quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Ontem vi "Elephant", de Gus Van Sant.

Não quero entrar nos méritos dele ter merecido ou não ganhar o festival de Cannes, até pq não vi Dogville, Mystic River, Uzak e As Invasões Bárbaras, os outros principais concorrentes. Me atenho apenas à bela obra de americano Van Sant.

Com um olhar distante, frio, quase que contemplativo, o diretor reconstrói as últimas horas antes do massacre do Colégio Columbine, quando dois alunos secundaristas mataram dezenas de colegas e professores.

Apresentando os personagens em enormes (e lindos) planos-seqüência, com uma estrutura narrativa circular, ele faz com que o espectador praticamente viva aquele dia! Faz com que ele esqueça a câmera e se sinta dentro mesmo do colégio. Sem fazer julgamentos, sem construções psicológicas dos personagens ou mesmo sem uma conclusão, ele simplesmente mostra o dia do massacre, como qualquer um que estivesse lá ou estivesse acompanhando a vida de cada personagem veria... Não há "o despertar da violência" ou coisa parecida... e é aí está o mais chocante: que tipo de sociedade é essa em que uma coisa dessa pode ser comum?

É a sociedade americana, a que se vê no filme... colégios enormes, onde os alunos mal se conhecem, vivem suas vidas completamente distantes uns dos outros... uma solidão absurda... uma inversão de valores... tudo muito vazio... frio... distante... Fantasticamente passado pela câmera de Gus Van Sant.

"Elefante" é um retrato perturbador da sociedade americana... que se faz chocante pelo simples fato de não chocar!

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