domingo, 13 de novembro de 2005

Da Martinica aos suburbios de Paris

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Na última quarta-feira, a França venceu a seleção da Costa Rica de virada por 3 a 2, em amistoso jogado na Ilha da Martinica.

Uma partida que teria tudo para ser uma qualquer dentre as dezenas que qualquer seleção joga todos os anos. Mas esse jogo em especial me chamou a atenção, pq me fez refletir alguns pontos sobre os conflitos entre minorias e Estado que chacoalham a França nas últimas semanas.

De um lado, estavam vários treinadores franceses, como Arsène Wenger e Gerard Houllier revoltados com a realização do amistoso que chamavam de "sem sentido", principalmente pelas 20 horas de viagem. Mas ao chegar à Martinica, ainda no aeroporto, Liliam Thuram, uma das estrelas da seleção francesa, disse "Estamos sim cansados, mas para nós jogadores essa viagem é muito mais do que apenas futebol".

Talvez isso tenha a ver com o fato de que ele, Thuram, assim como vários outros colegas de seleção nasceram ou tem suas origens ali nas ilhas do Caribe. Thierry Henry, por exemplo, o maior goleador da história do Arsenal, assim como Nicolas Anelka, estavam voltando para a ilha que um dia seus pais deixaram, buscando vida melhor na França.

Daí eu me pergunto: teria a França ganho a Copa de 98 sem o talento defensivo de Thuram, ou sem os dois gols dele contra a Croácia? O que seria desse time sem jogadores como Marcel Desailly ou Patrick Vieira, nascidos respectivamente em Gana e Senegal? E acima de tudo, o que seria dessa geração sem Zinédine Zidane, muçulmano filho de argelinos?

Hoje em toda Europa Zidade é um dos maiores heróis em meio às minorias árabes. Lembro de uma entrevista que vi num desses especiais de TV sobre a Copa, quando uma menina de seus 8 anos, filha de emigrantes Marroquinos, disse que ao ver Zidane jogar, ela se sentia "mais francesa que os próprios franceses".

Agora, tente dizer à algum francês que Zidane é árabe......

Para uns futebol pode ser apenas um jogo, mas aqui me ajuda a enxergar uma sociedade ridiculamente hipócrita.

Provavelmente políticos e sociedade conservadora Européia nunca vão chegar a esse ponto de raciocínio, numa análise da sua babaquice em diferentes níveis da sociedade. Mas até quando os atletas e emigrantes bem sucedidos vão continuar ignorando o problema que mais me preocupa.

Em 1968, nas Olimpíadas do México, dois sujeitos chamados Tommie Smith and John Carlos, com apenas uma luva negra e o punho cerrado, chamaram a atenção do mundo para o movimento Black Power e a questão racial nos EUA... Quem sabe essa viagem às origens sirva de inspiração para uma nova revolução!

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