Caçando o passado
Este mes as viagens pro Bekah vao ser constantes... tres fins de semana seguidos. No sabado passado fomos eu e meu primo Chafic, filho mais novo do tio Esper e um dos meus melhores amigos aqui no Libano, fomos a Rass-Baalbeck para caçar.
Mais de 10 anos havia desde a ultima vez que eu disparei uma arma de fogo, no Brasil. Com a proibicao da caça e as leis cada vez mais rigidas para o porte de armas, foi um hobby que tive que acabar deixando vivo apenas na memoria daquelas manhas no Sitio Arranha Gato ou na Fazenda da Serra, quando ainda crianca ia com meu avo e seu perdigueiro Kojak caçar codorna, marreco ou paturi, enquanto minha mae e minha avoh nos esperavam para prepara-los para o almoco.
Enquanto meu pai sempre foi minha referencia de carater e profissional, meu avo Felipe sempre foi uma especie de idolo... icone! Aquele super-heroi inalcancavel que quando crianca vc sonha tentar repetir as suas aventuras. No colegio, minhas redacoes de "Como foram suas ferias" faziam a classe ficar em silencio... mas tbm pudera: qual dessas criancas ali da Zona Sul do Rio de Janeiro poderiam se imaginar no meu lugar, vivendo um filme no mundo real, onde um cachorro faz de verdade aquilo que a gente ve em desenho animado... levantar a pata da frente quando ve um passarinho e esperar o sinal do dono pra espanta-lo e, quando ele voa, o seu avo dah um tiro certeiro, com ele no ar e o cachorro traz na boca a ave abatida... Uaaaau!!!
Eu adorava Santa Rita do Sapucai e as ferias na casa do vovo... Nao na casa em si, mas na sua loja, de onde metade da cidade guarda lembrancas de ter comprado chumbinho para matar pardal com sua espingarda de pressao. Pois eh... em sua loja na "Rua da Ponte", meu avo vendeu armas, porcelanas e tecidos por mais de 60 anos. Foi ele quem me ensinou a atirar, mas antes de tudo, a respeitar e manusear com responsabilidade uma arma de fogo. Mas nao soh isso... eu adorava sentar na loja e ficar fumando cigarro de palha com ele, fucando em facas e canivetes, ajudando nas vendas e esperando a hora do cafeh da tarde.
Eu achei que esse tipo de "mah influencia" era exclusividade minha, mas um dia conversando com o Arnaldo Jabor na redacao, descobri que deve ser um "problema" dos avos libaneses... Compartilhamos das mesmas lembrancas de como nossos avos nos ensinaram a fumar, a beber e, o mais importante, nos ensinaram os "segredos" das mulheres... Coincidencia ou nao, algumas semanas depois ele escreveu uma coluna sobre suas lembrancas de infancia com o avo e como eh de responsabilidade dele ensinar ao neto tudo aquilo de melhor que o mundo tem a lhe oferecer!
E foi com essas lembrancas se remoendo que transpuz o Monte Libano e rumei a Fakeha, sua terra natal. Estava pretes a pisar no mesmo vale e montanhas onde ele pisou nas suas primeiras cacadas, terra das historias que ele me contava sobre lobos traicoeiros e longo inverno gelado... Prestes a caçar muito mais do que codornas e passarinhos... Prestes a caçar uma parte do meu passado!
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