segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Uma intifada pela independencia


A multidao reunida no centro de Beirute, pedindo a saida das tropas sirias do territorio libanes

"Em resposta a politica criminosa e terrorista das autoridades libanesas e sirias, a oposicao libanesa declara agora uma intifada democratica e pacifica pela independencia!" Foi com essa declaracao que um dos lideres da oposicao, Samir Frangia, encerrou seu discurso de convocacao da populacao para uma manifestacao de protesto contra a ocupacao Siria no paihs. A reuniao foi sabado, na casa do lider druzo Walid Jumblat, que tem sido a principal figura da oposicao nesse desenrolar pos-assassinato do ex-primeiro ministro. Apos dos 3 dias de luto oficial pelo atentado, que deixaram a populacao libanesa em choque e em silencio, essa reuniao serviu para ver que os animos estavam mudando.

A manifestacao, marcada para segunda-feira, acabou trazendo mais tensao e apreensao, extendendo o luto fim de semana a dentro. A as ruas cheias de vida da agitada vida noturna beirutana ficaram vazias, com restaurantes e casas noturnas fechados. Como eu havia previsto aqui apohs o assassinato, a oposicao libanesa que jah estava comecando a colocar as asas para fora antes do assassinato, agora seria ainda mais atrevida. Principalmente os critaos, que ateh ontem haviam se manifestado muito discretamente. Enquanto o clima ateh agora era de silencio e luto, em respeito da morte de Hariri, o Libano sabia que isso acabaria no comeco desta nova semana. Por fim vozes da populacao comecariam a ser ouvidas.

Quando cheguei ao predio da ONU ontem as 8h da manha, o centro de Beirute parecia estar pronto para uma batalha. Jipes, tanques, tropas de choque e militares fortemente armados com metralhadoras faziam guarda em cada esquina, numa imagem muito diferente do funeral, quando nao havia sequer um soldado. O medo que antes se via nos olhos da populacao agora estava estampado na cara do governo.


Grupo de soltados do batalhao de choque observa atenta os manifestantes

Liderada pelo movimento de juventude politica do paihs, a multidao comecou a se reunir em frente ao hotel Phoenicia Intercontinental, local do atentado. E exatamente ao meio dia comecou uma marcha de pouco mais de 1km ateh a Praca dos Martires, ao lado da mesquista em construcao onde estah enterrado Hariri. Os gritos de "Yala! Yala! Yala! Suria tlah bara!" (Siria vah embora!) podiam se ouvir a quarteiroes de distancia. Na marcha, lado a lado, druzos e cristaos, que durante anos foram inimigos mortais e que agora se viam juntos devido as circunstancias. Cenas inacreditaveis como a imagem de um maronita com a camisa das Forcas Libanesas (a milicia armada crista proibida no paihs) ao lado de uma bandeira do Partido Progressista Socialista se via por todos os lados. Havia na marcha tbm muitos armenios e sunnitas, mas estes ultimos sem muitas manifestacoes politicas. A maioria dos cerca de 10 mil manifestantes era de cristaos e druzos.


Rapaz com a camisa da milicia radical catolica maronita, Forcas Libanesas, proibida no paihs apos o fim da guerra

A manifestacao terminou bem, sem nenhuma violencia ou confusao. Nenhum ato de revolta alem dos gritos irados contra o governo e a ocupacao Siria, que praticamente ao mesmo tempo, anunciou de forma timida que vai retirar "gradualmente" suas tropas do paihs. Num encontro com o lider da Liga Arabe, Amr Mussa, o presidente sirio Bashar Al-Assad assegurou que estah preparado para cumprir com as obrigacoes do acordo de Taef, que pos fim a guerra do Libano e obrigava o governo Sirio a retirar em dois anos suas tropas do paihs. Enquanto isso nao acontece, tudo indica que manifestacoes como a de ontem tendem apenas a aumentar em numero, manifestantes, altura e, nunca se sabe, em atrevimento, pq a oposicao percebeu que a oportunidade eh essa e dificilmente vao deixa-la escapar.


Paz e moderacao

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