quarta-feira, 6 de abril de 2005

Um excelente texto que li esta semana no The Guardian e resolvi traduzir para colocar aqui. Que visao maravilhosa desse escritor judeu sobre a historia do seu povo!

Precisamos pular para uma mentalidade pos-sionista

John Rose - The Guardian – 02/04/2005

Os lacos historicos e religiosos que ligam tantos judeus a “terra de Israel” justificam o projeto Sionista? A ideia de uma terra natal judaica continua a causar dois problemas. O primeiro eh a negacao dos direitos dos Palestinos, principalmente aos direitos dos refugiados, que veem Israel ser contruida em sua terra natal. E o segundo eh o que “terra natal” significa para a grande maioria judeus que vivem for a de Israel.

Ha uma interessante e pouco explorada ligacao entre estes dois problemas. Resolver o segundo pode contribuir para resolver o primeiro. Mas isso significa que nos judeus ocidentais renunciemos nosso direito automatico de sermos cidadaos de Israel.

Essa posicao segue o ritmo da historia judaica, especialmente e de forma paradoxa, no Oriente Medio. Mais de dois mil anos atras, muito antes da queda do Segundo templo em Jerusalem em 70 DC, o filosofo judeu Philo de Alexandria fez exatamente esta pergunta. “Terra Natal”, patria, seria a terra de nacimento e educacao de uma pessoa. Existia a peregrinacao judaica ao templo de Jerusalem, mas isso significava abandonar sua patria para visitar o que Philo nao chamava de “terra natal” mas sim de “terra estranha”.

Falando disso, a existencia de importantes comunidades judaicas como a de Philo por todo o Mediterraneo e alem, muito antes da queda do Segundo templo, tiram todo o credito do mito sionista do “exilio” que diz que os judeus foram obrigados a deixarem sua terra pelos Romanos, na queda do segundo templo. O sionismo deveria superar a ideia do exilio dois mil anos depois, porque tal “exilio” parece ser mais uma forma “natural” de se adaptar a uma condicao historica.

Mais de mil anos depois, tambem no Egito, tivemos uma extremamente bem sucedida comunidade judaica na recem contruida cidade do Cairo. O professor ShelomoGoitein, um brilhante academico das relacoes Islamicas Arabes-Judaicas, na sua analise dos documentos de “Geniza”, descobertos em uma sinagoga medieval, deixou claro como os judeus da cidade viam sua “terra natal”. Isto eh um ponto alto nas relacoes Islamico-Judaicas simbolizada por Saladin, o maior lider Islamico do mundo, protegendo Cairo dos Cruzados e tambem os expulsando de Jerusalem.

E eh importante lembrarnos que foram os Cruzados Europeus que mataram os judeus em Jerusalem e que foi Saladin que nos chamou para voltar. Mas nos judeus nao tinhamos intensao nenhuma intensao de viver em Jerusalem. Jerusalem era um centro espiritual e religioso, nao nossa “terra natal”. As comunidades judaicas se sentiam “em casa” nas suas vilas e cidades, por todo o mundo Islamico.

Judeus migraram da Europa para o mundo Islamico para escapar dos Cruzados. Os judeus do Cairo prontamente ofereceram ajudas aos seus irmaos de fe. De acordo com Goitein, autoridades Islamicas nunca impediram tal migracao. Que contraste com nossas attitudes “civilizadas” de migracao contemporanea.

Os judeus do inicio do seculo XX no Iraque tem licoes semelhantes para nos. Ateh o dia de hoje, judeus iraquianos mantem e se orgulham da sua historia initerrupta de mais de 2500 anos desde a Babilonia a Baghdad. Aderindo aos movimento nacionalista Iraquiano que expulsou os Britanicos loco apos a primeira guerra mundial, eles certamente nao queriam os sionistas. Menahem Daniel, um notavel judeu de Baghdad, escreveu em 1922: “Voces sao uma ameaca a vida nacional Arabe. Por favor fiquem longe daqui!”

A cultura judaica floreceu como parte da cultura Iraquiana. Mais de um terco dos musicos iraquianos eram judeus. Em 1949, quando a crise entre Judeus Iraquianos aconteceu cinicamente orquestrada por Israel e Inglaterra, assim como pelo governo pro-Ingles, o Jewish Chronicle reportou a seguinte passagem para que os judeus iraquianos aguentasse as pontas: “A tolerancia islamica eh a grande responsavel pelo florecimento da comunidade judaica de Baghdad como centro educacional e de comercio. Eles em nosso lugar ficariam!”

Mas a experiencia judaica Iraquiana seria posta frente a experiencia europeia, que via a necessidade de uma “terra natal” segura como uma especie de compensacao pelo Holocauto. Ainda hoje aqui no ocidente temos a chamada “visao lacrimejante” da historia judaica: de um povo que sofreu durante toda sua historia pela maos dos nao-judeus. Assim como um escritor disse uma vez, estamos frente ao perigo de ter uma cicatriz fazer o papel de uma ferida ainda aberta.

Em verdade, a experiencia judaica europeia eh muito mais complexa do que simplesmente o Holocausto. A resposta aos projetos anti-semitas da Russia Tsarista mais de 100 anos atras merecem um estudo particular. A massiva migracao judaica para a Europa Ocidental e America comecam ai. E onde os sionistas desenvolveram sua base ai. Mesmo com a enorme participacao de judeus na resistencia contra o Tsar, usando sempre a tradicao judaica de solidariedade entre judeus e nao-judeus. O socilist judeu Bund foi um dos pioneiros nessa ideologia, que os sionistas simplesmente nao conseguiam entender.

O valor da solidariedade foi construido pelas promessas do Iluminismo e da Revolucao Francesa, que deram aos judeus o direito de serem cidadaos comuns em suas terras natais.

Nao seria isso a expressao dos judeus em tempos modernos? Nao seriam a comunidades judaicas na Europa occidental e na America modelos iluminados de assimilacao onde podemos expressar nossa identidade judaica, assim como nos sentimos em casa em nossas terras natais?

E a expulsao dos Palestinos apenas reforca esse argumento. Como podemos justificar nosso direito de cidadania israelense quando os palestinos nao tem uma pais?

Uma reconciliacao Arabe-Judaica precisa de um approach alternativo. Uma “fagulha de esperanca” vinda do passado historico das relacoes Arabe-Judaicas no Oriente Medio. Varios israelenses entendem isso. Intelectuais israelenses associados a uma imagem pos-sionista imaginam com confianca uma vida judaica numa regiao sem um Estado Sionista. Um pequeno numero de ex-lideres sionistas, como Mero Benvenisti, ex-prefeito de Jerusalem, concordam. Ele diz qe a revolucao sionista acabou. Ele sugere que acabemos com a lei do retorno, que permite aos judeus de qualquer nacionalidade se tornarem cidadaos israelenses.

Benvenisti diz que ele ama esta terra e que eh uma terra Arabe. Talvez os antigos pensadores Judeus Iluministas que acreditavam na assimilacao estavam muito mais corretos do que imaginavam. Imagine os tataranetos dos judeus Europeus hoje vivendo na Palestina assimilando a cultura arabe, absorvendo e contribuindo para o seu desenvolvimento, em algum lugar desse seculo.

Uma mudanca de mentalidade? Sim, mas nos judeus sempre fomos sempre bons nisso!

John Rose, politico Ingles, eh um dos lideres do Partido Socialista dos Trabalhadores e autor de “The Myths of Zionism” - Email johnrose88@yahoo.co.uk. Texto traduzido por Fernando Kallas.

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