segunda-feira, 26 de março de 2001

Como é bom saber que um ídolo da profissão, alguém com muito mais experiência e discernimento, pensa exatamente como você. Principalmente num assunto polêmico como música nos dias de hoje. Vira e mexe eu sou hostilizado quando falo sobre isso, portanto várias vezes repensei minha posição, mas sempre chego a mesma conclusão: O que é boa música hoje em dia? Cara, com os zilhões de estilos e vertentes, é humanamente impossível você conhecer de tudo para falar o que é ruim e o que não é. Quando li a coluna de Nelson Motta no Globo de ontem (Manhattan Connections), foi como se eu estivesse lendo meus próprios pensamentos, só que agora com a clareza da experiência e genialidade do Nelson Motta. Faço minhas as palavras dele, que seguem abaixo. Um dia eu chego lá!

A música e o tempo

Nelson Motta

"Eu não sei fazer música - mas eu faço!eu não sei cantar as músicas que faço - mas eu canto!ninguém sabe nada! ninguém sabe nada! ninguém sabe nada!"

Berrava Branco Mello em 1990, numa pequena grande música dos Titãs, uma das mais anárquicas e irônicas, que passou despercebida mas é uma de suas grandes criações, e está mais atual do que nunca. Quem sabe hoje o que é "boa música"? Boa para quê, para dançar? Ou para ouvir? Ou pensar, ou sonhar, ou se alegrar, ou chorar ou... sim, a música popular virou commodity.

Hoje são tantos e tão variados os gêneros musicais, tantas as diversas culturas que os geraram, tantos os valores extramusicais que interferem na percepção de uma música, tal a oferta de produtos, que é absolutamente impossível alguém conhecer o suficiente de todos eles para poder fazer honestamente juízos qualitativos em termos absolutos. É inútil comparar frutas com carnes e peixes, a cada um o seu gosto. A partir de um certo patamar de qualidade - que existe dentro de cada gênero musical, com seus critérios específicos - é possível, no máximo, estabelecer hierarquias. O mais é gosto pessoal, preferências, memórias, momentos. Direitos de todos.

Não sei por que incomoda tanto a tantos o "baixo nível" do que chamam de música de massa no Brasil. Como se não existissem "boas músicas" em cada uma das vertentes e estilos que fazem a força e a riqueza de nossa música. Como se os grandes mestres tivessem deixado de compor, como se não tivessem aparecido novos talentos. Claro, a "música de massa", do rádio e da TV, sempre, mesmo nas fases mais criativas da música brasileira, sempre foi uma porcaria para ouvidos mais sofisticados, e continua sendo. Mas cumpriu o seu destino de commodity, foi usada e descartada, hoje ninguém ouve mais falar de todos aqueles sucessos bregas que entupiam rádios e TVs nos anos 70, quando Chico e Caetano e Gil e Milton explodiam para o sucesso popular. Assim será com essa porcariada de hoje, que está sendo usada conforme as necessidades e descartada assim que surge produto mais atraente, ao sabor do momento. Todo mundo sabe que o público de sucessos não gosta da música, mas do sucesso, do próximo. É o publico mais infiel que existe, por sua própria natureza. Enquanto isso, outros artistas constroem suas carreiras estabelecendo vínculos e lealdades com seu público, crescem juntos, pouco a pouco e duram... duram... duram... no tempo e no coração da gente. São esses que interessam. E, felizmente, eles não são poucos."

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