quarta-feira, 30 de março de 2005

O quarto dia

Desde a primeira explosao, em Jdeide, quatro dias depois explodiu a segunda em Kaslik e, mais quatro dias, a de Decueine, ultimo domingo, quatro dias atras.

Imagino como deve estar Beirute hoje, com essa bizzara "certeza" de que outro atentado hj vai acontecer. Vim passar uns dias em Madrid mas diariamente falo com amigos lah no Libano e nao vejo sinais de melhoras na situacao. Mesmo com a segunda renuncia de Karami, esperada para amanha, parece que a tensao nao vai melhorar.

Um sinal eh a ONU, que alem de ter instalado agora um sistema de mensagem de texto para o celular todos seus funcionarios com um update diario da situacao, decidiu hoje em uma reuniao "aconselhar" todos os seus estagiarios extrangeiros a deixar o paihs. Pra quem nao sabe, 90% dos estagiarios da ONU sao como eu, extrangeiros que tiram de 3 a 6 meses de um ano para vir a Beirute trabalhar na ONU e complementar suas pesquisas de mestrado ou doutorado. Se a intensao foi assustar-nos, ponto pra eles, mas em uma coisa estao corretos: com a resolucao 1559 e agora esse relatorio de investigacao da morte de Hariri, qualquer escritorio da ONU em Beirute se tornou top 3 em alvos potenciais para novos ataques.

segunda-feira, 28 de março de 2005

Descanso

Estou na Espanha aproveitando a semana de folga no trabalho e mestrado. Para nao deixar o blog desatualizado, vou tentar fazer sempre que possivel um balancao das noticias publicadas por meios de comunicacao arabes. E no dia 3 de abril estou de volta a Beirute e volto a fazer meus relatos da capital Libanesa.

quarta-feira, 23 de março de 2005

Sinais

*O enviado da ONU, Terje Roed-Larsen, diz temer pela escalada da vilencia;

*A CNN acaba de mandar mais um correspondente para o Libano... agora sao quatro jornalistas que a rede americana estah mantendo em alerta no pais;

*A ONU fecha para transito o quarteirao do seu predio, por tempo indeterminado, "por motivos de seguranca";

*Duas bombas explodem em diferentes bairros cristaos, sendo que a segunda mata 3 em Kaslik, norte de Beirute.

Podem ser apenas coincidencias, mas os sinais dados nesses ultimos dias estao elevando o nivel de tensao aqui no Libano. As pessoas estao assustadas e temem que os ultimos atentados sejam apenas o comeco. Por enquanto foram durante a madrugada, em lugares sem movimento, mas nos ultimos dias os beirutanos estao evitando lugares publicos, movimentados ou que representem qualquer simbolismo para qualquer das partes envolvidas no cenario politico libanes. O medo estah crescendo e o clima de ansiedade criado em torno do relatorio dos investigadores da ONU sobre a morte de Hariri, que deve sair essa semana, soh faz aumentar o nervosismo. E se os resultados forem realmente estes que estao comentando, de envolvimento de autoridades Sirias e Libanesas na morte do ex-primeiro ministro, o paihs pode estar prestes a encarar o momento mais dificil da sua historia pos-guerra civil.

segunda-feira, 21 de março de 2005

Entrevista para o jornal A Tribuna, de Santos.

domingo, 20 de março de 2005

Crise e drama na noite de Beirute

Uma das maiores preocupacoes hoje dos libaneses nao eh a escalada da violencia ou dos atritos entre as partes envolvidas no cenario politico, mas sim a crise economica que ameaca o paihs ha anos e que agora parece inevitavel.

E os primeiros sinais comecam a ser vistos na um dia movimentada e agitada noite da capital. Garcons estao sendo demitidos aos montes e os donos de restaurantes e casas noturnas estao em panico pela queda brutal de clientes no centro novo de Beirute e na regiao de Mono, famosa pelas boates e pubs sempre lotados de libaneses e turistas do mundo todo. Os hoteis comecam a fazer ofertas e mais ofertas, assim como as lojas de material de esqui, que comecaram suas promocoes muito antes da hora. A morte de Hariri e o medo da violencia nao soh afastou os turistas. Os Libaneses nao estao saindo mais de casa para se divertirem, declaradamente numa politica de corte de gastos e economias para uma emergencia qualquer.

Como em tudo aqui no Libano, nao ha numeros concretos sobre essas mudancas, mas nao precisa nem ser pesquisador ou analista para notar a diferenca. Essa semana a Associacao Comercial de Beirute mandou faxes para todas as embaixadas da capital, declarando abertamente a crise de clientes, quase que implorando aos extrangeiros que aqui trabalham para irem comer ou fazer comprar nos estabelecimentos do centro reconstruido.

Taxistas sao outros que sofrem com a queda de movimento, pois dependem do fluxo de clientes. Ontem, sabado, o dia mais movimentado da semana, a rua Mono estava completamente vazia, com as discotecas e bares fechando as portas antes das duas da manha. No taxi que peguei para ir para casa, conversando com o motorista sobre esse assunto, um senhor de seus 50 e poucos anos, se pos a chorar torrencialmente mostrando a agonia daqueles que dependem da noite para sustentar suas familias.

A situacao criada no paihs apos a morte de Hariri estah afentando profundamente a vida dos libaneses que temem por tempos ainda mais dificeis. A economia libanesa hoje depende totalmente do turismo e entretenimento, uma industria que soh funciona com estabilidade e seguranca. E enquanto a situacao politica estiver nessa indefinicao, a possibilidade de uma crise de grandes proporcoes eh cada vez mais evidente.
Preocupacoes

"Eu estava e continuo muito preocupado com o potencial de violencia no Libano. Eh por isso que tenho pedido tanto para todas as partes envolvidas de se alcamem, pois os animos estao muitos exaltados"

Essas foram as palavras de Terje Roed-Larsen, enviado especial da ONU e representante de Kofi Annan para coordenar os dialogos entre autoridades Sirias e Libanesas. Essa declaracao foi dada poucas horas antes da explosao da ultima sexta-feira.

Roed-Larsen completou dizendo que se preocupa muito com a possibilidade de outro atentado contra expoentes da politica libanesa, como o que matou Hariri a 5 semanas.

No sabado pela manha mais 3 bombas foram desarmadas no bairro de Bourj Hammoud, regiao armenia nos suburbios ao norte de Beirute.

sábado, 19 de março de 2005

CARRO BOMBA EXPLODE EM BEIRUTE!

Cinco semanas apos o atentado que matou Hafik Hariri, outra explosao de grandes proporcoes trouxe de novo panico para as ruas da capital libanesa. Por volta da meia noite, um carro bomba explodiu no bairro de Jdeide, leste de Beirut. Ateh agora nao ha noticias de mortos, mas varias pessoas estao hospitalizadas.

quarta-feira, 16 de março de 2005

Libano e Siria

Por Charley Reese*

Tinhamos acabado de terminar nosso jantar. Carneiro, arroz e tabule. Nosso anfitriao e fluente em varias linguas estava falando sobre Oriente Medio. Ele eh Curdo e Sirio.

"E um general Frances colocou seus pehs na cova de Saladin e disse 'Saladin, nohs voltamos'"

Ele joga essa frase e seu rosto comeca a ficar vermelho, seguindo de soco na mesa que faz ateh os pratos pularem. Sua esposa parece um pouco envergonhada com a situacao criada com esse subito ataque de emocao. O incidente que o fez ficar tao furioso soh de lembrar-lo aconteceu muito antes dele nascer.

Ele estava falando da grande traicao que ocorreu no fim da 1a. Guerra Mundial. Os Arabes contavam com a promessa de um paihs independente se lutassem contra os Turcos e a dominacao do Imperio Otomano.

Era uma grande mentira!

Pelas costas dos Arabes os Ingleses e Franceses negociaram um acordo secreto para dividir o Oriente Medio entre os dois paises. Franca ficou com a Siria e, cortando a parte oeste das montanhas ateh o Mediterraneo, criou o Libano. Assim como os Britanicos criaram a Jordania separando a Palestina a leste do Rio Jordao.

Saladin era um Curdo nascido em Tikrit, onde Saddan Hussei nasceu. Saladin foi quem lutou contra os Cruzados e expulsou-os de Jerusalem.

O motivo de estar dizendo isso tudo eh para mostrar que nada no Oriente Medio eh tao simples como nosso presidente e sua gangue neoconservativa pensam. Para muitos Sirios , o Libano ainda eh uma parte da Siria, assim como muitos Libaneses tbm o pensam. E nao eh supresa nenhuma ver a Franca se juntando aos EUA para pedir a saida da Siria do Libano. Franca tbm nao eh assim tao popular tanto na Siria quanto no Libano. E o presidente Siro nao estah retirando suas tropas do paihs, como a midia internacional estah reportando. Ele estah apenas movendo-as e coloncando-as ao longo da fronteira - e do lado Libanes.

A situacao nao eh, como Bush insiste em dizer, uma ocupacao extrangeira que tira a soberania de um paihs contra sua vontade. Eh mais parecida com o caso daquele parente que foi convidado para sua casa e acabou ficando um pouco mais do que o anfitriao esperava. A verdadeira ocupacao extrangeira eh a Americana no Iraque e a Israelense nas Colinas de Golan e Wes Bank.

Mas mesmo se a Siria resolver tirar suas tropas do Libano, nao serah o fim da influencia Siria no paihs. Ha os Druzos, os Maronitas, os Ortodoxos, os Sunitas, os Xiitas e os Refugiados Palestinos. Eles estiveram em uma sangrenta guerra civil e foram os Sirios que, quando chamados, termiram com os conflitos.

Se o nosso presidente nao estivesse tao bebado de imperialismo e tao sucetivel a aceitar as beisteiras que os Israelenses sussurram em seu ouvido, ele iria nos tirar imediatamente do Oriente Medio e deixar terrorismo por conta da CIA e das Forcas de Operacoes Especiais. Como meu amigo ilustrou, o povo daquela parte do mundo tem uma memoria muito diferente da nossa aqui no ocidente. Para nohs, o passado eh mais como uma historia que lemos nos livros. Mas para eles, eh uma coisa que faz do presente. E eles tambem veem o tempo de uma forma diferente da gente. Quarenta... cinquenta... Nunca eh tarde demais para eles buscaram vinganca. Se nosso presidente continuar se intromentendo naquela parte do mundo, ele vai terminar em mais guerras do que podera aguentar.

A atual administracao insiste em ir a midia e dizer com orgulho que a democracia finalmente esta chegando ao Oriente Medio. O povo do Oriente Medio jah vem tendo eleicoes ha varias decadas. Bush esqueceu, convenientemente, que Yasser Arafat foi eleito em eleicoes livres. O problema eh que os resultados das eleicoes nao duram muito... E nao ha razao alguma que leve a crer que no Iraque serah diferente.

O Oriente Medio eh cheio de ruinas deixadas pelas superpotencias do passado. E como um amigo Palestino costuma dizer, apontando para aquelas ruinas: "Eles todos jah se foram. Nohs continuamos aqui!"

(*Charley Reese eh jornalista ha 49 anos, foi editor do Orlando Sentinel de 1971 a 2001 e hoje escreve regularmente seus artigos em varios jornais e sites da internet. Este artigo foi escrito em 14 de marco de 2005 para o site LewRockwell.com e traduzido para portugues por Fernando Kallas)

terça-feira, 15 de março de 2005

Intervencao internacional e instabilidade

Com a saida das tropas Sirias em curso, muitos lideres internacionais e membros do Conselho de Seguranca da ONU comecam a levantar a hipotese de um envio de uma tropa de pacificacao internacional para ocupar um possivel vacuo de seguranca e estabilidade que poderia ser provocado com a saida das ausencia das forcas sirias no paihs.

Muito porque durante anos o governo libanes manteve a justificativa de que o exercito Sirio soh continuava no paihs pq era responsavel direto pelo mantenimento da paz e estabilidade no Libano, um paihs de quase 200 anos de historia de fortes conflitos entre as diferentes etnias e credos que vivem aqui na regiao.

Mas quando se fala em "substituir" a Siria pela ONU, muitas vozes se levantam em negativa, lembrando que intervencoes internacionais no Libano nao tem um passado muito promissor, indo da tragica Forca Multi-Nacional (MNF) em 1983, que acabou sendo expulsa de Beirute pela sucessao de homens bombas, ateh a impotente UNIFIL, na fronteira entre Libano e Israel.

Um de meus professores, o turco Timur Goksel, um dos responsaveis pelas pelas forcas de pacificacao da ONU no sul do Libano de 1979 a 2003, diz claramente que uma intervencao internacional agora, apohs a saida da Siria, seria catastrofica. "Nao consigo ver a ONU substituindo a presenca Siria no Libano. Seria um suicidio!" Goksel diz. "A situacao hoje eh de politica interna e nao um trabalho para pacificadores. E quando se envolve com as politicas locais de um paihs que nao o seu, vc se torna uma parte do problema e nao da solucao!" complementa.

Um oficial da ONU aqui em Beirute disse que as conversas sobre uma forca de pacificacao no Conselho de Seguranca aconteceram nos primeiros estagios e que nao ha nada de concreto planejado. O Secretario de Relacoes Exteriores da Inglaterra, Jack Straw, sugeriu no comeco deste mes que 2 mil homens da UNIFIL fossem redirecionados do sul do paihs para as regioes de onde a Siria estah se retirando. Mas agora, com as tropas realmente saindo, o governo libanes diz nem considerar a ideia de pedir uma forca de estabilizacao.

O Hezbollah tambem rejeita de qualquer maneira uma intervencao extrangeira no paihs, dizendo que nao avera nenhum problema de seguranca e que a Siria "ajudou a trazer paz para o paihs".

A historia mostra que o Libano nunca foi um porto seguro para forcas de pacificacao internacional. Em 1958, durante a primeira guerra civil, uma tropa de Marines americanos foram mandado para apoiar o presidente Chamoun. Quando o pelotao chegou a costa libanesa, o embaixador americano mandou um relatorio convencido que nao seria necessaria a intervencao americana e que o exercito libanes seria mais do que capaz de controlar a situacao. O relatorio foi ignorado e quando os Marines desembarcaram nas praias libanesas fortemente armados se viram frente a frente com o milhares de pessoas de calcoes e biquinis, curtindo o verao na maior tranquilidade.

Os mesmos Marines voltaram a Beirute em 1982, mas desta vez nao tiveram a mesma sorte. Vieram como parte da forca de coalizao entre quatro paises para acompanhar a evacuacao das guerrilhas Palestinas de Beirute, apos Israel invadir o Libano. Primeiro foram bem recebidos pelos libaneses, mas atitudes mudaram quando a Marinha Americana, atracada na costa de Beirute, comecou a atacar milicias que se opunham ao presidente Amin Gemaiel. Com isso os americanos se tornaram apenas mais uma das partes envolvidas nessa grande bagunca que foi a guerra no anos 80. Na manha de 23 de outubro de 1983, um homem bomba jougou um caminhao cheio de explosivos contra as bases dos Marines ao lado do aeroporto de Beirute, matando 241 soldados. O ataque foi simultaneo ao contra os paraquedistas franceses, que matou 58 soldados. A forca de coalizao deixou o Libano 4 meses depois.

E entao existe a UNIFIL, as forcas de pacificacao da ONU que estao no sul do Libano desde Marco de 1978, alguns dias apos a invasao Israelense. Primeiro UNIFIL era responsavel apenas por observar a saida das forcas Israelenses. Mas como os israelenses nunca sairam, a UNIFIL se viu no meio de um campo de batalha entre guerrilhas palestinas, ao norte, e exercito Israelense com milicias cristas aliadas, ao sul, tendo que controlar toda essa bagunca que depois contou ainda com a entrada do Hezbollah, que em 2000, venceu os Israelenses pelo cansaco, que se retiraram do sul do Libano. A UNIFIL ainda se mantem na fronteira nao oficial entre os dois paises, controlando-a.
Investigadores da ONU denunciam acobertamento de evidencias sobre a morte de Hariri

O correspondente do The Independent no Oriente Medio, Robert Fisk, adiantou em sua coluna de hoje que os investigadores forenses da ONU vao anunciar nos proximos dias que houve acobertamento de evidencias nas investigacoes da morte de Hariri. E vai alem: diz que o relatorio das investigacoes da ONU serah "devastante" e que deve atingir o alto escalao dos governos Sirio e Libanes.

Os tres investigadores, que agora tbm contam com mais 3 especialistas em bombas Suicos, foram enviados ha duas semanas para fazer uma investigacao paralela a das autoridades libanesas, que estavam sendo acusadas constantemente pela oposicao de lentidao e acobertamento dos fatos.

Segundo Fisk, junto (ou antes) do anuncio dos investigadores, o presidente dos EUA, George W. Bush, vira a publico acusar formalmente autoridades Sirias e tambem Libanesas de co-planejamento e execucao do atentado.

Coincidencia ou nao, a noticia chega pouco depois de dois dos filhos de Hariri, Bahar e Saad, terem deixado as pressas o paihs, sob a ameaca de um novo atendado. Tbm vem com uma nova onda de rumores de que o exercito sirio estaria armando milicias Palestinas pro-siria nos campos de refugiados de Chatila, em Beirute, e Ein el-Helwe, em Saida.

Apos a massiça demonstracao de insatisfacao de ontem, a tendencia eh que a tensao aumente ainda mais pois a pressao sobre os governos sirio e libanes vao alcancar niveis maximos. E a possibilidade de conflitos e de um vacuo de poder comecam a preocupar lideres libaneses e autoridades internacionais... Mas isso eh assunto para o proximo topico.

segunda-feira, 14 de março de 2005

UM MAR DE GENTE CLAMA PELA LIBERDADE!

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A multidao desce em procissao pelas ruas de Achrafie em direcao ao centro da cidade

Anote aih: dia 14 de marco de 2005, uma segunda-feira, um da que entra para historia do Libano e do Oriente Medio. Um dia em que o paihs inteiro parou, de norte a sul, com um terco da populacao se reunindo na praca central de Beirute numa manifestacao sem precedentes na historia libanesa e de todo mundo arabe.

Manifestacao essa que comecou muito antes das 15h de hoje, seu horario oficial. Comecou no fim da tarde de ontem quando milhares de carros pararam o transito da cidade com musicas e bandeiras, dando um pequeno sinal do que estaria por vir. Carreatas que foram madrugada a dentro, com muita gente amanhecendo na Praca dos Martires, em frente a mesquita onde Hariri estah enterrado, e onde algumas horas depois iria reunir pelo menos 1 milhao pessoas carregando bandeiras e cantando gritos de liberdade, soberania e independencia, junto ao hino nacional de seu paihs.

A Praca dos Martires foi pequena para o numero imenso de manifestantes, que tiveram que se extender a Praca Riad El-SolaH e as ruas e viadutos que cercam o centro de Beirute. E isso sem contar o enorme numero de pessoas que nao conseguiram chegar ao centro da cidade devido aos engarrafamentos que pararam as ruas beirutanas. Alem da grande maioria formada por cristaos de todo o paihs que vieram em caravana em centenas de onibus e milhares de carros, surpreendeu o grande numero de muculmanos entre os manifestantes, alem eh claro dos druzos tbm em grande numero.

A manifestacao de hoje acontece apos exatos 30 dias da morte de Hariri e uma semana depois da tbm grande manifestacao organizada pelo Hezbollah em apoio a Siria e que fortaleceu o atual governo de Emile Lahoud. Como eu jah disse aqui, a oposicao se sentiu com o orgulho mais do que ferido apohs ver o numero superior de manifestantes da semana passada e tbm de ver o ex-primeiro ministro Omar Karami de volta ao poder. A soma de todos esses fatores levou o paihs a uma mobilizacao popular jamais vista em terras Libanesas.

E mais uma vez mostra que o grande problema da situacao nao eh a Siria e a saida de suas tropas, que jah estao com o rumo de casa, mas sim o governo repressor e manipulado do atual presidente Emile Lahoud, um personagem que com a saida das tropas Sirias vai ser alvo de uma enorme pressao politica e popular nao soh dos libaneses, mas da comunidade internacional.

Os libaneses hoje mostraram realmente o que eh Forca Popular levando as ruas da capital um terco de toda a populacao do paihs num dia que eles estao chamando de "Novo Dia da Independencia". O caminho jah nao tem mais volta... Eh questao de tempo para Lahoud cair do poder e o povo libanes ter finalmente a chance de escolher o seu futuro!
Os erros do Hezbollah

Nas duas ultimas semanas a mudanca de postura do Hezbollah no cenario politico formado no pais apos a morte de Hariri pode custar caro para as pretensoes politicas do Partido de Deus (Hezb=Partido, Allah=Deus) num futuro proximo.

Como jah disse aqui antes, a popularidade do Hezbollah cresceu muito nos ultimos 10 anos, nao soh entre os xiitas mas em todas as etinias e movimentos sectarios libaneses. Muito pelo que os libaneses chamam de "Resistencia", nome dado para a luta travada pela milicia muculmana para "libertar" o sul do Libano da "ameaca de Israel". E desde que Hassan Nasrallah assumiu o controle do grupo, a mudanca de postura do Hezbollah tem sido evidente, investindo muito na sua imagem politica e social, principalmente no sul do paihs e no Vale do Bekaa.

E o maior exemplo da forca do Hezbollah veio nas eleicoes municipais de 2004, quando pela primeira vez teve a oportunidade de concorrer de forma independente.

Esse ponto vale uma explicacao. Ateh o ano passado o Hezbollah era obrigado a concorrer em uma chapa conjunta com o outro partido xiita, o Amal, ateh entao a grande forca politica xiita libanesa. Fundado pelo carismatico lider religioso Musa as-Sadr, o Amal assumiu oficialmente uma postura secularista (sem cunho religioso) em 1979 atraves de Husayn Husayni e conta com a lideranca de Nabih Berri desde 1980.

Jah o Hezbollah insiste em manter sua lideranca nas maos de lideres religiosos desde sua fundacao, em 1982, mantendo o link ideologico do partido com os Aiatolas Iranianos. A fundacao do Hezbollah se deu principalmente por essa decisao do Amal de seguir a linha secularista. Os fundadores do Hezbollah foram os xiitas mais radicais que discordavam da separacao do islam da ideologia do partido.

E, como jah disse, desde o fim da guerra os dois eram obrigados a concorrer numa chapa conjunta nas eleicoes municipais e parlamentares, o que mantia a forca do tradicional Amal (acusado por muitos de corrupcao) e nao deixava o poder popular do Hezbollah deslanchar de vez no paihs. Coisa que foi provada nas eleicoes municipais do ano passado, quando os dois finalmente foram separados e concorreram com candidatos diferentes.

No sul do paihs o Hezbollah emergiu vitorioso em mais de 60% das "prefeituras" (o sistema de municipalidade, diferente do nosso aih no Brasil) enquanto o Amal conseguiu apenas 30%. Jah na parte sul de Beirute e no BeKaa (onde fica Baalbek, o coracao do Hezbollah) a vitoria foi ainda maior: 27 das 30 municipalidades da regiao ficaram nas maos dos seguidores de Nasrallah. E eh evidente que a vitoria esmagadora do Hezbollah sobre o Amal nas eleicoes municipais foi apenas uma previa do que estah por vir nas proximas eleicoes parlamentares.

E o poder e popularidade do Hezbollah nas primeiras duas semanas apohs a morte de Hariri cresceram ainda mais com a postura neutra e moderada de Nasrallah frente toda a situacao, sem apoiar abertamente o governo ou a Siria, recebendo ateh entao impossiveis elogios de muitos lideres da oposicao. Mas nao sei se por medo de perder forcas pela perda do apoio financeiro e armamenticio Sirio, na semana passada o Hezbollah tomou o partido do governo e da Siria, convocando uma enorme manifestacao.

Mesmo que a grande maioria das pessoas que ali estavam nao estavam ali para apoiar a Siria e o governo e sim o Hezbollah e se mostrar contra a intervencao extrangeira, a manifestacao serviu direitinho para as pretensoes do presidente Emile Lahoud de se manter forte no poder do paihs. Num gesto de prepotencia e humilhacao, trouxe de volta o ex-primeiro ministro Karami ao posto que havia renunciado a pouco mais de uma semana, por pressoes da oposicao. Lahoud veio tbm pela primeira vez a publico dar uma entrevista coletiva, onde disse, entre outras coisas, num tom ameacador, que a oposicao estava indo longe demais e que se as manifestacoes continuassem iriam terminar em catastrofe.

O que o Hezbollah nao entedeu eh que a forca popular que eles tem hoje no paihs eh muito mais importante do que o apoio dos frageis, corruptos e autoritarios governos sirio e libanes. Que colocar-se ao lado de Lahoud e Bashar eh fazer exatamente o que os EUA e Israel esperam do Hezbollah, podendo assim taxa-los de "terroristas" e ter uma desculpa a mais para enfraquece-los. E, o pior, eles fecham assim uma porta que estava quase aberta de dialogo com a oposicao, que poderia levar o paihs a uma uniao jamais imaginada nessa partezinha tao tumultuada do mundo arabe.

domingo, 13 de março de 2005

Orgulho ferido

Muita coisa rolou nesses ultimos dias aqui em Beirute e infelizmente (por nao conseguir nem sair da cama) nao foi possivel atualizar o blog. Vou pular maiores detalhes sobre a volta de Karami ao governo e das repercussoes da passeata de terca passada e ir direto ao que estah rolando hoje em Beirute.

O numero brutal de manifestantes na reuniao da ultima terca-feira serviu para muitas coisas, principalmente para fortalecer o governo de Lahoud, que finalmente veio a imprensa falar suas besteiras e trouxe de volta o marionete Karami. Mas serviu tambem para mexer com os brios da oposicao e da comunidade crista libanesa.

Inconformada em ver a derrota da volta de Karami, de ver a multidao da semana passada nas ruas e de estar encarando a possibilidade de uma grande frustracao que seria a continuidade dessse governo e da atual politica manipulada pela Siria, a populacao druza e catolica de todo o paihs estah se mobilizando para o que eles estao chamando de "A Manifestacao" para mostrar "a verdadeira forca" da oposicao. A parte leste de Beirute e os arredores ao norte (de Bourj Hammoud a Jounieh) estao um caos, com o transito parado por carreatas e carros de som, armados com bandeiras do paihs e fotos de lideres e martires cristaos dos tempos de guerra.

Enquanto isso o exercito estah novamente as ruas, observando tudo de longe... Mas os manifestantes nao estao nem aih. Olham para os soldados e buzinam, balancam suas bandeiras... se ha uma coisa bonita disso tudo eh como os libaneses perderam o medo de protestar... de levantar sua voz contra a repressao de um governo que nao aprovam. Eh muito bacana estar acompanhando essa transicao. Quando cheguei, ha quase uma ano atras, as manifestacoes eram estritamente proibidas, com a promessa de hostilidade militar e policial... Lembro-me da primeira manifestacao da oposicao, em novembro do ano passado, em frente ao museu nacional... pouca gente... as pessoas com medo, escondendo suas bandeiras e cartazes dentro dos carros ateh lah chegar. Eh bonito ver a liberdade de expressao vencendo a tirania e repressao.

Mesmo com o presidente Emile Lahoud tentando de todas as formas fazer voltar sua politica do cala boca, ameacando em sua entrevista que "se a oposicao insistir nas manifestacoes, tudo pode terminar em catastrofe", nesse aspecto a oposicao jah venceu uma batalha... E estah claro que apenas uma mudanca farah eles pararem. Pq os oposicionistas mesmo assumem e dizem em voz alta: eh apenas o comeco de um longa guerra contra o governo de Lahoud... Uma guerra que eles esperam conseguir manter pacifica.
NOTA DA AUSENCIA

Desculpa pelo sumico, pessoal, mas uma inflamacao na garganta me tirou de circuito nos ultimos dias.

Ainda hj atualizo aqui as noticias. Forte abraco!

quarta-feira, 9 de março de 2005

PEOPLE POWER!


Multidao caminha em procissao para se juntar aos cerca de 400 mil manifestantes que se reuniram ontem, no centro de Beirute

A CNN disse dezenas de milhares... As fontes governamentais oficiais disseram 1 milhao... Nem um nem outro. Eu diria que foram entre 300 e 400 mil manifestantes que formaram esse mar de gente nas ruas do centro da cidade ontem a tarde. Por mais que a oposicao tente aumentar os numeros de suas manifestacoes, quem estah em Beirute e acompanhando tudo de perto sabe que nao tem nem como comparar com o que aconteceu nesta terca-feira, dia 8 de marco de 2005. Centenas de milhares de pessoas, convocadas pelo Hezbollah, foram ao centro da cidade para mostrar o seu apoio ao Partido de Deus como forca de resistencia libanesa contra a ameaca de Israel e contra qualquer tipo de intervensao extrangeira.


Manifestantes carregam cartazes com mensagens anti-americanas

A imensa maioria era xiita mas muitos sunnitas e cristaos completavam o batalhao... Todos querendo se expressar de alguma forma. Mas alem do numero infinitamente maior de pessoas, outra diferenca marcante foi que, enquanto nas manifestacoes da oposicao o que se via era basicamente a classe media e alta libanesa, ontem era o povao que estava na rua, gritando e balancando as bandeiras. Brandando os mesmos gritos de guerra da oposicao "Liberdade! Soberania! Democracia!"



Realmente essa onda nacionalista tomou conta do paihs. Todos os lados mostram seu orgulho de ser libanes, de cantar o hino, pedir independencia... Mas o que divide o povo nao eh a saida das tropas Sirias e sim o desarmamento do Hezbollah e a intervencao internacional. A manifestacao de ontem nao foi "pro-siria" e sim "pro-Hezbollah e anti-EUA e Israel".


Menina carrega a bandeira do Hezbollah

O que muita gente temia, que era qualquer tipo de violencia ou confronto, nao aconteceu, com a manifestacao pacifica e calma, terminando com um discurso de Hassan Nasrallah.


Tanques e soltados fortemente armados observavam tudo de perto

Agora Beirute volta para a mesma situacao de antes, indefinicao. Mas eu hoje estou numa onda otimista. A manifestacao de ontem mostrou que, se depender do povo libanes, todo esse episodio terminarah bem, com as coisas tomando seu rumo tranquilamente depois da eleicao de maio. Mas como raramente o futuro de um povo ou paihs eh deixado nas maos do seu povo, sempre ha a possibilidade de outra tragedia (como a morte de Hariri) acontecer e levar de vez o paihs ralo abaixo!

terça-feira, 8 de março de 2005

MEDO!



No meu caminho para o trabalho hoje, caminhando pelas ruas desertas do centro de Beirute, sou abordado por um sujeito vestido todo de negro, com um radio comunicador no ouvido e cara de poucos amigos:

_Com licenca, senhor, mas o senhor nao pode passar!
_Como assim nao posso??!!" Eu trabalho ali, do outro lado do quarteirao!
_Me desculpe, senhor, mas o senhor terah que dar a volta... Esta rua estah interditada.
_Interditada por que?! Nao ha nada nela! Nao estou armado ou carregando uma bomba! Soh quero ir trabalhar!
_Me desculpe, senhor, ordens superiores.
_Superiores de quem?
_Do Hezbollah!

Sem argumentos, fui obrigado a dar a volta e soh assim vi o que estava acontecendo. O palanque da manifestacao de hoje em "agradecimento a ajuda Siria" e contra a intervencao internacional estava terminando de ser montado uma rua abaixo, bem em frente ao edificio da ONU. Em volta do nosso predio, dezenas de soldados do exercito libanes armados ateh os dentes montam guarda e impedem qualquer um de passar. Assim como no centro comercial da cidade, interditado pelo exercito desde hoje de manha. Fui obrigado a passar pelo centro para ir a sede do jornal Al-Nahar, que fica no extremo oposto daqui da ONU e fui parado pelo menos umas 10 vezes por soldados me perguntando para onde ia e se nao fosse meu cracha de identificacao teria que ter dado outra volta, ainda maior. Mas o caminho foi interessante, pois tive um acesso ao "backstage" da manifestacao que pouquissimos (ou talvez nenhum) jornalistas terao. Dezenas de caminhoes, jipes e tanques, com metralhadoras carregadas e centenas de soldados do exercito estao prontos para agir a qualquer momento. Agentes do Hezbollah (centenas deles) inspecionam bueiro por bueiro atras de bombas ou surpresas desagradaveis.

Taih uma caracteristica curioso de hoje. Fora a UN House e os predios governamentais, toda a seguranca da manifestacao, num bloco de pelo menos 10 quarteiroes, estah sendo feito por agentes do Hezbollah. Todos vestidos de negro e interligados por radios de comunicacao. Os predios em volta todos com atiradores de elite. Contei uns 10 deles... Nao adianta, estou aqui ha 8 meses e mesmo assim acho que nunca vou me acostumar com essa presenca militar nas ruas de Beirute. Me dao calafrios.

Agora sao quase meio dia e faltam pouco mais de 3 horas para o comeco da manifestacao. O povo jah comeca a se agrupar na Praca Riad Al-Solah, a cerca de 200 metros da mesquita onde Hariri estah enterrado. A decisao de fazer aqui em vez da Praca dos Martires, em frente a mesquita, foi justificada por respeito ao falecido. Mas todo mundo sabe que, alem do respeito, a escolha do local foi para evitar conflitos com membros da oposicao que ali ainda estao acampados.

Medo... apreensao... frio na barriga... Ninguem mais aguenta esse clima de cidade sitiada!

segunda-feira, 7 de março de 2005

Indefinicao sufocante

Tentando nao pensar naquela ditado que fala sobre calmaria, vou vivendo minha vida beirutana num cenario que parece cada vez mais indefinido. Desde a renuncia do fragilissimo primeiro ministro Karami, as coisas se acalmaram e nada mais de concreto aconteceu, criando um clima de apreensao por todos os lados.

Os discursos do fim de semana podem nos ajudar a seguir um caminho, mas que estah longe de ser bem iluminado ou de ter um final proximo. O primeiro discurso veio com Assad, presidente sirio, que declarou que ira seguir o tratado de Taef e retirar suas tropas para o Vale do Bekaa e depois para a regiao da fronteira. Em seguida veio Bush, que nao gostou nada das palavras vagas de Bashar Al-Assad e deixou claro que quer a Siria totalmente fora do Libano, com seu exercito e servico secreto. E depois veio Saied Nazrallah, lider do Hezbollah, convocando uma manifestacao para a proxima terca-feira em apoio a Siria, contra a intervencao internacional e contra Israel. E hoje, uma semana depois da renuncia de Karami, o presidente Emile Lahoud se reune com Assad.

Ninguem realmente acredita que essa saida vai ser assim, tao rapida e simples. Isso eh fato. E a demora do governo para escolher um novo gabinete tbm mostra isso. A oposicao tentou um lobby para derrubar os cabecas do servico secreto libanes, mas ateh agora nao obteve sucesso, com as manifestacoes que vcs veem todos os dias pela CNN sendo chamada de "People Power" se resumindo a adolecentes numa onda hippie, cantando musicas arabes e balancando bandeiras. O libanes, na realidade, nao estah saindo de casa e economizando dinheiro para "uma saida de emergencia". Donos de restaurantes, bares e casas noturnas estao agonizando, pois todos evitam lugares publicos e o risco que eu passei, no sabado, quando estava tranquilo tomando meu cafeh no Starbucks da Praca Sessine quando militantes Sirios passaram atirando.

A verdade eh que todos estao seguros que o Libano estah vivendo um momento historico e que vai passar por mudancas significantes. Mas ao mesmo tempo ninguem sabe ao certo o que estah por vir. Na universidade, rodas de conversas entre professores e alunos de mestrado duram horas, com dezenas de opinioes diferentes mas sem ninguem dar qualquer palpite sobre o que nos reservam as proximas semanas. Especialistas se recusam a dar entrevistas simplesmente porque nao fazem a minimia ideia do que pode acontecer. Ha dias em que pensamos que nada vai acontecer e tudo ira se resolver de forma calma. Ha outros em que nos vemos a beira de um conflito ou de outro atentadado terrosrista contra lideres politicos libaneses. Que agonia!

Os olhos do paihs estarao voltados para esta passeata de amanha. Muita gente aposta em uma adesao massica da maioria xiita que forma o paihs. E muita gente teme atritos com a oposicao. Mais uma vez Beirute vai parar diante de uma manifestacao popular. Basta saber ateh quando elas vao durar tranquilas, sem maiores problemas...
Diarios

Foi no meu caminho por Qalandia, rumando para Jerusalem, que eu tive meu primeiro encontro com O Muro. No bairro de Al-Ram, uma grande sessao da barreira de separacao que Israel comecou a construir em 2003 tinham acabado de subir, apesar de alguns espacos ainda existirem na parte norte do distrito. Vendo a construcao do muro ao norte de Jerusalem entrar na sua fase final, estah claro que 50 mil Palestinos na area proxima a Al-Ram serao inteiramente rodeados por concreto, isolados dos seus visinhos e do resto do mundo. Ali por perto, o muro tbm isolarah 70 mil Palestinos na area de Nabala - povo que jah vive entre sessoes do muro em Al-Ram, leste, e Al-Jib, oeste, e que tem o "posto de fiscalizacao" de Beit Hanina ao sul e o famoso posto de Qalandia ao norte. A esse ponto, para chegar ao lado oeste do muro, tivemos que dirigir por uma minuscula estrada de terra paralela ao muro. Outros Palestino, na grande maioria a peh, tem que fazer o mesmo, correndo o risco de serem atropelados.

No posto de Qalandia, encontramos um engarrafamento enorme de taxis, carros, onibus, vans e caminhoes. Centenas de pessoas amontoadas: mulheres, criancas, homens carregando caixas e maletas, fazendeiros carregando materiais, comerciantes cheios de mercadorias, todos esperando encontrar carros ou onibus ou caminhoes que os levem ateh seu destino final. Ou melhor, ateh o proximo posto de fiscalizacao, onde terao de passar por tudo isso novamente. "Nablus! Nablus! Nablus!" uns motoristas gritam seu destino. "Beit Lahem! Beit Lahem! Beit Lahem!" outros tbm, que rumam a Belem. "Al-Quds! Al-Quds! Al-Quds!" gritam aqueles que vao a Jerusalem. Em algum lugar deste caos encontramos Hani, o motorista que havia combinado de me levar ao proximo estagio da minha jornada. Assim que Hani rumou a Qalqilia, me preocupei com a placa verde de West Bank do seu carro, se ela poderia nos trazer problemas. Os residentes de Jerusalem tem placas amarelas, o que muda completamente o tratamento nos "postos de fiscalizacao" e barreiras, evitando as longas revistas militares. "Ultimamente nao estao tao mal assim" diz Hani. "Ha alguns meses era terrivel; nos nao conseguiamos ir a lugar nenhum, mas ultimamente o exercito relaxou um pouco. Eh assim o tempo todo: eles te torturam ateh vc estar a ponto de morrer, entao relaxam ateh vc sentir apenas uma dorzinha, daih comecam tudo novamente. Ainda existem barreiras e postos, revistas e humilhacoes, mas como na maioria das vezes podemos encontrar um caminho 'alternativo', vamos levando". Estavamos em uma estrada "restrita", que pudemos usar por termos autorizacao escrita do governo, coisa rara de se conseguir.

Os sistemas operacionais dos Acordos de Oslo facilitaram em muito o controle Israelense sobre a vida Palestina. Oslo repartiu os Palestinos de West Bank em o que o acordo chama de Areas A, B e C. A Area A sao as grandes cidades Palestinas, como Nablus e Ramallah, que foram revertidas a um controle nominal dos Palestinos sob o acordo, mas a Area A consiste em apenas 18% de West Bank. Area C, sob total controle de Israel, consiste em 60%, e Area B, com administracao Palestina mas com sob controle militar israelense, forma os outros 22%. As Areas A e B sao completamente separadas uma da outra, transformando-as em ilhas cercadas pela Area C. Oslo deu a Israel uma mao livre sobre a Area C enquanto o Acordo - o que nunca chegou ao fim - fosse concluido. Foi muito por causa disso que a construcao Israelense de colonias e estradas continua se multiplicando durante esse tempo de, digamos, negociacoes. Em 1995 apenas, Israel, contruiu 100km de estradas novas para West Bank: 20% das estradas construidas aquele ano. E quanto mais Israel consolida seu controle pela Area C, mais os Palestinos sao forcados a achar caminhos marginais as estradas que eles sao devidamente proibido de usarem - sao chamadas estradas "esterilizadas".

Durante o caminho Hani me mostrava as estradas de terra e caminhos pedregosos sobres as colinas que os Palestinos sao obrigados a passar para ir de uma vila para a outra, isso porque as cidades Palestinas sao ignoradas na construcao das estradas, que parecem inclusive evita-las. Ha dois sistemas semi-independetes de estradas nesta regiao: a bem elaborada, bem pavimentada e bem sinalizada Israelense e a tortuosa, esburacada, varias vezes interrompida e bloqueada Palestina. E para completar a total separacao dos dois sistemas em West Bank, Israel estah planejando um novo sistema de tuneis e viadutos que linkaria as areas fragmentadas e permitiria aos Israelenses cruzarem todo West Bank em estradas "esterilizadas".

O exercito gosta dessa ideia porque em um futuro proximo seria possivel interromper a comunicacao entre as areas Palestinas com um simples abrir ou fechar de pontes ou tuneis. A coisa toda esta sendo planejada para parecer que faria a vida mais simples para os Palestinos, mas na verdade vai eh simplificar a ocupacao e controle israelense na regiao. Em janeiro de 2004, de acordo com o Escritorio da ONU para Assuntos de Coordenacao Humanitaria (OCHA), hoje exitem 59 "postos de fiscalizacao" fixos isralenses em West Bank, 10 parciais, 479 montes de terra para bloqueio, 75 trincheiras, 100 bloqueios de estradas e 40 portoes fechando estradas, todos planejado para interromper e controlar o trafico de Palestinos.

Todos os Palestinos precisam de permissao para viajar por West Bank (o que nao eh pelo Acordo de Oslo). Conseguir uma permissao requer um procedimento administrativo demorado e dezenas de milhares de pedidos sao negados por uma razao ou outra, na maioria das vezes alegando "riscos de seguranca". A maior parte dos pedidos emitidos sao para pedestres e passageiros de transporte publico. Dos mais de 2 milhoes de Palestinos em West Bank, apnas 3 mil tem permissao de dirigir seus proprios veiculos. O carro de Hani na verdade pertence a empresa que ele trabalha. Em qualquer caso, mesmo com permissao todos sao obrigados a passar pela mesma peregrinacao dos "postos de fiscalizacao" e suas aberturas irregulares.

No caminho a Qalqilia, passamos por cidades palestinas e vilarejos onde as estradas de acesso foram completamente interrompidas ou bloqueadas por montes de terra ou blocos de cimento. Em todos eles haviam carros e vans estacionados ou pessoas esperando. Jah as colonias judias sao bem diferentes. Sempre no alto das colinas, cercadas de grades, casas em formatos de chales, arvores e jardins, oferecendo um contraste visual radical com as comunidades que as rodeiam. Todos contam com estradas bem pavimentadas.

Qalqilia tem uma populacao de 60 mil e eh a maior cidade agricola, cercade de campos verdes, pomares, plantacoes e oliveiras. Como qualquer outra grande cidade palestina, eh um centro comercial e administrativo para os vilarejos em volta, que formam uma populacao de 40 a 50 mil mais. Como Qalqilia estah ao lado da chamada Linha Verde que existe supostamente para separar West Bank de Israel - uma fronteira que estah sendo feita atraves de um muro que em 90% da sua extensao estah sendo construido a leste da Linha Verde, roubando terras de West Bank - antigamente era possivel para os Palestinos das cidades vizinhas irem ateh lah para o mercado ou para encontrar seus amigos e familiares. A barreira de separacao estah destruindo um complexo historico, comercial, agricultural, social, cultural e de relacoes familiares. Apesar da desculpa do muro ser uma "cerca de seguranca", eh obvio que o verdadeiro objetivo da barreira eh absorver o quanto mais de terras e o quanto menos de Palestinos possivel, adquirindo um territorio de facil coneccao - e de fato jah anexados - a Israel. E em nenhum outro lugar estah mais claro do que na regiao fertil e bem irrigada de Qalqilia. Ao norte da cidade, o muro absorve cerca de 6 mil acres de terras produzidas, fazendas cheias de hortas e plantacoes. Qalqilia hj eh formada apenas pela parte oeste da peninsula territorial criada pelo muro.

Qalqilia e Tulkarem, ao norte, assim como 20 e poucas outras cidades e vilarejos na mesma area, agora se encontram separadas de suas terras de cultivo pela rede de concreto, cercas eletricas, radares e soldados que formam o muro isralense. Ainda pior estao seis ou sete cidades Palestinas entre a Linha Verde e o Muro. Isso apenas nos arredores de Qalqilia, pq ha muitos casos mais por toda a extensao do Muro.

Em Outubro de 2003, pouco depois do muro comecar a subir, o exercito declarou que a terra entre a barreira e a Linha vermelha sao "area militar". A declaracao explicita que ninguem pode entrar na area senao cidadaos Israeleses ou qualquer outro aplicavel a Lei Basica de Retorno Israelense (que eh qualquer um que seja judeu de qualquer parte do mundo). Ninguem, nesse caso, quer dizer os Palestinos, donos da terra, que estao prestes a verem esta ser tirada a forca deles.

Os moradores das vilas na "are militar" tem que efetuar um "pedido de residencia permanete" atraves do exercito. Como o nome diz, eh mais ou menos o Green Card oferecido pelos EUA, com a diferenca basica de que os que estao sendo obrigados a efetuar o pedido apenas querem continuar vivendo onde nasceram. E o pedido pode ser negado ou cancelado a qualquer momento, resultando numa expulsao sumaria e sem compensasao das suas proprias terras pelo estado de Israel.

Na Regiao de Qalqilia, alguns milhares de Palestinos tiveram que tirar a "permissao de residencia permanente". Quando o muro estiver completo, no entado, mais CEM MIL Palestinos vao precisar dela. E mais dezenas de milhares se verao isolados e sem acesso ao trabalho, escolas e hospitais (um terco dos vilarejos de West Bank terao problemas para chegar a hospitais quando o muro estiver completo - 26 clinicas jah foram isoladas e o numero vai subir para 71 quando terminar).

Os Palestinos que vivem fora da "area militar", separados das suas terras de cultivo dentro dela, nao estao muito melhor. Os fazendeiros de Qalqilia, Jaius e vilarejos da regiao que quiserem cultivar suas terras do outro lado da barreira terao que obter uma permissao das forcas de ocupacao. Os militares Israelense estipulam uma duzia de diferentes tipos de registros que os fazendeiros Palestinos tem que fazer para poder cultivar nas suas proprias terras. Claro que, para conseguir esses registros e permissoes, vai aih uma complexa jornada burocratica e administrativa que leva muito tempo. E se houver qualquer tipo de erro no registro das terras ou se o dono original jah tiver morrido ou se mudado para outro paihs ou se houver qualquer tipo de questao sobre heranca ou realocacao da terra entre familias ou questoes nos documentos de vendas ou titulos (o que eh muito normal no Oriente Medio jah que em muitas vezes os documentos e terras tiveram que passar por quatro administracoes diferentes - Otomanos, Ingleses, Jordanos e Israelenses) o pedido serah sumariamente negado. Muitas das terras, nao soh em West Bank mas em todo o Oriente Medio, nunca foram registradas formalmente em sistemas governamentais burocraticos e sao mantidas informalmente, de pai pra filho ou por uso coletivo de uma comunidade, num sistema respeitado e compreendido por todos.

Para lidar com esse problema, Israel buscou uma lei Otomana de 1858 e, interpretando como bem entende, declarou muitas dessas terras Palestinas como "propriedade do governo", ou classificando-as como "terra improdutiva", automaticamente transferindo-as para o governo. O grande problema eh que o Imperio Otomano acabou com o Tratado de Sevres e nunca assinou a Carta da ONU na Convensao de Genebra - ambos que contem regras sobre terras ocupadas - coisa que Israel o fez. De qualquer maneira, enquanto os assuntos legais ficam pendentes, as terras ferteis da Palestina vao cair no desuso, abandonadas. Foi a tatica da Lei Otomana a usada por Israel sempre que quiseram desapropriar territorio Palestino.

Ateh agora, um quarto dos pedidos de permissao para ter acesso as terras nas areas entre o Muro e a Linha Verde foram rejeitadas pelas autoridades israelenses. E os que conseguiram a permissao mal conseguem chegar as terras, tendo que andar dezenas de quilometros e passar por barreiras e postos militares. Na area entre Qalqilia e Tulkarem, por exemplo, existem 12 portoes, quatro deles que nunca sao abertos para fazendeiros, enquanto outros tres estao destinados para assuntos que nao agricultura. Isso nos deixa cinco outros portoes. E o mais proximo da parte norte de Qalqilia eh o que nunca estah aberto. Ou seja, qualquer fazendeiro que antes estava a poucos metros de sua terra de cultivo agora tem que pegar a estrada a leste (que agora estah aberta, mas pode ser fechada novamente a qualquer momento), passar por postos e barreiras e andar o caminho todo novamente ateh chegar as suas terras... Ou melhor... ateh chegar ao portao mais proximo e passar por tudo novamente.

Durante os meses que se seguiram apos o sistema de permissoes foi posto em pratica, fazendeiros tiveram que esperar longos periodos ateh conseguirem-na. No comeco da temporada de colheita de azeitonas de 2003, os portoes nao foram abertos de forma alguma por semanas a fio, em punicao coletiva a um atentado a bomba em Haifa. Seguido de apelacoes e mais apelacoes a suprema corte Israelense, a maioria dos portoes, ou melhos, a maioria dos CINCO portoes para fazendeiros agora opera mais ou menos com um calendario fixo, abrindo 3 vezes ao dia, por meia hora. Mas esse eh apenas o comeco dos problemas. Eles sempre sao proibidos de passar com seus tratores pelos portoes e, em tempos de cultivo e colheita, nao sao autorizados a levar mais trabalhadores com eles para ajudar na lavoura. E levando em conta o numero de milagres que os fazendeiros precisam para chegar a uma colheita, ele ainda precisa fazer com que sua producao chegue ao mercado, o que envolve encontrar um portao aberto, passar sua colheita por ele em apenas meia hora, negociar a passagem nos bloqueios, conseguir uma permissao de transporte, esperar nos postos de fiscalizacao por hora ou ateh dias.

A oeste de Qalqilia, o muro de concreto chega a 7 metros de altura. Ao norte e ao sul, a estrada que levava os fazendeiros a suas fazendas estah agora interrompida com montes de terra, blocos de concreto, um muro de metal, arame farpado, cerca eletrica, mais arame farpado, cinquenta metros de estrada e aih, depois, tudo de novo. Tudo isso eh protegido por uma torre fortificada imensa, onde a bandeira de Israel balanca com o vento. Isso tudo que hoje estah contruido um dia foi um campo de cultivo, cheio de arvores e oliveiras, cortados para dar lugar as fortificacoes e para nao cobrir o campo visual da guarda. E o estrago nao fica soh aih. Uma devastacao de 200 metros de largura por 8 km de extensao para uma cidade do tamanho de Qalqilia eh mais do que essa pobre comunidade pode aguentar.

Alguns veem as negociacoes entre os novos lideres Pelestinos e o governo Israelense com otimismo. Negociacoes anteriores, comecando por Oslo, serviram apenas para consolidar o controle sobre West Bank, Gasa e Jerusalem, fazendo a vida ainda mais dificil para os Palestinos. Da mesma forma que alguns viam a morte de Arafat como um tempo de esperanca, mas foram surpreendidos em Jaius, perto de Qalqilia, com a noticia de que mais de suas terras seria desapropriadas para que fosse possivel a expansao da colonia Isralense de Zufim, entre o Muro e a Linha Verde. Suas oliveiras foram exterminadas em dezembro. Talves um otimismo cego, que nao ve a realidade que os cerca, seja melhor do que uma total perda da esperanca.

(Por Saree Makdisi, professor da UCLA. Ele estah terminando de escrever um livro chamado "Palestine without a Road Map". Traducao: Fernando Kallas)

sábado, 5 de março de 2005

RETIRADA PACIFICA?

Pouco mais de uma hora apos o presidente Sirio, Bassar Al Assad, assunciar (mais uma vez?) que as tropas militares em seu comando serao reposicionadas para as areas proximas a fronteira, vivenciei uma cena de terror no coracao de Achrafie, o principal bairro catolico de Beirute.

Dezenas de jovens estavam reunidos na Praca Sessine, centro de Achrafie, quando um automovel com 3 ou 4 homens (na correria eu vi apenas um carro, mas na verdade foi um comboio de 3 ou 4), armados e carregando fotos de Assad passaram atirando para o alto. Houve correria e panico mas ninguem ficou ferido.

O anuncio de Bashar foi feito num discurso para o Parlamento Sirio agora a pouco. Apesar de nao ter deixado claro em quanto tempo ou o que seriam as regioes "proximas a fronteiras", foi a primeira vez em que ele falou mais objetivamente sobre retirada das tropas, seguido de uma declaracao do presidente Lahoud dizendo o mesmo.

O incidente que acabei de presenciar foi o primeiro ato de violencia e repressao contra manifestantes desde a morte de Hariri.

quinta-feira, 3 de março de 2005

Hezbollah dah exemplo de moderacao



Quem diria que um dia o Hezbolah seria um exemplo de moderacao para as partes politicas libanesas. Parece ateh piada, mas eh o que vem acontecendo desde o assassinato de Hariri. Sendo mais preciso, eh o que vem acontecendo publicamente, pq jah faz um tempinho que o Partido de Deus vem tendo um papel importantissimo na estabilidade do paihs, com uma postura politica exemplar, aproximando cada vez mais os xiitas das demais representacoes do paihs e ganhando tbm muito respeito de todas as partes da sociedade libanesa, arabe e tbm europeia.

Eu jah disse aqui que Hariri nao era nenhum santinho ou heroi nacional, mas seu papel de moderador nessa aproximacao de sunnitas e xiitas estava sendo fundamental. Ha alguns meses antes de sua morte, Hariri vinha se reunindo regularmente com Xeique Said Nasrallah, o cabeca da organizacao, porque percebeu que a unidade nacional era o que faltava para a economia libanesa estabilizar-se. Desde a morte de Hariri, Nazrallah vem mostrando-se o grande lider dos xiitas na regiao, mantendo-os sob controle com decisoes e daclaracoes bastante moderadas, mas ao mesmo tempo mantendo as ideologias do partido e protegendo sua causa, a protecao do paihs contra a "ameaca israelense". Esse eh um dos fortes motivos pelos quais Hariri vinha sendo um perigo cada vez maior para as pretensoes america/israelenses na regiao, ele estava aproximando o Hezbollah forte e moderado da sociedade arabe e europeia. Harir era um dos principais responsaveis pela recusa dos paises europeus em incluir o Hezbollah na lista de organizacoes terroristas, um pedido constante de Israel e EUA.

Ontem numa reuniao extraordinaria de cupula, os lideres xiitas do paihs discutiram a sucessao governamental e clamaram por uma unidade nacional, dizendo que a resolucao 1559 da ONU acabou desestabilizando ainda mais o paihs e causando discordia entre o povo libanes. Para eles, a resolucao nao substitue o Acordo de Taef, que segundo os lideres xiitas "eh um acordo de paz e unidade".

E muitos lideres da oposicao jah apostam no Hezbollah como mediador entre os oposicionistas libaneses e o governo Sirio, na negociacao da retirada das tropas vizinhas do paihs. "Nos jah dissemos que queremos contato direto com o governo sirio e acreditamos que Nasrallah eh o homem ideal para essas negociacoes." disse o lider de oposicao Ghazi Aridi, apohs se reunir com o cabeca do partido xiita. "Nos temos confianca total em Nasrallah e serah atraves deles que falaremos com os oficiais sirios para que tudo isso chegue ao fim", complementou Aridi.

Nasrallah vem dizendo em suas declaracoes que o mais importante agora eh a unidade nacional e que as recentes demonstracoes de uniao da populacao nas ruas eh o maior exemplo de que o Libano nao precisa de intervencoes externas para resolver seus proprios problemas. Nos ultimos dias diversos analistas garantem que todos esses fatores juntos farao que o Hezbollah se mantenha forte, senao ainda mais poderoso, mesmo com a saida das tropas sirias, principalmente nas proximas eleicoes parlamentares, em maio, onde muitos esperam ver o Partido de Deus com mais do que as atuais 12 cadeiras no parlamento.

"'Siria fora' nao significa 'Israel dentro'. A resitencia nao ira parar enquanto existir a ameaca israelense" garantem os lideres do Hezbollah.
Dezessete dias de sofrimento e um final tragico

Ontem foi encontrado o corpo de mais uma vitima da explosao que matou o ex-primeiro ministro Hafik Hariri.

Mas a descoberta soh foi possivel depois de muita revolta e sofrimento da familia, que ha dias clamava as autoridades que procuressem ou que os deixassem entrar no local da explosao (que hj estah isolado) para procurar pelo corpo desse chefe de familia aposentado, que costumava caminhar pela orla todos os dias naquele horario. Como ele havia desaparecido exatamente na mesma tarde da explosao, a familia supos que ele estava entre as vitimas.

Exausta da indiferenca das autoridades publicas, ontem juntaram uma pequena multidao e invadiu a forca o local, encontrando em pouco menos de meia hora o corpo do senhor. Ele foi encontrado enterrado nos escombros, sem maiores ferimentos. Morreu asficciado, sem a ajuda do resgate. E o mais impressionante, foi encontrado com o celular na mao... morreu tentando pedir ajuda...

quarta-feira, 2 de março de 2005

A NATA! FURA TODA A MIDIA INTERNACIONAL!

Acaba de terminar a tao esperada reuniao da oposicao e, assim como eu reportei aqui ontem a noite, antes de todos os meios de comunicacao internacionais, a oposicao oficializou a exigencia da renuncia de toda a cupula do servico secreto libanes.

Seja nas ruas ou nos corredores do poder, vou continuar tentando trazer sempre os fatos em primeira mao, com uma cobertura analitica independente e fiel ao que realmente acontece aqui em Beirute.

Fique ligado!
Investigadores da ONU a caminho do Libano

Um grupo de investigadores forenses e de especialistas em explosivos da ONU estao rumando para Beirute para se intensificar as investigacoes do atentado que matou o ex-primeiro ministro Hafik Hariri. A noticia coincide com as acusacoes cada vez mais pesadas da oposicao contra os chefes do servico secreto libanes de acobertar infomacoes importantes sobre o atentado.

Muita coisa se fala sobre a explosao que matou Hariri e quase 20 pessoas, deixando centenas de feridos, mas pouco de concreto. Porem, fontes ligadas ao governo comecam a dar algumas pistas do que realmente teria acontecido.

Tudo indica que nao foi um carro bomba e sim que os explosivos estavam escondidos estrategicamente nas tubulacoes que passam em baixo da avenida. Cerca de 300 quilos de TNT foram colocados, para dar potencia suficiente para explodir o asfalto e aniquilar todo o comboio de 10 veiculos blindados do ex-primeiro ministro. Tbm se sabe que o dispositivo foi detonado via cabos e nao controle remoto, jah que Hariri contava com um sistema avancadissimo de interceptacao e desarme de dispositivos eletronicos... Quem detonou a bomba estava perto de onde tudo aconteceu. Isso tudo mostra que, apesar de muito bem planejado e com bastante antecedencia, o artefato foi de tecnologia muito simples... a moda antiga, diferente das primeiras especulacoes de que teria sido uma tecnologia de outro planeta, etc e tal. O diferencial estah na quantidade de explosivos, que foi brutal e fez chacoalhar a terra de toda a capital.

Enquanto isso, o presidente Sirio, Bashar al-Assad, deu uma entrevista a revista Time dizendo mais uma vez que a retirada das tropas nao deve demorar mais do que 6 meses. E desde aqui de Beirute, o porta voz do governo disse que o presidente Emile Lahoud garante que em 48 horas havera o canditado a primeiro ministro para substituir Karami, que renunciou segunda a noite. Como manda a tradicao sectaria Libanesa, o primeiro ministro deve ser Sunita, enquanto o presidente Maronita e o lider do parlamento xiita.

Falando para a Aljazira, o lider druzo de oposicao Walid Jumblat mais uma vez clamou pela renuncia de Lahoud, dizendo que apenas com ela o Libano pode realmente comecar uma nova era. E acrecentou: "Eh pelo menos a 5a. vez que escuto o presidente sirio dizer que estah retirando as tropas do Libano. Nos nao aceitaremos mais fazer papeis de bobos!"

Agora eh esperar pelo nome do novo primeiro ministro e por novas manifestacoes, que nao devem parar enquanto Lahoud estiver no poder e as tropas sirias em territorio libanes.

terça-feira, 1 de março de 2005

E agora?

Essa eh a pergunta que nao quer calar por aqui... O que vai acontecer agora, depois da renunica do primeiro ministro Karami. Apesar de hoje ter sido um dia mais tranquilo, num clima meio que de ressaca pelas comemoracoes de ontem, a oposicao deixa bem claro que eh apenas o comeco de uma grande revolucao politica no paihs.

Hj estivemos eu e o Paulo Cabral, da BBC, conversando com alguns lideres da oposicao, pra saber quais sao os planos para os proximos dias. Centenas de manifestantes jah passam de 48 horas acampados na Praca dos Martires, centro da capital, protestando contra a ocupacao Siria no paihs. Na sua grande maioria, sao jovens, de caras pintadas e bandeiras libanesas, entoando hinos e cantos patrioticos. Numa onda patriotica que lembra muito o movimento que provocou a queda do Collor, a oposicao liderada por druzos e cristaos insistem em dizer que a disconfianca de uma quebra do grupo eh improvavel neste momento, assim como a volta da guerra civil.

"Nao ha nenhuma chance do Libano voltar aos tempos de guerra civil. Estamos unidos neste momento. De leste a oeste os libaneses sao um soh, clamando pela independencia do paihs" declarou Elias Aattala, um dos lideres da Alianca Democratica, uma das correntes de oposicao druza. Marc Zabbal, da lideranca juvenil do Movimento Patriota Livre - FPM, partido catolico ligado ao ex-primeiro ministro Michel Aon, tbm garante que a a uniao eh fundamental neste momento e que os protestos nao vao parar por aqui.

"Porem temos que tomar medidas eficientes e que, ao mesmo tempo, nao prejudiquem a economia do paihs. Nao podemos simplesmente convocar uma greve geral de 5 dias e ameacar ainda mais a estabilidade libanesa." disse Marc, lembrando que os protestos nao vao parar ateh que toda a cupula do governo ligada a siria renuncie.

Na verdade o proximo passo da oposicao eh exigir a renuncia do comando do servico de inteligencia do exercito, sob a acusacao de acobertar os fatos e investigacoes do atentado que matou Hariri. Os tres nomes que estao na forca sao de Jamil Al Said, chefe de seguranca nacional, General Raymond Azal, chefe do servico secreto, e Eduard Mansour, tbm da cupula da seguranca nacional.

Enquanto isso o governo continua sem se manisfestar, se limitando a dizer que o presidente Lahoud vai nos proximos dias consultar o parlamento para decidir qual serah a formacao do governo tampao que ficara no poder ateh as eleicoes de maio.

Beirute estah cheia de correspondentes estrangeiros e o clima de tensao ainda eh visivel nas ruas, com a indefinicao da situacao politica do paihs e da uniao da oposicao, assim como a posicao dos partidos xiitas que continuam sem muito se manifestar. O que se sabe eh que, a renuncia do primeiro ministro nao vai acalmar os animos oposicionistas, que tem em seu alvo o presidente Lahoud... E enquanto Lahoud estiver no poder, os protestos vao continuar a falar cada vez mais alto.