terça-feira, 8 de março de 2005

MEDO!



No meu caminho para o trabalho hoje, caminhando pelas ruas desertas do centro de Beirute, sou abordado por um sujeito vestido todo de negro, com um radio comunicador no ouvido e cara de poucos amigos:

_Com licenca, senhor, mas o senhor nao pode passar!
_Como assim nao posso??!!" Eu trabalho ali, do outro lado do quarteirao!
_Me desculpe, senhor, mas o senhor terah que dar a volta... Esta rua estah interditada.
_Interditada por que?! Nao ha nada nela! Nao estou armado ou carregando uma bomba! Soh quero ir trabalhar!
_Me desculpe, senhor, ordens superiores.
_Superiores de quem?
_Do Hezbollah!

Sem argumentos, fui obrigado a dar a volta e soh assim vi o que estava acontecendo. O palanque da manifestacao de hoje em "agradecimento a ajuda Siria" e contra a intervencao internacional estava terminando de ser montado uma rua abaixo, bem em frente ao edificio da ONU. Em volta do nosso predio, dezenas de soldados do exercito libanes armados ateh os dentes montam guarda e impedem qualquer um de passar. Assim como no centro comercial da cidade, interditado pelo exercito desde hoje de manha. Fui obrigado a passar pelo centro para ir a sede do jornal Al-Nahar, que fica no extremo oposto daqui da ONU e fui parado pelo menos umas 10 vezes por soldados me perguntando para onde ia e se nao fosse meu cracha de identificacao teria que ter dado outra volta, ainda maior. Mas o caminho foi interessante, pois tive um acesso ao "backstage" da manifestacao que pouquissimos (ou talvez nenhum) jornalistas terao. Dezenas de caminhoes, jipes e tanques, com metralhadoras carregadas e centenas de soldados do exercito estao prontos para agir a qualquer momento. Agentes do Hezbollah (centenas deles) inspecionam bueiro por bueiro atras de bombas ou surpresas desagradaveis.

Taih uma caracteristica curioso de hoje. Fora a UN House e os predios governamentais, toda a seguranca da manifestacao, num bloco de pelo menos 10 quarteiroes, estah sendo feito por agentes do Hezbollah. Todos vestidos de negro e interligados por radios de comunicacao. Os predios em volta todos com atiradores de elite. Contei uns 10 deles... Nao adianta, estou aqui ha 8 meses e mesmo assim acho que nunca vou me acostumar com essa presenca militar nas ruas de Beirute. Me dao calafrios.

Agora sao quase meio dia e faltam pouco mais de 3 horas para o comeco da manifestacao. O povo jah comeca a se agrupar na Praca Riad Al-Solah, a cerca de 200 metros da mesquita onde Hariri estah enterrado. A decisao de fazer aqui em vez da Praca dos Martires, em frente a mesquita, foi justificada por respeito ao falecido. Mas todo mundo sabe que, alem do respeito, a escolha do local foi para evitar conflitos com membros da oposicao que ali ainda estao acampados.

Medo... apreensao... frio na barriga... Ninguem mais aguenta esse clima de cidade sitiada!

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