Até que enfim chegou a hora de fazer meu balanço geral do Festival do Rio BR 2001. Espero que sirva pelo menos prá quando você der de cara com algum desses filmes daqui a um tempo num cinema qualquer, saiba se vale ou não a pena pagar o ingresso.
Pela primeira vez consegui aproveitar direito o Festival, já que nos outros anos eu tava trabalhando feito um bóia-fria. Consegui ver 17 filmes nos nove dias de Festival que eu estava no Rio. Alguns excelentes, outros muito bons, uns regulares, mas, graças a Deus, não vi nenhum muito ruim.
Não vi nenhuma falha muito grave na organização do evento, como alguns viram. Ouvi reclamarem de estacionamentos, de banheiros pequenos, de falta de ingressos, de poucas sessões, etc... mas sinceramente acho que estão sendo um pouco rigorosos demais.
-A venda de ingressos pela internet funcionou perfeitamente (alguns erros de comunicação são praticamente inevitáveis). Só achei que eles exploraram pouco a publicidade da mesma. Pouca gente sabia que era possível e seguro comprar seu ingresso antecipado pela internet, inclusive imprimindo-o em casa.
-Os cinemas são localizados em bairros de grande movimento da cidade e não nos complexos lojísticos e "multiplexos" da Barra. Exigir vagas para todos é loucura. Mas todos os dias eu fui de carro e com um pouquinho de esforço consegui parar direitinho. Acho sim que eles poderiam Ter feito um acordo com a prefeitura para excepcionalmente liberar algumas ruas que não é permitido o estacionamento, visto que foram apenas 2 semanas e o evento é de grande importância para a cidade.
-Os banheiros sim, esses realmente são muito pequenos e mal planejados... abre o olho grupo Estação.
-Outra coisa que me incomoda muito é o letreiro de "saída" das salas do Estação Ipanema. São tão grandes e brilhantes que atrapalham a tela. Tinha que ser menores e mais discretos, como é normalmente.
-Aprovado o Centro Cultural da Justiça Federal. Confortável e aconchegante. Só precisa de uma estrutura mais profissional na administração de problemas.
-O clima de Festival é que mais me encantou. As pessoas realmente envolvidas e empolgadas com o evento. Era olhar para o lado e ver alguém com o roteiro, fazendo sua agendinha, marcando os horários e dias, para aproveitar ao máximo os quase 300 filmes do Festival. O encontrar pessoas conhecidas e trocar informações sobre os filmes que já havia visto, mudando seu roteiro de uma hora para outra, acrescentando "aquele" novo filme sueco que você nunca ouviu falar mas que disseram que é muito maneiro. Esse tipo de coisa que mais me cativou. Estudantes, velhinhos, cinéfilos, donas de casa, intelectuais, atores, curiosos... essa mistura de vidas e cotidianos completamente diferentes, criando um clima de expectativa dentro da sala de cinema em torno da próxima sessão... foi realmente muito legal.
Eu quero filmes bons o ano todo, mas um festival de cinema como esse tbm é necessário... é um acontecimento único no ano para quem gosta de cinema e um banho de cultura na nossa cidade maravilhosa!
Vamos a alguns filmes que valem ser lembrados:
Antes da Tempestade- Dir: Reza Parsa - Suécia
Vencedor do Festival de Cinema de Brasília, o filme conta as histórias de Ali e Leo. O primeiro imigrante do Oriente Médio que vive na Suécia há quase 20 anos. O segundo é colega de sua filha mais nova e aquele menino que sempre apanha dos colegas de escola. De repente os dois vêem diante de reviravoltas em suas vidas e são obrigados a tomar decisões eu podem mudar suas vidas para sempre. Um filme extremamente humano e denso. Mostra a fragilidade do ser humano diante das surpresas que a "vida cruel" pode nos trazer. Maravilhoso.
Batalha Real - Dir: Kinji Fukasaku - Japão (com Takeshi Kitano)
Nunca imaginei que sentaria num cinema e veria um filme como esse. Dirigido pelo veterano Kinji Fukasaku (de Tora, Tora, Tora), ele conta a história de um Japão num futuro próximo onde os jovens se rebelam e não respeitam mais os adultos. Não querem mais ir à aula, fazem o que bem entedem, etc e tal. Daí o governo aprova uma lei que consiste em, de tempos em tempos, sortear uma turma de alunos de algum colégio no Japão para ir para uma ilha deserta com a tarefa de, em três dias, matar todos seus coleguinhas de classe. O sobrevivente, ou seja, aquele que matar todos os colegas volta prá casa. Se no final dos 3 dias sobrarem mais de um todos morrem. É inacreditável... Em linguagem que lembra muito os desenhos e quadrinhos japoneses, o filme transcende todas as barreiras da imaginação e inventividade. Em passagens chocantes e sangrentas que nos levam da gargalhada ao constrangimento, o diretor faz uma brilhante crítica a juventude ocidental, cada vez mais fútil, egoísta e individualista. SENSACIONAL!
Sombras da Cidade - Dir: Jean Khalil Chamoun - França/Líbano
Ele conta a trajetória de um garoto libanês dos seus 12 anos até a vida adulta, todo esse tempo vivido durante a guerra entre muçulmanos e cristãos que dividiu Beirute por mais de 15 anos. Além do filme ser lindo e de grande sensibilidade, me tocou de maneira especial por minha descendência libanesa. A identificação com a língua árabe, os costumes... tudo me cativou. Apesar de artisticamente o cinema libanês ainda ser inferior ao iraniano, o diretor consegue fazer um grande filme. Realmente bonito e emocionante.
Promessas de um novo mundo - Dir: Justine Shapiro, B.Z. Goldberg, Carlos Bolado - Estados Unidos / Palestina / Israel
Lindo documentário retratando a história de 7 crianças israelenses e palestinas, que apesar de viverem a menos de 20 minutos umas das outras, são de culturas completamente diferentes e estão separados pela intolerância religiosa. O filme mostra uma emocionante e positiva perspectiva sobre os conflitos na região, vistos dos olhos das crianças. Excelente.
A Espinha do Diabo - Dir: Guillermo Del Toro - Espanha
De estética impressionante, essa mistura de drama e suspense mostra bem a excelente fase que se encontra o cinema espanhol. Se passando durante a Guerra Civil Espanhola, o filme mostra a história de um garoto de 12 anos que é abandonado num orfanato mal assombrado. Apesar de pequenos deslizes no roteiro e continuidade, as atuações impecáveis e a iluminação e fotografia realmente sensacionais, fazem do filme quase que obrigatório.
O Sobrevivente - Dir: Daniel Minahan - EUA
Um dos mais criativos do Festival junto com Batalha Real. O filme é nada mais nada menos do que um programa de TV exatamente igual um "No Limite" ou "Survivor", só que onde seus participante tem como grande objetivo matar os demais para ficar com o prêmio. Abusando da violência gratuita, o diretor faz uma criativa paródia crítica ao grande sucessos desses "reality shows" na tv americana.
I Want To Blow Silicon Valley - Dir: Jason Ward - EUA
Uma espécie de "Um Dia de Fúria", só que psicológico e passado no interior dos EUA. Conta a história de Rob Logan, jovem que retorna a sua cidade natal depois de quase 10 anos, devido a morte do pai. Essa terra é o Silicon Valley, reduto dos hippies e Hell's Angels há tempos atrás, que se transformou na terra dos yuppies americanos devido a concentração de empresas de informática. Rob vai se emputecendo com as mudanças até resolver explodir tudo aquilo que mudou tanto a sua terra natal. Simples, criativo e divertido. Muito bacana!
As aventuras de Jay & Silent Bob - Dir: Kevin Smith - EUA
Quinto e último filme em que Kevin Smith usa os seus personagens Jay e Silent Bob (esse último interpretado pelo próprio Smith). Não sei se é por esse motivo, mas parece que nesse Kevin Smith "liga o foda-se" e faz um filme divertidíssimo. Bobeira do começo ao fim (o que não quer dizer que seja idiota e burra como as comédias adolescente americanas). Duas horas de muita gargalhada.
A Fuga - Dir: Eduardo Mignona - Argentina
Narra a trajetória de 7 presos que fogem da prisão em Buenos Aires, no começo do século XX. Contando a história individual de cada um dos presos, antes, durante e após a fuga, o diretor faz um drama simples, extremamente humano e singelo. Mais um bonito filme dessa nova e boa fase do cinema argentino.
Esses são os filmes que eu recomendo e chamo de imperdíveis. Alguns devem ser lançados no Brasil, outros não. O que eu sei é que estou esperando ansiosamente pelo próximo Festival de Cinema do Rio... Se você perdeu o desse ano, não esquenta... ano que vem tem mais!
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