Falemos sério... A positiva síndrome de 1989 que infectou a imprensa brasileira nestas eleições, tem produzido pérolas do melhor e mais bem feito jornalismo político, aquele que não deixa passar um deslise sequer, de quem quer que seja, e vaculha a vida e o passado de todos os candidatos. E nesta, meu caro, se dá mal quem tem o teto de vidro mais fino... O Elio Gaspari (o melhor texto do jornalismo brasileiro) em sua coluna de hoje dá uma boa cutucada no Ciro. O texto a seguir é apenas mais um exemplo de como o candidato da Frente manipula fatos a seu favor, é mal informado e muda de opinião quando lhe convém. No artigo de hoje, Elio Gaspari, com toda sutileza, mostra que este discursinho messiânico de opositor às oligarquias não passa de mais uma de suas palhaçadas... Dá uma olhada!
Ciro e a oligarquia alheia
"Com alguma freqüência Ciro Gomes se apresenta como adversário das oligarquias. Chegou a escrever um artigo intitulado “O Estado contra as oligarquias” e já acusou FFHH de representar “a oligarquia parlamentar”, sustentando-a com “pão-de-ló”. Também acusou o ex-senador Antonio Carlos Magalhães de representar a oligarquia nordestina e chegou a dizer que era necessário recorrer à “retórica explícita da mobilização popular contra o encastelamento institucional das oligarquias”. É seu direito dizer o que quiser, mas fica a impressão de que Ciro Gomes confunde adversário político com oligarca.
Os fatos mostram que as relações de parentela fazem de sua ascendência a única entre os candidatos a presidente com direito a verbete no Dicionário das Famílias Brasileiras.
Nem o mais rematado bajulador seria capaz de achar a origem do Silva de Lula. Serra, por sua vez, é filho de um imigrante italiano. Ciro está na família Ferreira Gomes, cujo rastro vem do século XVIII. Poderia ser apenas família velha, visto que Lula e Serra, como todos os demais filhos de Deus, têm um ascendente no século XVIII, mas há um Ferreira Gomes (Antônio) presidindo a Câmara de Vereadores de Sobral em 1825. A família governou a cidade pela primeira vez em 1890. O bisavô, o avô e o pai de Ciro governaram Sobral, uma típica cidade nordestina, singular apenas pela presença, no seu centro, de um arco do triunfo, semelhante, em escala menor, ao de Paris. É homenagem a Nossa Senhora de Fátima.
Os Gomes poderiam ser apenas um caso de família velha com esparsas vocações políticas. Não é o caso. Hoje, Sobral é governada pelo ex-deputado Cid Gomes, irmão de Ciro. Patrícia, sua primeira mulher, é candidata ao Senado e foi deputada estadual. O responsável pela captação de recursos para a campanha de Ciro é seu irmão Lúcio, mas isso não é da conta de ninguém.
Poderia ainda ser um caso de família unida, porém solitária, na política. Também não é. O principal assessor econômico de Ciro é o professor e deputado Mauro Benevides Filho, que, como diz o nome, é filho de Mauro Benevides, ex-senador, que, por sua vez, é filho do deputado Carlos Benevides e pai do deputado Carlos Benevides Neto, noves fora o sogro e um cunhado deputados.
O candidato de Ciro ao governo do Ceará é o senador Lúcio Alcântara, filho do senador Waldemar Alcântara e pai do deputado Léo Alcântara.
Liderada por Tasso Jereissati, que certamente terá o gosto de se eleger senador (como seu pai), a coligação de que Ciro faz parte tem tudo para completar 20 anos ininterruptos de poder no Ceará. Seja qual for o nome desse tipo de longeva composição, nenhuma oligarquia nordestina conseguiu virar título de livro de professora do Massachusetts Institute of Technology (“Bom governo nos trópicos”, de Judith Tendler).
Todos os candidatos oferecem um futuro melhor. Ciro Gomes, ao se apresentar como um santo guerreiro contra o dragão das oligarquias, oferece uma novidade: um passado melhor."
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