sobre ações suspeitas e principalmente sobre a localização de cativeiros. Independentemente disso, a sociedade é mantida na ignorância sobre uma atividade criminosa que tem o direito de conhecer, para melhor se proteger. Isso fundamenta a decisão do GLOBO, da qual evidentemente não cabe qualquer exceção.

Em 4 de julho de 1990, o GLOBO explicou suas razões neste editorial de primeira página:

“Tornou-se evidente que o seqüestro por dinheiro é hoje gravíssimo problema social no Rio de Janeiro. Um problema para o qual a sociedade como um todo ainda não encontrou resposta adequada — uma resposta que intimide e faça recuar o crime organizado.

“Nessas circunstâncias — e levando em conta, ainda, que outros veículos de comunicação têm dado divulgação a seqüestros, tornando o silêncio inócuo — O GLOBO considera de seu dever contribuir para que essa reação necessária e urgente se produza. Assim, passará a fazer a sociedade ciente do que está ocorrendo.

“Não abandonaremos, obviamente, nossa preocupação com a segurança das vítimas de seqüestros, e o noticiário a respeito omitirá qualquer informação que dê alento e ajuda aos bandidos ou que aumente os riscos para os seqüestrados.”

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