Ontem o Rodrigo Resende foi campeão mundial de Tow-in... Enquanto todos esperevam uma lavada do Burle e do Gueiros, o Resende (ao lado do havaiano Garret McNamara) chegou quietinho e levou a bolada, como sempre faz.
Ontem eu tava conversando com uns amigos sobre surf de ondas grandes e eles me vieram com a história de que tem que ser maluco para fazer algo como o Resende, o Burle, o Laird Hamilton e etc fazem. Eu já digo o contrário: tem que ter é muita cabeça e sangue frio, isso sim! Não é a toa que você não vê moleque despencando nas maiores e se destacando em ondas gigantes como as de Jaws e Mavericks. Todos são trintões, quarentões e até cinqüentões (como Gerry Lopez) com uma, duas, três, quatro décadas de experiência no esporte. Caras que conhecem o oceano como ninguém e conhecem suas limitações frente a ele. O que conta é a experiência.
Quem inventou o Tow-in foram os veteranos big riders Laird Hamilton, Darrick Doerner e Gerry Lopez. O primeiro um waterman australiano de berço, o segundo um dos mais respeitados salva vidas do Hawaii e o terceiro uma das maiores (senão a maior) lenda viva do surf havaiano. Eles cansaram de ficar apenas admirando as ondas de Jaws (na ilha de Maui, Hawaii) nos dias gigantes, que de tão grandes eram impossíveis de se dropar apenas remando... Eles ficavam horas sentados no topo da colina em frente o pico, imaginando como surfá-las... tinha que ter um jeito. Foi então que eles inventaram esse misto de surfe, windsurfe e esqui-aquático, onde o surfista monta numa prancha com alças para prender o pé (como no windsurfe) e é puxado por um jet ski para dentro da onda. Hoje em dia já se fala que não há mais limites para o surfe em ondas grandes...
Apesar do tow-in estar em alta, minha hitória sobre o Rodrigo Resende é sobre surfe normal. Foi com ele que tive a experiência mais marcante com o surfe em toda minha vida. Era maio de 2001. A clássica ressaca de inverno no litoral brasileiro veio com força total, trazendo ondas de 4 metros para as praias do Rio de Janeiro. Acordo num domingo de manhã (dia 6), mais ou menos umas 10h. O dia era chuvoso e frio... muito vento. As manhetes dos jornais só falavam da ressaca. Resolvi trocar de roupa e dar um pulo ao Pontal do Leblon prá dar uma olhada nas ondas, afinal de contas são só dois quarteirões aqui de casa.
Antes de chegar na praia, já era possível escutar o barulho das massarocas quebrando nas pedras... O visual era inacreditável: o vento forte batia nas séries de 3 a 4 metros, que quebravam sozinhas, perfeitas, impossíveis de serem transpostas pelos surfistas mais aventurados. Estavam lá como se existissem apenas para serem admiradas... Até que um jet ski passa rasgando por trás da arrebentação e vai em direção à Lage do Sheraton. Eu e umas 50... 60 pessoas que estavam no calçadão saimos correndo para o mirante para ver o que era aquilo... Os dois indivíduos começaram a sessão de Tow-in lá na Lage, com ondas gigantescas! Nisso a multidão ia aumentando e chegava a notícia que eram Carlos Burle e Eraldo Gueiros lá fora. A sessão foi clássica... animal! Quando já estava indo para casa, satisfeito, vejo um sujeito na areia com uma prancha giga na mão. Eu olhei e pensei "Ah não, esse cara não vai encarar?!"
E ele encarou! Sozinho... no braço!
Umas 150 pessoas no calçadão e no mirante gritavam, aplaudiam e praticamente dropavam junto com ele cada uma das muitas ondas que ele desceu nesse domingo abençoado. O cara se atirava em todas, sem medo e com uma disposição impressionante... Nunca imaginei que fosse presenciar cenas como aquelas no Brasil. Só depois fui descobrir que era o Rodrigo Resende na água.
Depois desse dia, aquele que prá mim antes era apenas mais um surfista que eu apenas respeitava, passou a ser um dos meus ídolos no esporte. Um cara que representa prá mim o espírito do surfista brasileiro, com raça, disposição, talento nato e vontade de vencer. Aquele cara que não amarela nem em terreno adversário!
Parabéns Rodrigo "The Moster" Resende!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário