segunda-feira, 12 de novembro de 2001

POR QUE EU ODEIO OS BEATLES

Foi em 1970 que John Lennon disse: “O sonho acabou.” De nada adiantou. Ele continua aí a assombrar-nos, cadáver insepulto.

Os Beatles até fizeram umas musiquinhas legais. Gosto dos riffs de guitarra de “Taxman” e “Paperbaker writer”. E realmente lamento que Lennon não tenha arrumado o coro de monges tibetanos para fazer “hmmmm” em “Tomorrow never knows”, embora prefira a versão de “Yesterday” do Fred Banana Combo. Vá lá, o Paul McCartney era um bom baixista. Nunca comprei um disco deles, costumo trocar de estação aos primeiros acordes de “Hey Jude” no rádio. Eles não deveriam me incomodar, então. O problema é que o maior legado do quarteto de Liverpool não foram as suas canções, mas a beatlemania.

Os beatlemaníacos radicais são antepassados diretos dos fãs dos Backstreet Boys e congêneres. Com um agravante: são fundamentalistas. Para eles, existem apenas três tipos de pessoa que não consideram os Beatles a maior banda de rock’ n’ roll de todos os tempos e “Imagine” a mais bela canção já escrita: as dignas de piedade, as que nada entendem de música e as desalmadas, insensíveis, sem coração mesmo, sabe? Sua verdade absoluta é que os quatro cabeludos jamais fizeram nada de ruim — incluindo “Love me do”. Até aí, novamente, tudo bem.

Mas há um trauma da minha juventude difícil de superar. Naquela época — lá para o fim dos anos 70, início dos 80 — era comum que as festas fossem interrompidas, quando estavam prestes a pegar fogo, por algum beatlemaníaco de galochas munido de violão — instrumento para o qual, aliás, deveria ser exigido do usuário carteira de habilitação — aos gritos de “I wanna hold you haaaand!”. Ora, vá ao show do Terra Molhada mas não me chame! (Eduardo Souza Lima, O Globo)

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