segunda-feira, 14 de março de 2005

Os erros do Hezbollah

Nas duas ultimas semanas a mudanca de postura do Hezbollah no cenario politico formado no pais apos a morte de Hariri pode custar caro para as pretensoes politicas do Partido de Deus (Hezb=Partido, Allah=Deus) num futuro proximo.

Como jah disse aqui antes, a popularidade do Hezbollah cresceu muito nos ultimos 10 anos, nao soh entre os xiitas mas em todas as etinias e movimentos sectarios libaneses. Muito pelo que os libaneses chamam de "Resistencia", nome dado para a luta travada pela milicia muculmana para "libertar" o sul do Libano da "ameaca de Israel". E desde que Hassan Nasrallah assumiu o controle do grupo, a mudanca de postura do Hezbollah tem sido evidente, investindo muito na sua imagem politica e social, principalmente no sul do paihs e no Vale do Bekaa.

E o maior exemplo da forca do Hezbollah veio nas eleicoes municipais de 2004, quando pela primeira vez teve a oportunidade de concorrer de forma independente.

Esse ponto vale uma explicacao. Ateh o ano passado o Hezbollah era obrigado a concorrer em uma chapa conjunta com o outro partido xiita, o Amal, ateh entao a grande forca politica xiita libanesa. Fundado pelo carismatico lider religioso Musa as-Sadr, o Amal assumiu oficialmente uma postura secularista (sem cunho religioso) em 1979 atraves de Husayn Husayni e conta com a lideranca de Nabih Berri desde 1980.

Jah o Hezbollah insiste em manter sua lideranca nas maos de lideres religiosos desde sua fundacao, em 1982, mantendo o link ideologico do partido com os Aiatolas Iranianos. A fundacao do Hezbollah se deu principalmente por essa decisao do Amal de seguir a linha secularista. Os fundadores do Hezbollah foram os xiitas mais radicais que discordavam da separacao do islam da ideologia do partido.

E, como jah disse, desde o fim da guerra os dois eram obrigados a concorrer numa chapa conjunta nas eleicoes municipais e parlamentares, o que mantia a forca do tradicional Amal (acusado por muitos de corrupcao) e nao deixava o poder popular do Hezbollah deslanchar de vez no paihs. Coisa que foi provada nas eleicoes municipais do ano passado, quando os dois finalmente foram separados e concorreram com candidatos diferentes.

No sul do paihs o Hezbollah emergiu vitorioso em mais de 60% das "prefeituras" (o sistema de municipalidade, diferente do nosso aih no Brasil) enquanto o Amal conseguiu apenas 30%. Jah na parte sul de Beirute e no BeKaa (onde fica Baalbek, o coracao do Hezbollah) a vitoria foi ainda maior: 27 das 30 municipalidades da regiao ficaram nas maos dos seguidores de Nasrallah. E eh evidente que a vitoria esmagadora do Hezbollah sobre o Amal nas eleicoes municipais foi apenas uma previa do que estah por vir nas proximas eleicoes parlamentares.

E o poder e popularidade do Hezbollah nas primeiras duas semanas apohs a morte de Hariri cresceram ainda mais com a postura neutra e moderada de Nasrallah frente toda a situacao, sem apoiar abertamente o governo ou a Siria, recebendo ateh entao impossiveis elogios de muitos lideres da oposicao. Mas nao sei se por medo de perder forcas pela perda do apoio financeiro e armamenticio Sirio, na semana passada o Hezbollah tomou o partido do governo e da Siria, convocando uma enorme manifestacao.

Mesmo que a grande maioria das pessoas que ali estavam nao estavam ali para apoiar a Siria e o governo e sim o Hezbollah e se mostrar contra a intervencao extrangeira, a manifestacao serviu direitinho para as pretensoes do presidente Emile Lahoud de se manter forte no poder do paihs. Num gesto de prepotencia e humilhacao, trouxe de volta o ex-primeiro ministro Karami ao posto que havia renunciado a pouco mais de uma semana, por pressoes da oposicao. Lahoud veio tbm pela primeira vez a publico dar uma entrevista coletiva, onde disse, entre outras coisas, num tom ameacador, que a oposicao estava indo longe demais e que se as manifestacoes continuassem iriam terminar em catastrofe.

O que o Hezbollah nao entedeu eh que a forca popular que eles tem hoje no paihs eh muito mais importante do que o apoio dos frageis, corruptos e autoritarios governos sirio e libanes. Que colocar-se ao lado de Lahoud e Bashar eh fazer exatamente o que os EUA e Israel esperam do Hezbollah, podendo assim taxa-los de "terroristas" e ter uma desculpa a mais para enfraquece-los. E, o pior, eles fecham assim uma porta que estava quase aberta de dialogo com a oposicao, que poderia levar o paihs a uma uniao jamais imaginada nessa partezinha tao tumultuada do mundo arabe.

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