sexta-feira, 26 de junho de 2009

"What is the problem with Michael Jackson?!"

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Michael Jackson morreu e enquanto todos jornais, TVs, sites e revistas estão lembrando do quão talentoso ele era, eu prefiro pedir um momento de reflexão relembrando um grande filme dos anos 90 que usou o cantor para questionar o rumo da sociedade americana.

Em Três Reis, filme extremamente crítico sobre a Guerra do Golfo dirigido por David O. Russell e estrelado por George Clooney, "Marky" Mark Wahlberg e Spike Jonze, há uma cena em que o personagem de Wahlberg, o soldado americano Troy Barlow, é torturado por um soldado iraquiano que, durante a tortura, usa repetidamente a surreal questão existencial com uma tranquilidade angustiante:

"Qual é o problema com Michael Jackson?"

A mesma estrela que, ao gravar "We Are The World" em 1985, foi vista como um símbolo de solidariedade, em 1991 se transformaria na imagem do que há de errado com os EUA. Que ironia.

"O seu país o fez destruir o próprio rosto" diz o soldado iraquiano (representado pelo franco-marroquino Said Taghmaoui) para o prisioneiro. "Michael Jackson é o rei do pop de um país doente. Um homem negro muda a cor da sua pele e alisa o cabelo e você quer saber porque? O seu país doente fez um homem odiar a si mesmo por ser negro assim como está fazendo com os árabes e crianças que vocês bombardeiam todos os dias." completa.

Dois mundos totalmente diferentes se encontram numa pequena sala, em meio à uma guerra, através de um dos maiores ícones da dominância global da cultura pop americana, com alusões à racismo contra negros e árabes e aos esteriótipos dos padrões de beleza.



Acho válida a lembrança não só pela morte do cantor, mas também por uma série de fatos que vêm acontecendo nos EUA e que pouco são noticiados pela grande mídia.

Desde o surgimento de Barack Obama como forte candidato, uma série de ataques de extremistas de direita dos EUA vêm despertando temores de uma nova onda de violência, inflamada pela crise econômica e pela eleição do primeiro presidente negro do país.

Nos últimos meses teve início uma série de tiroteios contra alvos que vão desde clínicas de abortos, uma igreja liberal e policiais, ataques estes insuflados por uma poderosa mistura de ódio racial e teorias da conspiração vindas, principalmente, do canal Fox News.

Em dezembro, no Maine, a polícia encontrou em uma casa material nazista, materiais e instruções para construir uma bomba e quatro barris de material radioativo. Em janeiro, um dia após a posse de Obama, um homem branco saiu disparando na rua contra negros, matando dois. Em abril, um homem matou dois policiais na Flórida por estar gravemente perturbado com a eleição de Obama. Na Carolina do Norte, um ex-fuzileiro foi preso com um plano para matar Obama e material de propaganda sobre supremacia branca. Há duas semanas, um médico de abortos foi alvejado em uma igreja por um ativista antiaborto. No Tennessee, um caminhoneiro desempregado matou duas pessoas em uma igreja porque a tal igreja "era muito liberal e amiga dos gays". O caso mais recente foi a de um senhor que atirou contra um segurança negro do Museu do Holocausto, em Washington, e depois tentou se suicidar. Ele escreveu uma nota dizendo que "o holocausto foi uma mentira e que Obama foi criado por judeus".

Já a Fox News acusa constantemente o Obama de ser socialista, comunista e uma ameaça à democracia americana. As teorias da conspiração vão desde que Obama estaria construindo "campos de concentração" para seguidores republicanos à de que o presidente estaria preparando uma reestruturação da leis de armas. O tema das armas é tão sério que, depois que a emissora divulgou essa teoria, houve uma escassez de munição nas lojas de todo o país pq os defensores das armas passaram a estocar balas. O problema chegou a um ponto tão grave que a própria polícia teve que racionar seu suprimento de munição.

E o que Michael Jackson tem a ver com tudo isso? Pergunte ao soldado iraquiano...

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