Quem será o próximo?
Demorei um pouco para escrever sobre o assassinato do membro do parlamento libanês e ex-juiz, Walid Eido, morto vítima de um carro bomba na quarta-feira da semana passada. Queria digerir um pouco melhor a notícia e baixar um pouco o sangue quente que subiu depois de mais essa tentativa canalha de desestabilizar ainda mais a frágil situaçao política do país.
Eido era do grupo de Hariri, sunita, e um jurista bastante respeitado, extremamente crítico das intervençoes sírias no país. Mas eu conheci mesmo Eido há pouco tempo, quando ele corajosamente foi a público chamar de "ocupaçao" as manifestaçoes, barricadas e tumultos em Beirute provacados pelo Hezbollah numa tentativa frustrada de derrubar o governo. Eido comparou as revoltas urbanas e toques de recolher em toda a cidade impostos pelo grupo naqueles dias com a ocupaçao israelense no sul do Líbano.
A capa do L'Orient-Le Jour no dia seguinte ao assassinato de Eido trazia a seguinte manchete:
"70...69...68."
Essa contagem regressiva é pelo fato de que, como nao há suplentes no parlamento libanês, eliminando os parlamentares que apoiam o governo até o número de 65, o primeiro ministro Fouad Siniora perde a maioria na casa. Primeiro foi o líder das Falanges Libanesas Pierre Gemayel, morto em novembro do ano passado... Agora Eido... seja lá quem esteja por trás disso, agora só precisa matar mais três parlamentares governistas.
Eido foi morto, assim como meu vizinho e genial jornalista e intelectual Samir Kassir, o nobre comunista George Hawi, o corajoso jornalista Gibran Tueni e o também parlamentar Pierre Gemayel... Em comum? Todos eram ativistas e críticos contra a interferência síria no país.
Mas nao há nenhum suspeito ou nenhuma prova que a Síria esteja por trás da morte de Eido... como nao há das mortes de Kassir, Hawi, Tueni, Gemayel... Pra falar a verdade, nao há nem mesmo pistas... nao há nenhuma prisao... nunca ouvi falar de nenhuma investigaçao...
Parece que realmente mais fácil colocar a culpa desses acontecimentos na instabilidade interna do Líbano e continuar dizendo que o país está indo por um caminho sem volta rumo à conflitos internos.
Vai ver por isso nao há investigaçoes, pistas, prisoes ou culpados... há apenas mortos. E enquanto essa indiferença bizarra continuar e ficarem todos pendentes desse tal tribunal internacional que "trará justiça" aos que mataram Hariri, mortos continuarao.
Nao adianta apenas culpar os elementos externos das desgraças, se os agentes internos simplesmente perderam totalmente a fé e confiança no seu estado ao ponto de pensar que a única investigaçao quer funcionaria seria de fora! Nao vai ser um tribunal imporovisado da ONU que vai resolver os problemas do Líbano e vai acabar com essa onda desenfreada de assassinatos políticos.
Os próprios libaneses tem que encontrar uma forma de neutralizar de vez essa dependência de fatores externos para resolver seus problemas internos e, ao mesmo tempo, uma forma de também neutralizar fontes externas de instabilidade. E passar assim a tentar entre eles pacificar as insatisfaçoes internas, achando de vez um sistema realista e igualitário de governo. Pq enquando o Líbano continuar sendo esse país de marionetes e esse palco de atrocidades de vizinhos sádicos, mais políticos, jornalistas e intelectuais vao fazer companhia no cemitério a como Eido, Kassir, Hawi, Tueni, Gemayel e tantos outros.
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