O que seria do esporte sem uma boa rivalidade?
Fla x Flu, Corinthians x Palmeiras, River x Boca, Real x Barça, Borg x McEnroe, Celtics x Lakers, Frazier x Ali, Yankees x Red Sox...
A rivalidade inflama as torcidas, infla os noticiários e é a maior amiga da audiência. Mas quando o rival se torna uma espécie de algoz, ele vira um pesadelo na vida de qualquer torcedor apaixonado. É só perguntar pra qualquer vascaíno quando encara um flamenguista.
Uma rivalidade parecida a que existe entre o San Francisco 49ers e o Green Bay Packers, criada nos anos 90.
Packers e Niners são dois dos times mais tradicionais da NFL. Juntos, eles somam 20% dos títulos do Super Bowl (9 de 46). O time de Wisconsin é o terceiro no ranking de vitórias nos playoffs (30), seguido do time do norte da Califórnia, com 26. E muita dessa história dos dois times na fase decisiva da NFL foi compartilhada, com amplia vantagem para o Packers.
Entre 1996 e 2002, os times se enfrentaram 5 vezes nos Playoffs, com 4 vitórias do Packers. Vitórias essas que representaram o fim de uma dinastia de cinco Super Bowls vencidos pelo 49ers entre 1982 e 1995 e o começo de um jejum de títulos que já dura quase 20 anos. Por outro lado, o confronto marca o início de uma fase vitoriosa do Green Bay, que conquistou 1 Super Bowl comandado pelo quarterback Brett Favre. Memórias gloriosas de um lado, ressaca e dor de cabeça do outro.
O primeiro dos confrontos foi uma grande surpresa. O 49ers jogava em casa e era o atual campeão da NFL, com uma equipe estrelar e consagrada encabeçada por Steve Young e Jerry Rice. Mas foi o o azarão que levou a melhor graças a uma atuação de gala do jovem Favre, que teve apenas 7 passes incompletos na ocasião. No ano seguinte, o trauma aumentava. No gélido estádio do Packers, o histórico Lambeau Field, o jogo teve até o folclórico dono do 49ers, Eddie DeBartolo, caindo no tapa com torcedores do Green Bay. Foi uma lavada. 21 a 0 só no primeiro tempo. O que custou o cargo do técnico do San Francisco, George Seifert, mesmo com um histórico irretocável de 98 vitórias, apenas 30 derrotas e 2 Super Bowls. Em 1998, a mesma história. E mesmo conseguindo vencer em 1999, o 49ers caiu diante do Falcons na semana seguinte e seguiu o jejum de Super Bowls.
A marca da decadência do 49ers começou com a saída de DeBartolo, que em 2000 foi obrigado a vender o time para a sua irmã e seu cunhado, Denise e John York devido ao seu envolvimento num escândalo de corrupção com o governo de Louisiana. Sem 1/10 da paixão e envolvimento de DeBartolo, os York foram aos poucos abandonando a instituição e a casa caiu depois de mais uma derrota para o Packer, nos Playoffs de 2002. Foi o início de um período de 10 anos de mediocridade, sem ir aos playoffs.
O Packers seguiu vencendo com Brett Favre e soube substituí-lo com outro quarterback genial, o californiano Aaron Rodgers, responsável pela conquista do Super Bowl de 2010.
Rodgers é hoje um dos melhores QBs da liga. Coincidência ou não, ele nasceu na região de San Francisco e cresceu fã do 49ers. Foi destaque da University of California, em Berkeley, a meia hora do estádio do 49ers. E no dia do draft universitário, ele foi esnobado pelo 49ers, que escolheu Alex Smith em vez dele. Smith teve os primeiros 6 anos da carreira horríveis, virou tema de piada e motivo de ódio dos fãs de San Francisco, sentimento que piorava quando se via Rodgers brilhar com o verde e amarelo, as cores do Green Bay. E Rodgers nunca escondeu de ninguém a raiva e frustração de ter sido literalmente esnobado pelo seu time do coração.
Enquanto Rodgers brilhava, o 49ers vivia no ostracismo. Período que acabou no ano passado graças a uma mudança de filosofia esportiva e administrativa liderada pelo filho dos York, Jed. O jovem, que cresceu ao lado do tio acompanhando de perto sua paixão pelo vermelho e dourado, pediu para assumir a administração do time em 2008. Aconselhado por DeBartolo e pela família Craft, donos do New England Patriots, Jed passou a recrutar uma equipe técnica e executiva de alto nível e a tratar o 49ers como uma empresa.
Em San Francisco, o projeto de Jed York demorou 3 anos para dar frutos, mas o resultado é, no mínimo, promissor. Hoje o 49ers tem reconhecidamente uma das melhores equipes econômicas e de olheiros da NFL. Jed trouxe Paraag Marathe e Gideon Yu, gênios do mercado financeiro e tecnológico, formados em Harvard e Stanford, para cuidar da parte administrativa e deixou a parte esportiva nas mãos de Trent Baalke, pupilo do lendário Dick Haley. Haley foi o responsável por montar o time histórico do Pittsburg Steelers dos anos 70 e foi mentor de Baalke no New York Jets. E o grande trunfo de Baalke, além de recrutar uma das melhores defesas da NFL, foi contratar o treinador Jim Harbaugh.
O folclore em torno de Harbaugh, ex-quarterback do Indianapolis Colts e Chicago Bears e filho de um técnico veterano, vale um texto inteiro. Ele transformou Alex Smith em um bom quarterback, fez a defesa montada por Baalke a melhor da NFL e, baseado num conhecimento tático e técnico fora de série, levou o 49ers ao topo da NFL quase que instantaneamente.
Ano passado o 49ers voltou aos Playoffs e esteve a um passo do Super Bowl, perdendo a 'semifinal' na prorrogação num erro de um jovem jogador. Um ano depois, o time é praticamente o mesmo, com uma diferença que pode ser o triunfo ou a desgraça de Harbaugh na noite de hoje, o jovem quarterback Colin Kaepernick. Após uma lesão, Harbaugh subtituiu o veterano Alex Smith por Kaepernick, mesmo com o titular jogando em alto nível.
O motivo: Smith é um jogador conservador e limitado fisicamente, que prefere não correr riscos e jogar de forma mais conservadora. Com a defesa do 49ers, seu estilo de jogo é eficiente enquanto o time não esteja em grande desvantagem. Mas Harbaug, um ex-quarterback muito parecido a Smith, parece saber que na NFL hoje em dia, com quartebacks como Rodgers geniais comandando ataques espetaculares, mesmo tendo uma excelente defesa, um time precisa ter um ataque capaz de manter o mesmo nível.
E aí entra Kaepernick, um atleta na concepção da palavra, ex-arremessador de beisebol famoso por lançar bolas a mais de 100km/h. Kaepernick é o anti-Alex Smith. Seus passes lembram aos do próprio Brett Favre, famoso pela violência com que lançava seus petardos. Kaepernick deslocou dedos de 3 jogadores essa temporada, incluindo do veterano Randy Moss, um dos maiores receivers de todos os tempos. E, além disso, com uma envergadura que lembra Usain Bolt, tem a capacidade de colocar a bola em baixo do braço e correr como um raio. Ele assume mais riscos, é jovem e coloca o time em situações de maior risco que Smith. Mas, por outro lado, seu talento é capaz de jogadas que Smith nunca sonhou.
Kaepernick comandou o 49ers em vitórias marcantes contra o New Orleans Saints e New England Patriots, fora de casa. O Patriots não perdia em casa na segunda metade da temporada desde 2009. E, em um momento, Colin abriu uma liderança de 28 pontos. O 49ers terminou a temporada em 2º na Conferência Nacional, seguido do Packers, em 3º.
Kaepernick x Rodgers tem tudo para honrar a tradição do confronto que foi marcado por duas lendas como Brett Favre e Steve Young. E o 'desejo de vingança' de Rodgers só faz aumentar a expectativa para o jogo de hoje a noite. Se você é fã da NFL, esse é o tipo de confronto que se espera o ano todo. E se vc não acompanha a NFL mas é fã de esportes, Packers x 49ers é uma bela ocasião para começar a assistir.
Hoje, as 23h de Brasília, no estádio de Candlestick em San Francisco: Green Bay Packers x San Francisco 49ers.
NFL como a NFL deve ser! :)
sábado, 12 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Voltando a escrever em 2013
Esse blog existe há mais de 10 anos, quando eu ainda estava na faculdade de jornalismo. Mas ele tomou uma certa importância na época em que morava no Líbano e contava minhas histórias dentro de um cenário social e político conturbado. Graças a esse blog, eu comecei a trabalhar para a BBC e conheci muita gente bacana.
Mas quando eu deixei o Líbano para trás ele deixou de ser uma prioridade e ficou meio que esquecido. Pensei em retomá-lo um par de vezes, mas nunca reencontrei aquela faísca que acendia a vontade de escrever.
Minha vida mudou muito desde Beirute. Virei jornalista esportivo, comentarista do UFC e acabei voltando à Espanha, terra da minha mulher. Aqui, virei pai e comecei a estudar sobre vinhos. Me formei Sommelier e hoje, além de seguir estudando, tento criar oportunidades de negócio com vinhos entre Brasil e Espanha.
Mas nos últimos meses surgiu a vontade de voltar a escrever. De reativar o blog. Por isso mudei a cara do site, atualizei a descrição e, com esse post de ano novo, surge um novo blog. Um blog sem restrição de temas, mas que provavelmente estará focado em vinhos, gastronomia, esportes e a situação social e política espanhola. São as histórias da minha vida atualmente.
Seja você um familiar, um amigo, um leitor antigo ou um novo leitor, obrigado pela visita! Espero que lhe dê motivos para voltar mais vezes! :)