quinta-feira, 11 de setembro de 2003

É galera...

Hoje completam dois anos dos ataques terroristas ao World Trade Center... Assim como hoje completam 30 anos do golpe que levou Pinochet ao poder no Chile...

O que há de comum entre as duas datas, além da morte de inocentes?

Bem... o embaixador do Chile no Brasil, Osvaldo Puccio, explicou de forma simples ontem em matéria para o Jornal da Globo:

“Se há alguma coincidência entre as duas datas é que nunca a violência como meio de política produz resultados positivo, sempre produz resultados negativos”.

Um recado bem dado de quem não se esquece que toda a articulação do golpe foi tramada e executada pelos então presidente americano Nixon, diretor da CIA, Richard Helms, e procurador-geral John Mitchell, financiando a agencia de inteligência com cerca de US$10 milhões para derrubar o "líder de tendência marxicista" Salvador Allende.

Coincidência ou não, o dia 11 de setembro se tranformou num dia histórico tbm para os americanos, que deveriam faze-lo um dia de reflexão.

Reflexão sobre os estados do sul "roubados" do México...

Reflexão sobre os 750.000 civis mortos por bombas lançadas na região rural do Camboja, durante a Guerra do Vietnã…

Reflexão sobre o regime do xá do Irã, apoiado e financiado pelos EUA e grande catalizador do ódio que o mundo árabe tem contra os ianques…

Reflexão sobre o ditador made in USA, Anastacio Somoza e suas atrocidades na Guatemala apoiadas e financiadas pelo presidente Truman...

Reflexão sobre o Batalhão 316 e seus assassinatos e torturas em Honduras pagos pela CIA de Ronald Reagan, com sua existencia totalmente negligenciada pelo covarde John Negroponte, hoje embaixador dos EUA na ONU…

Reflexão sobre décadas e décadas de história da Nicarágua, onde o governo americano, defensor tão feroz do direito do voto, o farol brilhante da liberdade do indivíduo, destruiu sistematicamente a vontade democrática de todo um povo e protagonizou um dos maiores shows de horror da história moderna...

Reflexão sobre as 2.000 famílias da ilha de Diego Garcia, expulsas para a construção de uma base militar…

Sobre uma Coréia dividida ao meio de forma irresponsável para provar o poder diante da URSS…

Reflexão sobre os 170.000 japonses mortos instantânea e desnecessareamente pelos despositivos atômicos lançados sobre Hiroshima e Nagasaki, com a Guerra já ganha pelos EUA…

Reflexão sobre o Afeganistão, Iraque, Guantânamo, Israel... sobre as últimas eleições presidenciais, seu sistema judiciário desumano e sobre as centenas de professores, jornalistas e escritores censurados pelo governo Bush por trazerem esses assuntos à tona após os atentados.

Os americanos ficaram horrorizados quando milhares dos seus cidadão foram assassinados em 11 de setembro. Depois do que viram e sentiram, podem manter-se insensíveis ante a dor que seu país tem imposto a nações mais fracas? Podem estar realmente seguros de que representam o lado certo na "batalha do bem contra o mal" que o presidente W. Bush insiste em repetir nos seus discursos?

Assim como disse Peter Scowen ao escrever “O Livro Negro dos EUA”, tudo isso “não é uma campanha contra os Estados Unidos… É sim uma chamada à moderação e à paz”.

Isso não é uma luta do bem contra o mal! É ridículo sugerir que os atentados de 11 de setembro não estejam ligados diretamente a política externa Americana recente. É uma ingenuidade e um auto-engano. Afinal, nos termos estreitamente dicotômicos exigidos por GW Bush em seus discursos, os EUA nos últimos 50 anos, foram liderados por governos tão cruéis e desumanos quanto quaisquer outros que já existiram. Quando as nuances são expulsas de um mundo cheio de guerra e morte, não pode haver bonzinhos. O alvo de Bin Laden foi o governo dos Estados Unidos da América sim; as atividades daquele governo na região do mundo que ele chama de casa foram sua confusa justificativa… Mas terroristas nunca matam políticas ou crenças… matam gente inocente.

Se os americanos aproveitassem um momento para ver o seu país da maneira como nós de outros países vemos, conheceriam os horrores insensíveis que seu governo é capaz de perpetrar e entenderiam melhor a necessidade de uma visão de mundo mais ampla. Compreenderiam por que não aguentamos mais esses sermões norte-americanos babacas sobre democracia e liberdade…

E finalmente entenderiam algo que vários outros povos ja entenderam há muito tempo, para suas grandes tristezas: que um governo não é inocente só porque seus cidadãos assassinados o são.

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