quinta-feira, 13 de julho de 2006

Revolta, tristeza, irresponsabilidade e reflexões...

Taí... aconteceu o que todo mundo tinha certeza que iria acontecer mas tentava se convencer do contrário, tamanho o medo da volta aos tempos de guerra.

No Líbano existia essa espécie de mantra que era repetido dia após dia pelos libaneses como se estivessem tentando se convercer de que realmente estaria tudo bem, tudo perfeito, de que o país estaria estável e que os tempos de conflitos eram definitivamente coisa do passado. Mas no fundo, todos sabiam que não era bem assim.

Por isso não me surpreende tudo isso que está acontecendo desde ontem, essa reação em cadeia iniciada pelo oportunismo irresponsavel do Hezbollah, que provou não ser um movimento de resistencia nacionalista e sim uma milícia islamista a serviço de ditaduras e governos que pouco se importam com o futuro do Líbano e a segurança de seu povo.

É amigos, dessa vez não dá pra culpar apenas Israel. Dessa vez há tbm outros culpados. Dessa vez não há heróis, só vilões. O Hezbollah sabia muito bem o que seguiria o sequestro dos soldados israelenses. Por mais que o ódio e o rancor existissem, era inegável que a situação na fronteira estava há muito tempo estável.

Estável até ontem, já que o Hezbollah e o governo sírio se aproveitaram da situação para começar uma nova guerra. Se aproveitaram do momento já que Gaza está sendo atacada, que é crescente a reprovação da opinião pública internacional contra o embargo às ajudas humanitárias à Palestina, assim como à escalada da violência do exército israelense. Se aproveitaram disso para invadir, com aprovação e apoio de sírio, a Linha Azul - fronteira provisória entre Líbano e Síria que está sob a tutela da ONU - e matar três soldados israelenses e sequestrar outros dois, sob o pretexto de estar exigindo a libertação de prisioneiros árabes que estão sob a custódia de Israel.

Que outra saída tinha Israel senão a de atacar o Líbano? Sinceramente se poderia esperar outra reação de Israel senão esta? Até pq, afinal de contas, mesmo sabendo que o governo libanês não tem controle da milícia, estamos lidando com países que se dizem soberanos e que deveriam manter a ordem e controle sob seus territórios.

E quem sofre com os efeitos colaterais dessa briga de poderes entre Israel, Hezbollah e Síria?!

O Hezbollah não é, pq a milícia não possue bases fixas e suas celulas estão espalhadas por praticamente todo o território libanês, sendo praticamente impossível de serem encontradas, quanto menos destruidas. Meu ex-professor e ex-chefe das forças da ONU no sul do Líbano, Timur Goksel, garantiu hj ao vivo na BBC que nenhuma base militar ou de inteligencia do Hezbollah foi atingida pelos bombardeios.

A Síria tbm não é, pq ela está longe de todo o conflito e, mesmo sem ter mais suas tropas em território libanês, continua comandando a festa lá daquela que há muito tempo é a verdadeira capital do Líbano, Damasco. Pra onde vcs acham que os enviados e negociadores da ONU e UE vão na tentativa de conseguir um acordo com o Hezbollah?

Plano muito engenhoso, pq obriga Israel a atacar e mandar suas tropas no território libanês, o que significa mais perdas para o exercito israelense. Hj de manhã o primeiro tanque Merkava que cruzou a fronteira deu de cara com uma fortíssima mina do Hezbollah, causando a perda do veículo e a morte de mais três soldados.

Israel perderá soldados, mas isso é um preço que se paga quando se vai ao campo de batalha. E campo de batalha Israel conhece muito bem. Mas o que o povo libanês tem a ver com isso? É ele quem vai sofrer de verdade com tudo isso, estando na linha de fogo dessa disputa covarde por não sei o que! Sofrem aqueles que estavam recomeçando sua vida, reconstruindo o país, apostando num futuro melhor e lutando com unhas e dentes para garantir o pão de cada dia.

Mesmo que se chegue a um improvável acordo nas próximas horas, mesmo com as dezenas de especulações e teorias que podemos levantar agora, uma coisa é certa: o Líbano acaba de sofrer um golpe irreparável na sua estabilidade, na sua imagem e economia que estavam começando a superar a desconfiança.

Isso é fato e é irrecuperável!

Mas agora não é hora de pensar em turistas, investimentos ou até mesmo em esperanças. Agora estamos falando de vidas. Cinquenta e cinco já morreram em apenas um dia. Quantos mais precisarão morrer nesse jogo doentio?! Quantos mais?!

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