quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Assassinato transforma Beirute em cidade fantasma

Fernando Kallás
De Beirute - BBC Brasil


O assassinato do ministro da Indústria do Líbano, Pierre Gemayel, transformou Beirute, que até a manhã desta terça-feira se preparava para as comemorações do dia da independência libanesa, em uma cidade fantasma.

Ao invés do clima festivo, a capital do Líbano foi tomada pela revolta, pela tensão e pelo medo e passou o dia com as ruas desertas e o comércio fechado.

Gemayel foi morto vítima de uma emboscada no bairro de Gedeide, região norte de Beirute. Um atirador não identificado atingiu seu carro com vários tiros e fugiu do local sem deixar rastro. Momentos depois da morte de Gemayel, outro ministro libanês teria também sido vítima de uma tentativa de assassinato.

Segundo fontes do governo, o escritório do ministro de Relações Parlamentares, Michel Faraoun, foi atacado a tiros de metralhadora por um carro em movimento, que também fugiu sem ser identificado.

Simpatizantes da Falange Libanesa, partido do qual Gemayel era um dos líderes, saíram às ruas do centro da cidade e fecharam uma das principais avenidas da capital com objetos em chamas. Sobrecarregada, a rede telefônica ficou inoperante durante quase uma hora, aumentando ainda mais a angústia daqueles que buscavam saber se parentes e amigos estavam bem.

Os traumas deixados pelos bombardeios israelenses e o medo de novos conflitos com a sempre instável divisão religiosa e política do Líbano só fizeram aumentar o choque e a intensidade da reação à morte do ministro.

Tradição política

Líder influente em grande parte da comunidade cristã libanesa e herdeiro de uma família de forte tradição política no país, Pierre não foi o primeiro Gemayel a ser assassinado. Seu tio, Bashir Gemayel, foi morto dias depois de assumir a Presidência, em 1982, durante a Guerra Civil que durou cerca de 15 anos. Com a morte de Bashir, o pai de Pierre, Amin Gemayel, assumiu a Presidência e governou até 1988.

Pierre Gemayel apoiava o governo do primeiro-ministro Fouad Siniora, era grande opositor do governo sírio e militava pela implementação de um tribunal internacional para investigar a morte do ex-primeiro-ministro Rafiq Hariri.

O filho de Hariri, Saad Hariri, foi um dos primeiros a se pronunciarem sobre a morte de Gemayel.

"Hoje um dos grandes militantes por um Líbano livre e democrático foi assassinado. E tudo nos leva a crer que a Síria está por trás de tudo isso", disse Saad Hariri, membro do Parlamento libanês.

"O povo libanês não vai desistir na luta pelo tribunal internacional. Pelo contrário, vamos levar a justiça aos que mataram Pierre Gemayel."

Oposição

Com a morte de Gemayel, a tensão entre governo e oposição aumenta ainda mais, já que a situação no país era muito delicada desde a semana passada, quando seis ministros oposicionistas renunciaram em protesto contra o governo.

A oposição, formada pelos partidos xiitas Amal e Hezbollah e pelo Partido Laranja, movimento cristão liderado pelo ex-presidente e general Michel Aoun, pedem a renúncia de Siniora e a formação de um novo governo.

Os oposicionistas argumentam que o governo tem de ser representativo de todos os partidos libaneses. Os protestos vêm do fato de que o atual governo se recusa a dar à oposição os ministérios que seriam equivalentes à sua participação parlamentar, de 44%.

A situação agora na capital libanesa é de enorme apreensão. A segurança foi redobrada e o Exército toma conta das ruas. Ainda não se sabe se as festividades do dia da independência vão acontecer normalmente nesta quarta-feira. Mas a noite de terça-feira prometia ser longa para aqueles que esperavam o próximo capítulo de uma série de conflitos que parece não ter fim.

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