Mais um carro bomba mata pelo menos onze pessoas em Beirute
O ano novo começa negro para os libaneses que, afundados na pior crise política do país desde o fim da guerra civil, foram vítimas hoje do segundo atentado de 2008.
Um carro bomba explodiu agora pela manha e matou pelo menos 11 pessoas no bairro de Chevrolet, entre as localidades de Furn El-Chebek e Hazmieh, na saída de Beirute para a Síria e o Vale do Bekaa.
Segundo autoridades, o alvo foi o capitao Wissam Eid, membro do Departamento de Informaçao das Forças de Segurança Interna Libanesas. A explosao teria matado Eid, dois guarda-costas e 8 pessoas mais que passavam pelo local. A bomba explodiu numa regiao muito movimentada, ao lado do centro comercial Abraj que tem um grande edifício de escritórios, vários restaurantes, cafés e um grande cinema.
O Departamento de Informaçao foi criado em 2005 para investigar, principalmente, os atentados terroristas que na época voltavam com força total ao país. Mas desde entao foi criticado publicamente várias vezes pela oposiçao por estar sendo usado para os interesses do da família Hariri e seus aliados.
Eid já tinha sido vítima de outro atentado há quase dois anos, quando atacado por uma granada na porta da sua casa. Apesar de graves ferimentos nas maos e nos braços, Eid sobriviveu.
O atentado de hoje acontece apenas 10 dias depois de que outro carro bomba explodisse numa regiao muito próxima, matando 3 pessoas e ferindo outras 20.
A crise no Líbano piora com a escalada da violência e com o vácuo de poder, já que o país está sem presidente desde o mês de novembro.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Parlamento libanês adia pela 13ª vez a eleiçao presidencial
Mais uma vez foi adiada a sessao parlamentar que escolheria o presidente do Líbano. Desde o dia 14 de setembro, data prevista para que a eleiçao presidencial acontecesse, essa é a 13ª que os grupos políticos rivais adiam a votaçao por nao chegarem a um acordo sobre a representavidade de cada um dos grupos no novo governo.
A Liga dos Estados Árabes mandou o seu representante, o secretário-geral da entidade, Amir Moussa, para tentar uma mediaçao entre as partes. Mesmo com a adiaçao de hoje, Moussa está otimista quanto à resoluçao do impasse que deixa o país sem presidente desde novembro. Segundo o egípcio, a adiaçao era necessária para que os rivais terminem de acertar todos os detalhes para que, em fevereiro, a eleiçao possa finalmente acontecer.
A proposta da Liga Árabe consiste em que o novo presidente seja o comandante das Forças Armadas, general Michel Suleiman, nome que já tinha surgido anteriormente como o mais próximo de um concenso entre os dois blocos rivais. Além disso, a Liga propoe que nenhum bloco tenha maioria no novo gabinete ministerial e, assim, ninguém tenha poder de veto. Que dos 30 ministérios, 10 sejam para a situaçao, 10 para a oposiçao e 10 indicados pelo próprio presidente. Depois que o presidente seja eleito e que o novo governo de coalisao seja formado, entao seria a hora de mudar a lei eleitoral, modernizando-a e adaptando-a à atual realidade populacional do país.
O grande problema é que ninguém quer ficar sem o poder do veto e aí fica o impasse.
Vale lembrar que quando falamos de partidos políticos e grupos rivais no parlamento nao estamos falando apenas de divergências ideológicas. O Líbano é um país onde, até hoje, o sistema político é confecional e as mesmas lideranças "religiosas" que deram igniçao aos conflitos que levaram à 15 anos de guerra civil sao os que se mantém no poder até hoje. Nas ruas do país é claríssimo o clima de tensao sectária e desde o fim dos bombardeios isralenses, no ano passado, já foram registrados vários enfrentamentos violentos entre grupos rivais.
Mais uma vez a fragilidade do país é um prato cheio para ser usado pelas potências rivais da regiao para os seus propósitos mais escusos. Enquanto a Arábia Saudita apoia o grupo chamado 14 de Marços, liderado por Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado, Rafic Hariri, a Síria e Ira apoiam a oposiçao, o 8 de Março, liderado pelo líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah e pelo líder do Movimento Patriótico Livre, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro, general Michel Aoun. Aoun é, inclusive, o nome preferido da oposiçao para assumir a presidência.
Nao é à toa que Amir Moussa se reuniu semana passada com o ditador sírio, Bashar El-Aassad, para conversar sobre o impasse no Líbano. Apesar da Síria nao estar mais presente oficialmente no país desde terminou a ocupaçao militar no país, há dois anos, o Aassad continua agindo como se o Líbano fosse o quintal da sua casa de veraneio.
A situaçao é complicada e parece que mais uma vez os políticos libaneses nao serao capazes de resolver sozinhos suas diferenças. Que mais uma vez serao os vizinhos que terao que obrigar suas marionetes a entrar em um acordo. Num momento em que o país deveria estar dando um exemplo de que pode ser independente e instaurar uma verdadeira democracia, a dependência do Líbano aos países vizinhos cresce em vez de diminuir.
Mais uma vez foi adiada a sessao parlamentar que escolheria o presidente do Líbano. Desde o dia 14 de setembro, data prevista para que a eleiçao presidencial acontecesse, essa é a 13ª que os grupos políticos rivais adiam a votaçao por nao chegarem a um acordo sobre a representavidade de cada um dos grupos no novo governo.
A Liga dos Estados Árabes mandou o seu representante, o secretário-geral da entidade, Amir Moussa, para tentar uma mediaçao entre as partes. Mesmo com a adiaçao de hoje, Moussa está otimista quanto à resoluçao do impasse que deixa o país sem presidente desde novembro. Segundo o egípcio, a adiaçao era necessária para que os rivais terminem de acertar todos os detalhes para que, em fevereiro, a eleiçao possa finalmente acontecer.
A proposta da Liga Árabe consiste em que o novo presidente seja o comandante das Forças Armadas, general Michel Suleiman, nome que já tinha surgido anteriormente como o mais próximo de um concenso entre os dois blocos rivais. Além disso, a Liga propoe que nenhum bloco tenha maioria no novo gabinete ministerial e, assim, ninguém tenha poder de veto. Que dos 30 ministérios, 10 sejam para a situaçao, 10 para a oposiçao e 10 indicados pelo próprio presidente. Depois que o presidente seja eleito e que o novo governo de coalisao seja formado, entao seria a hora de mudar a lei eleitoral, modernizando-a e adaptando-a à atual realidade populacional do país.
O grande problema é que ninguém quer ficar sem o poder do veto e aí fica o impasse.
Vale lembrar que quando falamos de partidos políticos e grupos rivais no parlamento nao estamos falando apenas de divergências ideológicas. O Líbano é um país onde, até hoje, o sistema político é confecional e as mesmas lideranças "religiosas" que deram igniçao aos conflitos que levaram à 15 anos de guerra civil sao os que se mantém no poder até hoje. Nas ruas do país é claríssimo o clima de tensao sectária e desde o fim dos bombardeios isralenses, no ano passado, já foram registrados vários enfrentamentos violentos entre grupos rivais.
Mais uma vez a fragilidade do país é um prato cheio para ser usado pelas potências rivais da regiao para os seus propósitos mais escusos. Enquanto a Arábia Saudita apoia o grupo chamado 14 de Marços, liderado por Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado, Rafic Hariri, a Síria e Ira apoiam a oposiçao, o 8 de Março, liderado pelo líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah e pelo líder do Movimento Patriótico Livre, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro, general Michel Aoun. Aoun é, inclusive, o nome preferido da oposiçao para assumir a presidência.
Nao é à toa que Amir Moussa se reuniu semana passada com o ditador sírio, Bashar El-Aassad, para conversar sobre o impasse no Líbano. Apesar da Síria nao estar mais presente oficialmente no país desde terminou a ocupaçao militar no país, há dois anos, o Aassad continua agindo como se o Líbano fosse o quintal da sua casa de veraneio.
A situaçao é complicada e parece que mais uma vez os políticos libaneses nao serao capazes de resolver sozinhos suas diferenças. Que mais uma vez serao os vizinhos que terao que obrigar suas marionetes a entrar em um acordo. Num momento em que o país deveria estar dando um exemplo de que pode ser independente e instaurar uma verdadeira democracia, a dependência do Líbano aos países vizinhos cresce em vez de diminuir.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Explosao mata pelo menos três pessoas e fere mais 20 no subúrbio de Beirute.
A mistura preferida dos inimigos do Líbano nos últimos anos é juntar a tensao e desordem política com atentados terroristas.
Desde a enorme explosao que matou o ex-primeiro ministro Rafic Hariri, em fevereiro de 2005, foram ao todo onze atentados, entre carros-bomba e assassinatos políticos. Um deles em frente ao meu antigo prédio, no bairro de Achrafie, leste de Beirute, que matou o jornalista e escritor Samir Qassir.
No começo os alvos eram claramente personalidades libanesas envolvidas de alguma forma com a vida política do país, com poucas vítimas colaterais, mas hoje a história é diferente.
A bomba que explodiu no distrito industrial de Karantina matou três cidadaos comuns, um sírio e dois libaneses. Além deles, mais de 20 pessoas que também passavam por acaso pelo local ficaram feridas, algumas com gravidade. Um número que eu acho pequeno, devido ao grande movimento de veículos e pessoas na via, ao lado de Daura, que é um dos principais pontos de passagem para quem entra e sai de Beirute rumo ao norte
Segundo a polícia libanesa, o alvo pode ter sido um carro da embaixada americana que passava pelo local, mas que sofreu poucos danos. Aparentemente, o que salvou o oficiais americanos foi o carro onde estavam os dois libaneses que foram mortos, que ultrapassavam o veículo oficial e, por puro azar, ficaram entre os diplomatas e o carro bomba.
A explosao coincide com o final da visita do presidente americano, George W. Bush, na regiao e aumenta ainda mais a tensao política e sectária no país, que está desde novembro sem presidente, já que os dois blocos políticos nao chegam a um acordo sobre o questoes vitais como o número de cadeiras no parlamento e o nome do novo presidente.
Pequenos enfrentamentos entre grupos xiitas e sunitas e entre grupos rivais cristaos já foram registradas e um atentado como esse só faz aumentar a instabilidade.
Se os políticos libaneses quisessem o bem do país, tratariam de por um fim à situaçao de total anarquia em que o país vive hoje e escolheriam já o novo presidente. Nao que isso fosse mudar muita coisa, mas o vácuo de poder só aumenta a sensaçao de insegurança na populaçao.
Karantina é hoje uma regiao industrial e de passagem para quem vai e vem de cidades do norte, como Jounieh, Biblos e Tripoli. Mas durante muito tempo foi uma grande favela habitada por refugiados palestinos e curdos. O local tem esse nome pq era como as pessoas se referiam à área como uma zona de quarentena para imigrantes refugiados, totalmente marginal à capital. Em 1976, nessa antiga favela, cerca de mil pessoas foram mortas em um ataque de milícias cristãs que ficou conhecido como um dos mais sangrantos massacres da história do país.
A mistura preferida dos inimigos do Líbano nos últimos anos é juntar a tensao e desordem política com atentados terroristas.
Desde a enorme explosao que matou o ex-primeiro ministro Rafic Hariri, em fevereiro de 2005, foram ao todo onze atentados, entre carros-bomba e assassinatos políticos. Um deles em frente ao meu antigo prédio, no bairro de Achrafie, leste de Beirute, que matou o jornalista e escritor Samir Qassir.
No começo os alvos eram claramente personalidades libanesas envolvidas de alguma forma com a vida política do país, com poucas vítimas colaterais, mas hoje a história é diferente.
A bomba que explodiu no distrito industrial de Karantina matou três cidadaos comuns, um sírio e dois libaneses. Além deles, mais de 20 pessoas que também passavam por acaso pelo local ficaram feridas, algumas com gravidade. Um número que eu acho pequeno, devido ao grande movimento de veículos e pessoas na via, ao lado de Daura, que é um dos principais pontos de passagem para quem entra e sai de Beirute rumo ao norte
Segundo a polícia libanesa, o alvo pode ter sido um carro da embaixada americana que passava pelo local, mas que sofreu poucos danos. Aparentemente, o que salvou o oficiais americanos foi o carro onde estavam os dois libaneses que foram mortos, que ultrapassavam o veículo oficial e, por puro azar, ficaram entre os diplomatas e o carro bomba.
A explosao coincide com o final da visita do presidente americano, George W. Bush, na regiao e aumenta ainda mais a tensao política e sectária no país, que está desde novembro sem presidente, já que os dois blocos políticos nao chegam a um acordo sobre o questoes vitais como o número de cadeiras no parlamento e o nome do novo presidente.
Pequenos enfrentamentos entre grupos xiitas e sunitas e entre grupos rivais cristaos já foram registradas e um atentado como esse só faz aumentar a instabilidade.
Se os políticos libaneses quisessem o bem do país, tratariam de por um fim à situaçao de total anarquia em que o país vive hoje e escolheriam já o novo presidente. Nao que isso fosse mudar muita coisa, mas o vácuo de poder só aumenta a sensaçao de insegurança na populaçao.
Karantina é hoje uma regiao industrial e de passagem para quem vai e vem de cidades do norte, como Jounieh, Biblos e Tripoli. Mas durante muito tempo foi uma grande favela habitada por refugiados palestinos e curdos. O local tem esse nome pq era como as pessoas se referiam à área como uma zona de quarentena para imigrantes refugiados, totalmente marginal à capital. Em 1976, nessa antiga favela, cerca de mil pessoas foram mortas em um ataque de milícias cristãs que ficou conhecido como um dos mais sangrantos massacres da história do país.
domingo, 13 de janeiro de 2008
Se depender dos políticos libaneses, o futuro do país já está escrito!
Há certas previsoes e análises que faço torcendo para estar errado. Principalmente as que venho formulando nos últimos três anos em relaçao ao futuro político, econômico e social do Líbano.
Já comprei brigas e inclusive fui censurado por diversas pessoas ligadas a associaçoes, fundaçoes ou órgaos políticos árabes no Brasil por meu "negativismo" e "pessimismo" em relaçao a atual situaçao do Líbano, diferente da abordagem utópica que é tao comum no meio árabe brasileiro de encarar o Líbano como um país das maravilhas, com suas lindas montanhas cobertas de enormes cedros e o centro majestoso de Beirute totalmente reconstruído.
Acho que deve ser muito fácil falar das maravilhas do Líbano quando se vive em um apartamento de luxo no Rio ou em Sao Paulo, indo passar férias uma vez ao ano numa casa de veraneio nas montanhas libanesas, da praia particular ao restaurante caríssimo dentro de um carro importado, totalmente alheio aos verdadeiros problemas do país.
E sao estes os libaneses que comandam o Líbano, a elite política corrupta formada por famílias que enriqueceram as custas da desgraça do país e passam de pai pra filho nao só as cadeiras do parlamento como tbm os apartamentos em Paris, Marbelha e Nova Iorque.
Enquanto quase um terço do país teve que deixar sua casa para trás enquanto Israel bombardeava de forma incansável cidades libanesas atrás dos "terroristas" do Hezbollah, os políticos que hoje acham que seus interesses pessoais sao mais importantes que escolher um novo presidente nao estavam em suas coberturas em West Beirut e sim com os rabos entre as pernas na Europa.
Foram movimentos comunitários e de jovens engajados que providenciaram as primeiras ajudas aos desabrigados da guerra contra Israel. Nenhuma surpresa já que a infra-estrutura do país e a presença do Estado no cotidiano dos libaneses é praticamente nula. Antes mesmo da guerra, nao havia um dia no qual nao faltasse luz ou água. Nao há estaçoes de tratamento de esgoto e o lixo vai parar em depósitos que sao verdadeiras montanhas tóxicas, às margens do Mediterrâneo, poluíndo as lindas praias da costa do país.
Um país que é tratado como se fosse descartável pelas potências regionais e internacionais, que só interferem quando seus interesses estao em jogo. E sao as mesmas famílias políticas que levaram o país à 15 anos de guerra civíl as que continuam no poder. A renovaçao existe, é verdade: de pai para filho. E a missao dos políticos libaneses nao é o bem do país e sim manter o bem da própria família, fazendo a vontade dos "aliados" em Washington, Paris, Riad, Damasco ou Teera.
A vaidade, arrogância, ganância e orgulho dos políticos libaneses que mantém, desde setembro, o país sem um presidente pode estar levando o Líbano rumo à novos conflitos sectários de proporçoes catastróficas. Já foram registrados pequenos enfrentamentos entre grupos xiitas e sunitas e entre grupos rivais católicos. O centro da cidade está sitiado pelo exército e Beirute vive sob a constante ameaça de assassinatos políticos e atentados terroristas que têm um crescente número de vítimas inocentes. A economia local vai de mal a pior, o desemprego aumenta a cada dia e os libaneses têm cada vez menos perspectiva de futuro no seu próprio país.
A disilusao aumenta ao ver o bate-boca dos vaidosos políticos de gel no cabelo e terno Armani, mais preocupados com as diferenças e interesses pessoais do que com o futuro do país.
Há quase quatro meses o Líbano está sem presidente. As eleiçoes, que deveriam acontecer no da 14 de setembro, sao adiadas constantemente pelas diferenças entre a aliança do governo e a oposiçao que nao conseguem chegar a um acordo em relaçao ao número de cadeiras no parlamento que cada um teria direito e o nome do novo presidente, entre outras coisas.
Em vez de discursos inflamados e pomposos mas sem nenhum conteúdo prático, os políticos libaneses têm que agir rápido para nao afundar o país ainda mais nessa situaçao de anarquia que precede o caos.
Mas conhecendo os políticos libaneses e seus aliados, um acordo nao deve acontecer tao cedo. Até pq eles nao tem pressa, já que no caso de uma escalada de conflitos, têm seus jatinhos com o tanque cheio esperando para levá-los de volta à Paris, Nova Iorque, Riad, Sao Paulo...
Há certas previsoes e análises que faço torcendo para estar errado. Principalmente as que venho formulando nos últimos três anos em relaçao ao futuro político, econômico e social do Líbano.
Já comprei brigas e inclusive fui censurado por diversas pessoas ligadas a associaçoes, fundaçoes ou órgaos políticos árabes no Brasil por meu "negativismo" e "pessimismo" em relaçao a atual situaçao do Líbano, diferente da abordagem utópica que é tao comum no meio árabe brasileiro de encarar o Líbano como um país das maravilhas, com suas lindas montanhas cobertas de enormes cedros e o centro majestoso de Beirute totalmente reconstruído.
Acho que deve ser muito fácil falar das maravilhas do Líbano quando se vive em um apartamento de luxo no Rio ou em Sao Paulo, indo passar férias uma vez ao ano numa casa de veraneio nas montanhas libanesas, da praia particular ao restaurante caríssimo dentro de um carro importado, totalmente alheio aos verdadeiros problemas do país.
E sao estes os libaneses que comandam o Líbano, a elite política corrupta formada por famílias que enriqueceram as custas da desgraça do país e passam de pai pra filho nao só as cadeiras do parlamento como tbm os apartamentos em Paris, Marbelha e Nova Iorque.
Enquanto quase um terço do país teve que deixar sua casa para trás enquanto Israel bombardeava de forma incansável cidades libanesas atrás dos "terroristas" do Hezbollah, os políticos que hoje acham que seus interesses pessoais sao mais importantes que escolher um novo presidente nao estavam em suas coberturas em West Beirut e sim com os rabos entre as pernas na Europa.
Foram movimentos comunitários e de jovens engajados que providenciaram as primeiras ajudas aos desabrigados da guerra contra Israel. Nenhuma surpresa já que a infra-estrutura do país e a presença do Estado no cotidiano dos libaneses é praticamente nula. Antes mesmo da guerra, nao havia um dia no qual nao faltasse luz ou água. Nao há estaçoes de tratamento de esgoto e o lixo vai parar em depósitos que sao verdadeiras montanhas tóxicas, às margens do Mediterrâneo, poluíndo as lindas praias da costa do país.
Um país que é tratado como se fosse descartável pelas potências regionais e internacionais, que só interferem quando seus interesses estao em jogo. E sao as mesmas famílias políticas que levaram o país à 15 anos de guerra civíl as que continuam no poder. A renovaçao existe, é verdade: de pai para filho. E a missao dos políticos libaneses nao é o bem do país e sim manter o bem da própria família, fazendo a vontade dos "aliados" em Washington, Paris, Riad, Damasco ou Teera.
A vaidade, arrogância, ganância e orgulho dos políticos libaneses que mantém, desde setembro, o país sem um presidente pode estar levando o Líbano rumo à novos conflitos sectários de proporçoes catastróficas. Já foram registrados pequenos enfrentamentos entre grupos xiitas e sunitas e entre grupos rivais católicos. O centro da cidade está sitiado pelo exército e Beirute vive sob a constante ameaça de assassinatos políticos e atentados terroristas que têm um crescente número de vítimas inocentes. A economia local vai de mal a pior, o desemprego aumenta a cada dia e os libaneses têm cada vez menos perspectiva de futuro no seu próprio país.
A disilusao aumenta ao ver o bate-boca dos vaidosos políticos de gel no cabelo e terno Armani, mais preocupados com as diferenças e interesses pessoais do que com o futuro do país.
Há quase quatro meses o Líbano está sem presidente. As eleiçoes, que deveriam acontecer no da 14 de setembro, sao adiadas constantemente pelas diferenças entre a aliança do governo e a oposiçao que nao conseguem chegar a um acordo em relaçao ao número de cadeiras no parlamento que cada um teria direito e o nome do novo presidente, entre outras coisas.
Em vez de discursos inflamados e pomposos mas sem nenhum conteúdo prático, os políticos libaneses têm que agir rápido para nao afundar o país ainda mais nessa situaçao de anarquia que precede o caos.
Mas conhecendo os políticos libaneses e seus aliados, um acordo nao deve acontecer tao cedo. Até pq eles nao tem pressa, já que no caso de uma escalada de conflitos, têm seus jatinhos com o tanque cheio esperando para levá-los de volta à Paris, Nova Iorque, Riad, Sao Paulo...